Covid – 19 perguntas sobre o regresso do futebol em Portugal

23 mai 2020, 23:45
FC Porto-Famalicão

Um «resumo da matéria», a menos de duas semanas do regresso da Liga

Já definido o calendário para o regresso da Liga (excetuando a última jornada), e a faltar menos de duas semanas para que a bola volte a rolar, o Maisfutebol decidiu fazer um “resumo da matéria”. São dezanove perguntas e outras tantas respostas para sintetizar o essencial do regresso do futebol português: as mudanças, os prazos, as regras, os números, etc.

1. Quando é que os clubes voltaram aos treinos?

O Nacional foi a primeira equipa portuguesa a retomar os treinos após a paragem, a 13 de abril, mas no principal escalão avançou primeiro o Sporting, uma semana depois. Um regresso de forma individualizada, com horários pré-definidos para trabalhar na Academia, e nunca mais de quatro atletas a partilhar um campo ao mesmo tempo. Nos dias seguintes outros emblemas do principal escalão retomaram os trabalhos, com restrições semelhantes. Só um mês depois, nesta última semana iniciada a 18 de maio, é que os clubes anunciaram o regresso dos treinos coletivos.

2. O que aconteceu aos escalões inferiores?

Só a Liga e a Taça de Portugal é que vão ser concluídas. A Federação Portuguesa de Futebol decidiu, logo a 8 de abril, cancelar os campeonatos não profissionais. Mais tarde indicou Vizela e Arouca, os dois líderes de série com mais pontos no Campeonato de Portugal, para subir à II Liga.

No final de abril foi decidido que o segundo escalão também seria cancelado. Em reunião da direção da Liga ficou determinado que Nacional e Farense subiam à Liga, por ocuparem os dois primeiros lugares quando a prova foi suspensa. Casa Pia e Cova da Piedade, os dois últimos classificados, foram relegados ao terceiro escalão.

Estas decisões, tanto da FPF como da Liga, foram contestadas por vários clubes, e alguns desses ameaçam mesmo avançar para os tribunais.

3. Com que frequência se vai jogar?

O calendário já traçado prevê 82 jogos em 49 dias, mas falta ainda definir a última jornada, pelo que tudo indica que serão 90 jogos em 54 dias.  A começar a 3 de junho (isto já é certo) e a terminar a 26 de julho. Entre o arranque da jornada de retoma (25.ª) e a 33.ª e penúltima, teremos apenas nove dias sem futebol: 8, 14, 20 e 27 de junho, bem como 2, 7, 12, 16 e 17 de julho. Um dia de intervalo entre o fim de uma ronda e o início da outra, com exceção para uma pausa de dois dias entre a jornada 32 e o arranque da 33.

4. Quantos recintos vão acolher as últimas dez jornadas?

Para já estão confirmados treze recintos,: Estádio do Dragão (FC Porto), Estádio da Luz (Benfica), Estádio José Alvalade (Sporting), Estádio Municipal de Braga (Sp. Braga), Estádio D. Afonso Henriques (V. Guimarães), Estádio Cidade de Barcelos (Gil Vicente), Estádio do Bessa (Boavista), Estádio João Cardoso (Tondela), Estádio do Marítimo, Estádio Capital do Móvel (Paços de Ferreira), Estádio de Portimão (Portimonense), Estádio do Desportivo das Aves e Cidade do Futebol.

O Estádio do Bonfim (V. Setúbal) e o Estádio do Rio Ave ainda aguardam certificação da Direção Geral de Saúde (através das administrações regionais), após alguns melhoramentos efetuados nos últimos dias. Tudo indica, assim, que teremos quinze recintos a acolher a retoma.

A novidade nesta lista é a Cidade do Futebol, da Federação Portuguesa de Futebol, que vai acolher os jogos de Santa Clara e Belenenses. O Famalicão vai jogar em Barcelos e o Moreirense em Guimarães. Mudanças justificadas com os condicionalismos existentes nestes recintos, aliada à vontade de reduzir o número de palcos, manifestada inicialmente pelas autoridades de saúde. Chegou a ser equacionada a possibilidade de retomar a competição com apenas seis a nove estádios.

5. Como vão ser viagens para a Madeira?

O Santa Clara vai mudar-se para o continente, mas o Marítimo mantém-se nos Barreiros. Quer isto dizer que Vitória de Setúbal, Gil Vicente, Benfica, Rio Ave e Famalicão vão ter de ir ao Funchal (por esta ordem). Para já o que está previsto é que essas viagens sejam feitas em «charter», para prevenir eventuais contágios, mas o Vitória de Setúbal, por exemplo, alertou logo para a incapacidade para assumir essa despesa. Em todo o caso esta solução dos voos fretados levou a que o Conselho de Arbitragem desse indicação para que os árbitros viajem com as equipas que visitam a Madeira, de forma a facilitar a operação logística, até do ponto de vista da prevenção de eventuais contágios.

