O diretor desportivo do Arouca, Joel Pinho, recordou o período entre 2016 e 2021 lembrando a dificuldade do clube em planear a longo prazo. Victor Orta, membro do Leeds, refletiu sobre o quão importante é «educar» os donos dos clubes
Leeds United, Internacional e Arouca. Três realidades distintas ilustradas num painel que juntou Victor Orta, Gustavo Grossi e Joel Pinho durante a quinta edição do World Scouting Congress.
Logo no início do debate sobre «Visão para uma gestão estratégica no futebol», o diretor desportivo do Arouca fez questão de elencar as diferenças entre os três emblemas e as dificuldades que o clube da Serra da Freita tem.
«O Arouca é um clube modesto que se move pela paixão. Não temos os recursos dos clubes dos meus colegas de painel. O lema do Arouca é fazer com pouco o que os outros fazem com muito. O Internacional tem 8,5 milhões de adeptos enquanto o Leeds tem um plantel avaliado em 300 milhões de euros. O orçamento do Arouca este ano é de 4,5 milhões de euros. Para definir um plano estratégico a começar pela base, teríamos de fazer um centro de treino. Mas, se investirmos na base, ficamos sem dinheiro para o futebol profissional. Portanto, o investimento no futebol profissional é um All-In à espera de um negócio que dê dinheiro para investir na base», começou por dizer.
De seguida, o dirigente recordou o período em que o Arouca foi da Europa à terceira divisão do futebol nacional.
«Em 2016, quando fomos à Europa, tínhamos um plano estratégico para investir e fazer um centro de estágio com todas as condições. Mas descemos por um golo. Quem tinha previsto que o FC Porto iria perder em Moreira de Cónegos e que o Tondela iria ganhar ao Sp. Braga? Tivemos de fazer uma restruturação e o dinheiro que guardámos, investimos na II Liga para voltarmos a subir. Não há forma de fazer planificação. Não temos capacidade de compra, procuramos sempre jogadores livres. Como digo, a bola é redonda em qualquer parte do mundo. Temos 13 nacionalidades diferentes no plantel e estamos sempre à procura do tesouro, Estamos dependentes do êxito desportivo e das vendas. Não temos forma de planear a longo prazo por causa do aspeto financeiro», frisou.
«O Arouca tem uma estrutura pequena, mas funcional. Esta estrutura já viveu todas as realidades: foi da Europa à terceira divisão. Iniciei o meu percurso como diretor desportivo com 22 anos. Quando subimos à II Liga, despedi 23 jogadores que tinham jogado comigo. Foi arrojado. Contratámos na II Liga e em divisões inferiores e subimos. Fomos à Europa, descemos e apostámos tudo novamente na subida, mas acabámos por descer. As pessoas eram as mesmas e nenhuma foi despedida. Estes funcionários conseguiram subir duas vezes em dois anos. Há coisas que não se explicam. Quando corre bem, o mérito é dos jogadores e dos treinadores, mas quando corre mal a culpa é da direção», acrescentou.
Por sua vez, o diretor desportivo do Leeds United, Victor Orta, salientou a importância do poder económico.
«Este ano vendemos o Raphinha [ndr: ao Barça] e o Kalvin Phillips [nrd: ao Man. City]. Tivemos de investir caso contrário o risco de descida, aumentava. A única forma de crescer é investindo. Há muito dinheiro das receitas televisivas na Premier League, mas a competitividade obriga-te a investir no clube em todos os parâmetros», destacou.
De seguida, o espanhol, que passou pelo Sevilha, Zenit, Elche e Middlesbrough antes de chegar a Ellan Road, debruçou-se sobre a dificuldade em «educar» os donos dos clubes a conseguirem ver além dos desempenhos imediatos.
«Temos um projeto a curto, médio e a longo prazo. Na Premier League há seis equipas cada vez mais fortes e depois há uma competição incrível entre as outras 14. Quem vai descer de divisão? Não sou capaz de prever. É uma liga muito competitiva e é preciso perceber que um ponto vale três milhões de euros. Se acabarmos com 43 pontos, recebemos 160 milhões de euros de receitas televisivas. Mas o dono tem de conseguir ver além do resultado. É fácil de dizer isto quando o dinheiro não é nosso, claro. A nossa ideia é ter um plantel muito curto e depois ter três ou quatro jogadores que saltem da formação para a equipa principal. Geralmente vamos buscar miúdos de 15 ou 16 anos para depois alimentarem a primeira equipa. O Gelhardt chegou à equipa principal e quando os outros percebem que há essa possibilidade, que é mais fácil chegar à Premier League no Leeds do que no City, por exemplo, facilita na questão das contratações. Mas isto, por outro lado, aumenta o risco de descida. Vamos imaginar o Gelhardt e o Benteke, um jogador que tem muito mais minutos e experiência. No entanto, convencemos os donos de que a única forma de gerar valor é ter o Gelhardt a fazer 500 minutos durante a época e a acabar com dois golos e com internacionalizações nos sub-21», argumentou.