Leão faz terapia em pleno relvado
O Sporting puxou o travão de mão a fundo e conseguiu travar a queda vertiginosa das últimas semanas, com uma vitória sofrida sobre o Boavista, em Alvalade, que lhe permite segurar o primeiro lugar por, pelo menos, mais cinco dias, mas não conseguiu afastar uma imagem de uma equipa bipolar, que tanto se impõe com soberania diante do adversário, como também adormece e autoflagela-se diante dos seus adeptos. Foi, assim, um jogo de emoções, fortes, com os leões a adiantarem por três vezes no marcador, mas a permitirem aos axadrezados também empatarem o jogo por duas vezes e a sofrerem até ao último suspiro do jogo. Quem esteve esta noite em Alvalade, regressou certamente a casa com as pulsações elevadas.
Um Sporting ainda claramente traumatizado pelos sucessivos desaires que marcaram as últimas semanas. Um leão que entrou determinado a afastar fantasmas, com o melhor futebol da era de João Pereira, mas que depois também permite quase tudo ao adversário. Um leão de duas faces que, mais uma vez, obrigou os adeptos a sofrer até ao fim, mas, desta vez, com um final feliz.
João Pereira queixou-se, antes do jogo, que tudo acontece à sua equipa, ora bem, mesmo antes de começar, mais uma contrariedade para o treinador, com uma gripe a deixar St. Juste fora de jogo. Recuperou Eduardo Quaresma e o treinador repetiu praticamente o mesmo onze que elegeu na Bélgica, trocando apenas Diomande por Debast. De resto tudo igual, até na forma como os leões entraram no jogo.
Uma entrada de leão, com o Sporting com um bloco bem subido, a obrigar o Boavista a recuar em toda a linha para o interior da sua área, deixando apenas Bozenik sobre a linha do meio-campo. Um jogo de sentido único, com a equipa de Alvalade, com um futebol curto e apoiado, a improvisar espaços na congestionada área do Boavista. Geny Catamo e Trincão abriam caminhos pela direita, Maxi Araújo e Geovany Quenda faziam o mesmo do lado contrário e as oportunidades multiplicaram-se na área de César.
O Boavista não conseguia sair do sufoco e limitava-se a afastar bolas da sua área, para logo a seguir tentar travar nova invasão dos insaciáveis leões que, com um futebol tricotado, iam abrindo caminhos para a baliza de César. Depois de oportunidades de Gyökeres, Geny Catamos e Maxi Araújo, o primeiro golo chegou, aos 23 minutos, na sequência de um erro tremendo do Boavista. Quando procurava sair a jogar, Pedro Gomes atrasou a bola para César, mas Gyökeres ganhou a bola, ultrapassou o guarda-redes do Boavista e atirou a contar. Foi o primeiro golo de bola corrida do sueco desde que João Pereira assumiu o comando da equipa.
A equipa juntou-se toda junto à linha de fundo, num abraço coletivo que dá bem conta do estado de espírito da equipa. Nos minutos seguintes, o Sporting podia ter resolvido o jogo, com mais uma série de oportunidades flagrantes, com destaque para mais uma perdida de Gyökeres, mas a verdade é que, nesta altura, os leões já tinham abrandado o ritmo de jogo e o Boavista já tinha ensaiado as primeiras incursões para lá da linha do meio-campo.
Foi neste quadro, já muito perto do intervalo, que o Boavista gelou Alvalade, num lance simples, com a defesa do Sporting completamente a dormir. Bruno Onyemaechi abre na direita para Salvador Agra que, sem oposição, cruza para o coração da área onde surgiu Bozenik a gelar Alvalade com uma cabeçada. Fez-se silêncio em Alvalade. Uma equipa que parecia curada de todos os males, volta a mostrar os mesmos sintomas que a têm flagelado desde a saída de Rúben Amorim.
A segunda parte começou como tinha começado a primeira, com o Sporting a impor um ritmo elevado e o Boavista, mais uma vez, totalmente recuado na defesa da sua área. Os leões bateram, bateram, bateram e acabaram por recuperar a vantagem, num lance que começa e acaba em Francisco Trincão, numa combinação com Maxi Araújo que quase deitou estádio abaixo. A vantagem estava recuperada e João Pereira esta, agora, mais ativo do que nunca, de pé, a não permitir que a equipa voltasse a adormecer.
A equipa procurou manter o mesmo ritmo, mas num lance de bola parada, acabou por voltar a sofrer. Num livre marcado por Seba Pérez, a bola sobrou para o lado esquerdo onde surgiu o nigeriano Bruno Onyemaechi, sem qualquer marcação, a encher o pé para novo empate. Franco Israel ainda deu a ideia que ia chegar à bola, mas esta escapou por baixo do corpo. Fez-se um silêncio tremendo em Alvalade. Com este golo, mais de metade dos golos consentidos pelos leões esta época na Liga, foram concedidos na era João Pereira, isto é, nos últimos três jogos.
Parecia sina, cada vez que marcava, o leão acabava por sofrer. O Sporting, no entanto, não baixou os braços, voltou a subir linhas. Gyökeres esteve perto de marcar, num livre direto, defendido por César, mas a verdade é que o sueco acabou por ser determinante no terceiro golo, aos 66 minutos, com uma investida pelo lado esquerdo que permitiu a Francisco Trincão bisar no jogo.
O Sporting chegava à vantagem, pela terceira vez, neste jogo e, tal como aconteceu nos dois primeiros, voltou a passar por momentos de intenso sofrimento, com o Boavista a ameaçar novo empate. Sentia-se uma enorme tensão em todo o estádio, desde o relvado até à bancadas. João Pereira foi tentando manter o equilíbrio, com as entradas de Diomande e do jovem médio Henrique Arreiol, mas o Boavista manteve o resultado em aberto até ao último suspiro e os adeptos só respiraram de alívio depois do último apito de Fábio Veríssimo.
O Sporting regressa, assim, às vitórias, depois de quatro desaires sucessivos, e garante a liderança no topo da classificação por, pelo menos, mais cinco dias, até o Benfica acertar o calendário, com uma visita à Choupana, na próxima quinta-feira.