FC Porto-Marítimo, 2-1 (crónica)

Vítor Hugo Alvarenga , Estádio do Dragão, no Porto
30 jan 2022, 22:31

Os Díaz depois de amanhã

O FC Porto venceu o Marítimo (2-1) na 20.ª jornada da Liga 2021/22, garantiu a preservação da vantagem sobre os principais adversários na luta pelo título e fica à espera dos resultados de Sporting e Benfica nos encontros referentes a esta ronda. Até aqui, nada de novo.

O que esperar desta equipa de Sérgio Conceição depois do encerramento do mercado de transferências? Essa é a grande dúvida no reino no Dragão. Como serão os Díaz depois de amanhã, de 31 de janeiro, já sem o mágico Luis, sem Sérgio Oliveira, sem Tecatito Corona?

No pós-apocalíptico ‘The Day After Tomorrow’ (O Dia Depois de Amanhã), filme norte-americano lançado em 2004, a humanidade é surpreendida pelos efeitos avassaladores das alterações climáticas.

Num cenário de ficção não distante da realidade, na sua essência, cientistas procuram alertar os governantes para a iminência de uma catástrofe global. Os avisos são desvalorizados e o pior acontece, inevitavelmente, para surpresa dos otimistas.

Contas a depender de uma bola que entra ou vai ao poste

A realidade financeira do FC Porto, agravada pelo cenário de pandemia, tem clara semelhanças com esta película. Os dragões não conseguiram gerar mais-valias esperadas no verão (vendas de Vitinha e Sérgio Oliveira) e falharam o acesso aos oitavos de final da Champions, algo que estava previsto nas contas. O que desde logo é questionável, porque uma SAD não deve ficar agarrada a uma bola que entra ou que vai ao poste.

Ora aqui chegados, e por mais que se anuncie a saída da égide do fair-play da UEFA, a verdade incontornável é que a sociedade azul e branca continua em zona de perigo e necessitada de injeções extraordinárias de capital. A venda de Luis Díaz a meio do campeonato, impensável para os adeptos portistas, reflete de forma clara essa urgência.

O risco desportivo associado a esse movimento financeiro é enorme. Deixar sair em poucas semanas o melhor jogador da Liga portuguesa e dois elementos experientes, que foram extremamente importantes em épocas passadas – Sérgio Oliveira por empréstimo com opção de compra e Tecatito Corona por três milhões de euros, a seis meses no fim do contrato -, é uma estratégia que terá de ser assumida por quem tem responsabilidades no clube.

Saíram três unidades influentes, para além de Nanu, entrou Stephen Eustáquio e deve entrar Rúben Semedo. Veremos o panorama completo no Dia Depois de Amanhã. O que é certo hoje, como era ontem, é que Sérgio Conceição – com todas as suas qualidades e defeitos - é a maior garantia de sucesso para este FC Porto.

Sérgio Conceição a reinventar continuamente a roda

De facto, numa altura em que o treinador cumpre 250 jogos no banco da formação portista, já poucos duvidam da capital importância do homem que vai resistindo a contantes mutações no seu grupo de trabalho, inventando soluções, reinventando a sua roda para manter a equipa altamente competitiva.

Frente a um Marítimo bem montado por Vasco Seabra, por exemplo, o FC Porto apresentou-se novamente com Bruno Costa como lateral direito adaptado e Pepê, o sucessor natural de Luis Díaz, no flanco esquerdo do ataque. No banco, dois guarda-redes e três jogadores que tinham realizado treino condicionado no sábado. Um deles, João Mário, regressou mesmo à competição.

Os atuais líderes do campeonato tiveram o mérito de marcar no primeiro remate enquadrado à baliza, tirando partido da genialidade de Otávio e Evanilson. O médio assistiu, o avançado finalizou de calcanhar, ao minuto 18.

Alipour, o substituto do castigado Joel Tagueu, ainda conseguiu colocar André Vidigal em posição de finalização, mas o extremo desperdiçou a melhor oportunidade do Marítimo na etapa inicial (23m). Do outro lado, o FC Porto foi somando ocasiões de perigo, sem transmitir a imagem de uma noite perfeitamente tranquila.

No início da segunda parte, quando Pepê desviou de forma caricata para o fundo da baliza uma bola rematada por Otávio (48m), 22.630 adeptos presentes no Estádio do Dragão respiraram com maior conforto, mas a resposta de Edgar Costa, após defesa incompleta de Diogo Costa a remate de Guitane (53m), voltou a fazer pairar o espectro da incerteza.

Sérgio Conceição decidiu mexer e tirou dois criativos – Pepê e Fábio Vieira – para explorar a velocidade de Francisco e fazer regressar João Mário à competição, desviando Bruno Costa para o meio-campo. Pouco depois, ao ver Wendell fazer uma falta perigosa e já com um amarelo, não correu riscos com o brasileiro e lançou Zaidu.

O Marítimo nunca desistiu do jogo e manteve a expectativa até ao apito final. Porém, o FC Porto conseguiu gerir a magra vantagem sem sofrer sobressaltos de maior. Sem os internacionais Uribe (Colômbia), Taremi (Irão) e Stephen Eustáquio (Canadá) e já sem Luís Díaz, Tecatito Corona e Sérgio Oliveira, foi a exibição possível antes do encerramento do mercado e da contagem de armas para o resto da temporada.

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