FC Porto-V. Guimarães, 3-0 (crónica)

Ricardo Jorge Castro , Estádio do Dragão, Porto
27 mai 2023, 20:05

Vermelho soltou a vontade do dragão, mas não houve luz para o título

Tornar realidade o sonho do título era difícil.

Mais até por depender do Benfica do que da missão de Vitória que tinha pela frente. Afinal, em pleno Dragão, era proibido desperdiçar a última oportunidade para poder pintar de novo a Liga de azul e branco.

Desperdiçar o que, por exemplo, ficou pelo caminho numa segunda volta quase imaculada. Fora o empate em Braga, o FC Porto só teve um verdadeiro galo no percurso nas últimas 17 rondas: a derrota caseira com o Gil Vicente.

O dragão que reduziu de dez para quatro os pontos de diferença para o Benfica não se rendeu. Nunca desistiu. Este sábado, foi apoiado de início a fim, mesmo que se fosse percebendo aos poucos que, a cerca de 300 quilómetros de distância, o rival não ia falhar.

A precisar de uma luz verde dada pelo Santa Clara na capital, o FC Porto até teve primeiro um sinal vermelho (benéfico) no Dragão: a expulsão de Tomás Händel, logo aos 83 segundos, criou todo um novo jogo. Quase mesmo antes de haver jogo. O médio fez uma falta dura sobre Uribe, saiu de cena e o FC Porto entrou num jogo quase de sentido único até final. Foi resolvido em 45 minutos.

O 1-0 teve tanto de natural como de rapidez: no tempo e em Pepê. O brasileiro teve uma arrancada impressionante quase desde a área defensiva após um canto a favor do Vitória, correu até à linha final e cruzou atrasado para Taremi abrir o marcador aos oito minutos. Brilhante o esforço. A jogada.

Por essa altura, já o Benfica vencia por 1-0 e a resposta no Dragão aos acontecimentos da Luz repetiu-se no 2-0. Aos 32 minutos, já com 2-0 para o Benfica, Otávio dobrou a vantagem do FC Porto, num remate cruzado após passe de Galeno, bem combinado com a movimentação de Evanilson a arrastar a defensiva minhota. Antes disso, já Pepê tinha feito maravilhas para o 2-0, mas dez centímetros anularam-no.

O golo de Otávio surgiu numa altura em que Moreno já tinha abdicado dos extremos Johnston e Jota, sacrificados 20 minutos após a expulsão para as entradas de Zé Carlos e Tiago Silva. O Vitória foi ganhando, a espaços, alguma capacidade de posse e troca, mas era pouco e insuficiente para incomodar Diogo Costa, que teve uma das tardes mais descansadas da carreira. Até porque a bola esteve quase sempre no outro meio-campo. E porque o Vitória não conseguiu um remate à baliza.

O 3-0 final ainda surgiu na primeira parte, aos 39 minutos, por Evanilson. Bruno Varela pouco podia fazer, numa primeira parte em que só teve uma boa defesa para negar o bis a Taremi em cima do intervalo.

Nas bancadas, foi havendo apoio, mas alguma resignação. Aqui e ali, adeptos colados ao telemóvel. Sorrisos a abrir o jogo, entre festejos, mas também alguns olhares de tristeza. Queixos pousados nos punhos e estes nas pernas. Braços cruzados. A vitória no Dragão era certa, mas também a fuga do título para a Luz.

Da segunda parte, o que ficou de substancial até foi mesmo a confirmação de Mehdi Taremi como melhor marcador da I Liga com 22 golos e a perda do quinto lugar do Vitória, quando o Arouca construiu o triunfo em Portimão.

De resto, no Dragão, tudo o que houve na primeira parte escasseou na segunda: golos, grandes oportunidades, mais intensidade e emoção. O destino das duas equipas estava traçado. Uribe, na provável despedida, acabou o jogo a central quando Conceição fez descansar Pepe ao minuto 63, antes do momento de maior frenesim, quando se pediu braço de Bamba no lance em que o 4-0 esteve mais perto, por Taremi. Soares Dias mandou seguir.

Enquanto algumas dezenas iam para casa mais cedo, a maioria quis dar uma despedida digna a FC Porto e Vitória, numa tarde em que o vermelho de Händel soltou a fome do dragão, embora sem a Luz desejada para conquistar uma inédita segunda Liga seguida com Conceição ao leme.

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