6. Em que canais vão ser transmitidos os jogos?

A BTV vai transmitir os cinco jogos que o Benfica vai disputar em casa (Tondela, Santa Clara, Boavista, Vitória de Guimarães e Sporting), com os restantes 85 encontros a cargo da Sport TV. Parece descartada a possibilidade de jogos em canal aberto, que muita polémica tem dado.

Inicialmente foi o Secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, a assumir essa vontade, com o intuito até de evitar aglomerações de pessoas a ver os jogos. Mais recentemente o presidente da Liga, Pedro Proença, enviou uma carta ao Presidente da República e ao Ministro da Economia, a manifestar o mesmo desejo de ter jogos em canal aberto. Uma atitude que caiu mal junto de vários clubes e das operadoras televisivas, e que aumentou a contestação em torno de Proença.

7. Quais os principais jogos ainda por disputar?

Começamos pelo fim: a última jornada terá Benfica-Sporting e Sp. Braga-FC Porto. Mais promissor do que isto é difícil. Mas já na primeira jornada da retoma, a 25.ª, temos também a visita do Sporting a Guimarães, ou o FC Porto a defrontar o Famalicão em Barcelos. A 28.ª ronda proporciona três dérbis: FC Porto-Boavista, Sp. Braga-V. Guimarães e Belenenses-Sporting. A 32.ª e antepenúltima jornada também promete muito na luta pelo título, pelo menos a esta distância, já que o Benfica recebe o Vitória de Guimarães e o FC Porto enfrenta o Sporting no Dragão.

8. Quem pode entrar nos estádios?

O plano da retoma prevê a entrada de 185 pessoas nos estádios. A zona técnica pode ter no máximo 85 pessoas, entre jogadores, staff técnico, delegados da Liga, equipa de arbitragem, médico antidoping, técnico de vídeoárbitro, polícia e segurança privada. O perímetro exterior ao campo de jogo pode ter no máximo 25 pessoas, entre apanha-bolas, fotojornalistas, repórteres de pista, operadores de câmara, polícia e segurança privada. Existe também um limite de 25 pessoas a aceder ao relvado antes, ao intervalo e após o jogo, entre equipa de ativação, técnicos de publicidade, técnicos televisivos e técnicos do relvado.

Nas bancadas podem estar um máximo de 60 pessoas, entre jornalistas, órgãos sociais, técnicos de estatísticas, equipas de tv compound, polícia e segurança privada.

9. O que muda na rotina dos jogos?

Para além das limitações no acesso aos estádios, existem muitas outras mudanças em contexto de jogo. As equipas devem viajar apenas com os elementos essenciais, e respeitando o distanciamento possível nos bancos do autocarro. Até a chegada das comitivas aos estádios deve ser programada de forma a evitar cruzamentos que potenciem contágios. O acesso aos balneários também deve estar limitado o máximo possível (jogadores e treinadores). É recomendada a utilização de máscara, salvo no momento em que os jogadores vão para o terreno de jogo. São desaconselhadas as rodas de jogadores, seja no balneário ou no relvado, e dispensado o cumprimento entre equipas, por exemplo. As garrafas de água devem estar identificadas, para evitar qualquer partilha, e as bolas que saem do terreno de jogo devem ser desinfetadas. Isto só para dar alguns exemplos de comportamentos que vão ter de ser adaptados.

10. Com que frequência vão ser feitos testes?

Por regra, os clubes fizeram testes aos jogadores, treinadores e staff antes do regresso aos treinos, e repetiram o procedimento mais recentemente, de forma a avançar para os trabalhos coletivos. Aproxima-se agora o regresso à competição, e nesse contexto o que está previsto é realizar dois testes por jornada, por assim dizer: um 48 horas antes do jogo, e o outro o mais próximo possível da hora do respetivo encontro.

11. O que acontece se um jogador estiver infetado? E se for quase toda a equipa?

Perante um teste positivo (seja um jogador, treinador ou membro do staff), o procedimento a seguir é o do isolamento que pode chegar aos 14 dias. Será preciso então fazer testes também aos restantes elementos do grupo de trabalho, assim como a outras pessoas que estiveram em contacto com esse caso positivo. O elemento em causa volta a ser testado na reta final do período de isolamento (entre 10 a 14 dias), e é dado como recuperado ao segundo teste negativo no espaço de 24 horas.

