Quatro ideias táticas que explicam o empate no FC Porto-Sporting

27 fev 2021, 23:54

João Pacheco, treinador e analista, detalha para o Maisfutebol o clássico do Dragão

1. Pressão para condicionar o adversário

Para este jogo, tanto o FC Porto como o Sporting apresentaram-se em campo sem alterações no seu sistema de jogo e sem surpresas nos onzes iniciais. Se da parte do Sporting não era esperada nenhuma alteração significativa do seu sistema (não é do feito de Ruben Amorim), no caso do FC Porto havia a dúvida de qual seria a estratégia. Isto porque, na última vez que se defrontaram para a Taça da Liga, a opção tinha sido apresentar-se num sistema similar ao adversário para um encaixe perfeito.

Desta vez tal não aconteceu, mas mesmo assim a ideia que ambas as equipas levaram para jogo não foi diferente, pelo que a dinâmica acabou por ter contornos similares ao confronto anterior. Mais uma vez as equipas a procuram impor-se em campo pela pressão, por condicionar muito o jogo adversário, sobretudo na primeira fase de construção, para evitar saídas limpas. Havia muita preocupação em não deixar jogar e perante isso dificuldade das equipas em ligarem o jogo, terem ataques longos e criarem situações de golo. Sem encaixe como anteriormente, mas mantendo o registo de muita luta, muito combate individual. A pressão levava outra vez a melhor que a construção.

2. Sérgio Oliveira controlava a ligação entre os defesas e os médios do adversário

Obviamente, a forma de o fazerem era diferente, cada equipa com as suas nuances estratégicas. O Sporting iniciava a pressão normalmente por Tiago Tomás, que tentava limitar o passe entre os centrais do FC Porto e pressionar o central com bola. Perseguia também o passe atrasado para o guarda-redes. Perante isto o FC Porto tentava contornar a pressão saindo muitas vezes longo, para um duelo aéreo, e depois tentava ganhar a segunda bola já no meio campo ofensivo, para criar situações de finalização a partir daí. Os alas do Sporting, inicialmente a defenderem em linhas um pouco mais baixas que o habitual, foram também aumentando a pressão e começando a condicionar a entrada da bola nos centrais adversários (mais evidente na segunda parte).

No caso do FC Porto a pressão foi assegurada pela coordenação e eficácia defensiva da sua dupla de atacantes. Defendendo muito juntos e coordenados, tinham a função de cortar a ligação para a circulação de bola entre a primeira linha de três do seu opositor. Além disso ainda tentavam ajustar-se de forma a fechar linhas de passe para os médios (muitas vezes o avançado do lado contrário à bola encostava num dos médios do Sporting) e orientar a pressão de dentro para fora, onde tentava ganhar bola.  Sérgio Oliveira tinha a função de muitas vezes subir uma linha e aproximar-se dos avançados para controlar também a ligação com os médios do Sporting.

Com isto o FC Porto controlava um dos pontos mais fortes do Sporting que é a sua construção a três e a ligação com os seus dois médios. Embora também fosse tentando algumas bolas longas, o Sporting optou muitas vezes por tentar mesmo assim sair curto e tentar encontrar pontos de ligação em apoio. Contudo, mesmo tentando, raramente conseguiu sair com eficácia e criar problemas na estrutura defensiva portista neste momento. Perante isto, o FC Porto ia conquistando bolas em zonas altas e a partir daí tentava aproximações à baliza (por exemplo a oportunidade do Taremi no início da segunda parte), instalava-se mais no meio campo adversário e ia conquistando mais oportunidades. 

3. FC Porto carrega pela direita

Ofensivamente o Sporting ia ameaçando inicialmente com alguns movimentos característicos dos seus avançados à profundidade, mas controlados e anulados pelo adversário. O FC Porto respondia com alguns movimentos de ataque ao espaço de Taremi e Marega, mas principalmente forçando mais o corredor direito, com Manafá, Corana e com vários movimentos de Marega para este corredor, onde tradicionalmente tem apresentado fortes dinâmicas.

4. Sporting não altera estrutura, FC Porto arrisca desequilíbrios individuais

Quando chegou a momento de substituir jogadores, Ruben Amorim foi o primeiro a mexer, sem surpresas, não alterando a estrutura, mas tentando alterar o jogo e as dinâmicas pelas caraterísticas dos jogadores. Num curto espaço de tempo, tirou os jogadores que mais ameaçam a profundidade: Nuno Santos e Tiago Tomás. Para o corredor optou por Matheus Nunes, para garantir por um lado algum transporte de bola (por aí conseguiu até a melhor oportunidade do Sporting) e por outro para não deixar partir o jogo, metendo ali um médio com capacidade defensiva. O FC Porto respondeu com a troca de um avançado e depois arriscou mais metendo Luis Diaz e Francisco Conceição. A estrutura não se alterou, reposicionou jogadores (Corona para lateral) e colocou dois jogadores com forte capacidade de desequilíbrio. Era a tentativa de um forcing final para chegar à vitória, mas o nulo inicial não se desfez. Mais uma vez, foi um jogo com equilíbrio, embora o FC Porto tenha conseguido durante mais tempo empurrar mais o adversário e aproximar-se da baliza adversária, enquanto o Sporting teve mais dificuldades em chegar ao último terço. No fim a competência defensiva das equipas se impôs-se aos processos ofensivos.

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