Tsunami verde
Ao chegar às imediações do Estádio de Alvalade, passando da Avenida Padre Cruz para o recinto da casa leonina, a comitiva leonina terá visto a partir do autocarro aquilo que pode ser denominado como uma «Onda Verde». Tem sido essa a expressão utilizada pelos adeptos leoninos para a mobilização da massa associativa nesta reta final do campeonato, que se fez mostrar e ouvir mais uma vez antes deste jogo.
Porém, ao sair de Alvalade, a comitiva do Moreirense deverá ter-se sentido arrasada não por uma onda, mas sim por um verdadeiro «tsunami». Foi um maremoto de chances de golo do Sporting, com um aparente Poseidon a mostrar um tridente de golos - Viktor Gyökeres marcou os três tentos dos leões. O Moreirense ainda reduziu por Teguia... mas pode agora regressar ao 'seu' campeonato (3-1).
Rui Borges apostou num onze na força máxima, sem qualquer preconceito em relação ao Moreirense. Geovany Quenda descansou diante do Santa Clara e recuperou o extremo no onze inicial, retirando Iván Fresneda. Já os visitantes estavam obrigados a jogar, pelo menos, sem o ponta-de-lança titular Guilherme Schettine, que viu o cartão vermelho no jogo anterior.
O décimo classificado vinha para este jogo após a primeira derrota sob o comando de Cristiano Bacci, em seis jogos. Já o Sporting procurava descolar-se do rival Benfica e por pressão no outro candidato ao título, um dia antes da visita deste a Guimarães. Lisboa e Guimarães no centro do futebol da Liga portuguesa.
Onda tudo levou na primeira parte, sem reação dos cónegos
O Sporting cedo mostrou os seus pergaminhos e criou várias oportunidades de golo nos minutos iniciais da partida. Tipicamente, infiltrando-se na quina da área dos cónegos e depois com um cruzamento atrasado para o coração da área. Umas vezes havia desperdício, por Catamo ou Trincão, noutras vezes o Moreirense lá ia bloqueando os passes que punham em causa a integridade da sua baliza.
Não demorou muito até ao primeiro golo. Num desses cruzamentos atrasados, criados por um belo movimento de Hjulmand, Catamo falhou um primeiro remate e Gyökeres aproveitou o ressalto para marcar, de forma oportunista. Kewin Silva esbracejou em direção aos colegas mas o mal estava feito.
O guardião do Moreirense ia adiando o inevitável, perante uma defesa adormecida. O segundo golo chegou aos 25 minutos, de novo pelo suspeito do costume. Os melhores avançados parecem ter íman de golo e o sueco tem um magnetismo incrível. Trincão decidiu mal num contra-ataque, a bola sobrou para Gyökeres, este tira um adversário da frente e remata forte e cruzado para o fundo das redes.
O Sporting dominava na posse de bola e reagia com uma rapidez incrível à perda. O Moreirense sufocou durante a primeira parte, falhava passes fáceis e não conseguiu incomodar de forma alguma Rui Silva, o guardião do Sporting. Adivinham-se 45 minutos que iriam apenas confirmar a vitória do Sporting.
Mudanças de Bacci introduziram entropia mas... Gyökeres repôs a ordem
Mas não foi exatamente assim na segunda parte. Bacci mexeu, tirando os médios Sidnei e Ofori. Lançou Ivo Rodrigues e Rúben Ismael. Teguia e Frimpong tornaram-se alas bem abertos, Dinis pinto recuou para uma linha de três centrais. Era uma espécie de 3-4-3 que muitas vezes contraía em 5-2-3.
O Moreirense pôs a cabeça de fora da água, enfrentando o tsunami verde. Começou a ameaçar de fora da área e com cruzamentos. Mas, após um livre ganho pelo Sporting à entrada da área, Viktor Gyökeres completou o hat-trick com um remate potentíssimo. A barreira parecia bem feita – Kewin controlava o único espaço disponível. Mesmo assim, o sueco atirou uma «bomba» para o fundo das redes. Quem tem um jogador destes arrisca ser campeão.
Com a equipa já algo dormente devido à vantagem, nem Quenda nem Quaresma pressionaram Frimpong, aos 56 minutos, resultando no golo de honra dos visitantes. A bola chegou ao segundo poste onde surgiu um possante Cedric Teguia, que cabeceou muito bem para o golo. Foi o primeiro ao serviço do Moreirense.
Ao Sporting, restou gerir o resto do jogo. Nota ainda para uma grande ovação para Pote, que regressou ao Estádio de Alvalade mais de cinco meses depois do último jogo neste reduto, a entrada de Esgaio para o meio-campo (!) e uma jogada magistral de Francisco Trincão que só foi travada por Kewin Silva.
A onda leonina fez estragos, mais uma vez. Arrebatou o Moreirense e tudo levou à sua frente, num jogo que por vezes parecia ser disputado entre equipas de... desportos diferentes. Os orçamentos têm, com certeza, um desnível abissal. O Sporting tem mais quatro 'finais' até ao final do campeonato, sendo que uma delas é com o rival Benfica. Por agora, descola-se na liderança da tabela… e sentar-se-á no sofá no sábado de um modo mais confortável.