Caso uma equipa tenha vários casos positivos, o que está previsto é que essas situações sejam encaradas como lesões “normais”. O primeiro-ministro, António Costa, chegou mesmo a dizer que a derrota por falta de comparência era o cenário para uma equipa que não tivesse jogadores para entrar em campo. Refira-se, em todo o caso, que um elevado número de casos positivos pode motivar uma ação diferente do Governo e das autoridades de saúde, como a suspensão da prova.

12. Os adeptos podem ir apoiar a equipa no exterior do estádio?

Não é, de todo, recomendável, e as autoridades vão estar atentas a essas situações. Ainda esta semana a Liga esteve reunida com a Polícia de Segurança Pública (PSP) e com o Ponto Nacional de Informação sobre Futebol (PNIF). Foi discutido o plano de segurança para a retoma da Liga e «abordadas as possíveis medidas de contenção com vista a evitar os ajuntamentos de adeptos nas imediações dos estádios ou locais de permanência das equipas».

13. Vão ser autorizadas cinco substituições?

A uma semana e meia do regresso da Liga, esta é uma questão ainda em aberto. Logo no final de abril a FIFA sugeriu esta possibilidade, perante os riscos da sobrecarga de jogos, e alguns dias depois o Internacional Board aprovou esta medida extraordinária. A Bundesliga voltou com cinco substituições, de resto, mas em Portugal esse tema ainda está por clarificar.

14. A Liga vai continuar a ter vídeoárbitro na retoma?

Sim. A FIFA e o International Board admitiram a possibilidade de retomar as competições sem VAR, se tal fosse inevitável, mas em Portugal vai manter-se. Foi apenas necessário pedir ao International Board que certificasse que a Cidade do Futebol tinha condições para aplicar o protocolo, e esse parecer positivo chegou no início da última semana.

15. A Liga pode voltar a parar? E o que acontece de for retomada e depois parar novamente?

Pode. Pode nem chegar a ser retomada, se os indicadores da pandemia de covid-19 piorarem significativamente. Isso já foi referido por vários elementos do Governo e da Direção Geral de Saúde, que, no entanto, também deixaram claro que não existem padrões definidos para adotar essa medida. Tudo depende da avaliação contínua que é feita.

E o que acontece se a Liga for retomada, mas depois existir necessidade de parar novamente? Esse cenário não foi analisado de forma concreta. Para já a preocupação foi encontrar condições para concluir a temporada, na esperança de que isso seja uma realidade.

16. Quando termina a época 2019/20?

Para já só existe calendário até 21 de julho, dia em que fica fechada a 33.ª e penúltima jornada. Após um ou dois dias de descanso avançará a 34.ª e derradeira ronda, e tudo indica que o campeonato ficará fechado a 26 de julho. Depois disso será ainda disputada a final da Taça de Portugal.

17. O que se sabe sobre a final da Taça de Portugal?

Descartado para os jogos do Belenenses, o Estádio Nacional também não vai receber a final da Taça de Portugal, algo inédito desde 1983. O Marítimo sugeriu receber a decisão da prova-rainha, e também Aveiro, Coimbra, Leiria e Algarve surgiram como possibilidade. O palco está ainda por definir, portanto, sendo que a Federação Portuguesa de Futebol estava ainda à espera do calendário da Liga para acertar a data com os finalistas. A confirmar-se a norma de realizar a final da Taça uma semana depois do final da Liga, podemos ter o duelo entre Benfica e FC Porto para 1 ou 2 de junho.

18. Como fica a situação de quem termina contrato a 30 de junho?

A época 2019/20 vai prolongar-se para os meses de julho (e talvez agosto), mas alguns jogadores e treinadores têm vínculos apenas até 30 de junho. No início de maio foi assinado um memorando de entendimento entre Liga, Federação, Sindicato de Jogadores (SJPF) e Associação de Treinadores (ANTF), para que esses contratos fossem automaticamente prolongados até ao final da temporada. A própria FIFA recomendou esta solução, mas isto não afasta o cenário de eventuais litígios, caso alguns clubes decidam chamar jogadores a partir de 1 de julho (emblemas de ligas que foram canceladas, por exemplo, e queiram avançar com a planificação da próxima temporada).

19. Quando começa a temporada 2020/21?

Esta é outra questão totalmente em aberto. Um pouco por toda a Europa a prioridade, para já, é terminar a presente temporada. A UEFA está à espera da calendarização das diferentes Ligas para definir as datas das suas competições, e isso vai influenciar também a planificação de 2020/21. No plano nacional, e caso a Liga seja mesmo finalizada no final de julho, a previsão para o arranque da nova época aponta para o final de setembro ou início de outubro, mas ainda não há nada concretizado.

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