Desp. Aves: Sindicato exige pagamento de salários até ao final do dia

2 abr 2020, 11:25
Des. Aves-Paços Ferreira

Jogadores têm três meses de ordenado em atraso e já houve «rescisões por justa causa» e atletas a pedirem ajuda ao fundo de garantia salarial

O pagamento dos salários em atraso dos plantéis principal e sub-23 do Desportivo das Aves ficou sem ponto de retorno, alertou o presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), em declarações à Lusa.

«É o nome da SAD do Aves e da competição que está em jogo e não há volta a dar. Criámos os mecanismos de licenciamento para este efeito e achamos até que os 15 dias de benevolência dados após verificação do incumprimento no controlo financeiro são excessivos e um prémio para o infrator», observou Joaquim Evangelista.

A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) informou em 18 de março ter notificado seis sociedades para demonstrarem o cumprimento salarial dos últimos três meses no prazo de 15 dias. Desse lote faz parte o Desportivo das Aves, cuja administração liderada pelo chinês Wei Zhao tinha falhado a liquidação de janeiro e fevereiro à maioria do plantel principal e à equipa sub-23.

A crise salarial começou a ser noticiada em meados de fevereiro, quando o acionista maioritário e dono da sociedade avense, o chinês Wei Zhao, ainda não tinha conseguido efetuar transferências bancárias a partir daquele país asiático desde o início do ano, justificando os atrasos com a paralisação da atividade económica na China, motivada pela propagação do novo coronavírus, tendo liquidado o mês de dezembro em 14 de fevereiro.

«Não há mesmo motivo para que não sejam regularizados os salários vencidos nem adianta continuar a usar-se a covid-19 como desculpa. Já todos sabemos que o problema é estrutural e vem da gestão desportiva feita nesta SAD desde a época anterior. Se não for resolvido exigiremos tolerância zero», assegurou.

Caso as verbas não sejam viabilizadas até esta quinta-feira, Joaquim Evangelista mostra-se convicto em acionar «todas as sanções previstas» para proteger um «grupo de profissionais duplamente penalizado».

«Os jogadores deixarão em definitivo de acreditar que manter esta situação laboral é viável e estarão aconselhados juridicamente para exercerem os seus direitos em tempo oportuno. Neste momento especial que vivemos, como é que alguém nestas condições pode sequer pensar em restrições ao seu direito ao salário?», questionou.

Revelando que «já foram promovidas rescisões com justa causa», embora sem detalhar pormenores, o presidente do SJPF diz ainda ter testemunhado «por intermédio do plantel» funcionários do clube «em dificuldades».

O sindicato revela ainda que 15 jogadores dos sub-23 do Desportivo das Aves pediram ajuda ao fundo de garantia salarial.

«Ajudámos jogadores ligados ao plantel sub-23, alguns dos quais com presenças esporádicas na equipa principal, e as transferências estão todas feitas. Quando nos procuraram deparámo-nos com muitas situações dramáticas, incluindo jovens com salários baixos que não recebiam há três meses», explicou o líder sindical.

«Disponibilizámo-nos ainda para acionar o fundo das competições profissionais para o plantel principal. Os jogadores têm mantido essa possibilidade em aberto, mas continuam a exigir que a SAD do Desportivo das Aves respeite os compromissos e promessas que tem reiteradamente assumido», observou.

Joaquim Evangelista adiantou ainda que o Desportivo das Aves abriu processos disciplinares ao guarda-redes Quentin Beunardeau e ao médio Estrela.

«Os jogadores foram notificados da nota de culpa de um processo disciplinar que visa a aplicação de uma multa, num momento em que estão com vencimentos por receber. É mais um ato absurdo de gestão desportiva, um capricho de quem não tem mais nada para fazer e uma ofensa à nossa inteligência», lamentou Joaquim Evangelista.

O departamento jurídico avense invocou na sexta-feira a infração do regulamento interno, que inviabiliza declarações à comunicação social sem autorização do clube.

«Um processo disciplinar contra um trabalhador por exercer a sua liberdade de expressão e se pronunciar sobre factos públicos e notórios, respaldados por uma posição coletiva tomada anteriormente através da sua associação sindical, não merece qualificação sobre o caráter das pessoas que estão a promover isto», prosseguiu o presidente do sindicato.

As declarações de Quentin Beunardeau e Estrela nos jornais foram antecedidas por um protesto do capitão Afonso Figueiredo em 21 de março, ao pausar o desafio com o médio Pepelu, do Tondela, durante dois minutos, numa iniciativa da Liga dedicada à simulação virtual dos jogos da 26.ª jornada.

«Relativamente ao Afonso ainda não existe qualquer processo, mas temos de desmascarar estas pessoas que colocam em causa todo o futebol e iremos até às últimas consequências para defender os jogadores».

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