Zaïre-Emery, o fenómeno que bate recordes no PSG (e o que tem Rodrigo Ribeiro a ver com isto)

17 fev 2023, 09:01
Warren Zaïre-Emery (AP Photo/Thibault Camus)

Quem é o miúdo que fez história na Liga dos Campeões e cresce no Parque dos Príncipes a afirmar-se entre as estrelas, de recorde em recorde

Warren Zaïre-Emery e Rodrigo Ribeiro são os únicos jogadores que entraram em campo em fases a eliminar da Liga dos Campeões aos 16 anos. O avançado do Sporting, que se tornou o primeiro quando saiu do banco para jogar apenas aquele minuto mais descontos frente ao Manchester City em março do ano passado, continua a ser o mais novo de sempre. Mas o médio do PSG tornou-se agora  o mais jovem a fazê-lo como titular. E esse é mais um marco no percurso de um fenómeno que cresce no Parque dos Príncipes a afirmar-se entre as estrelas, de recorde em recorde.

Curiosamente, os dois jogadores defrontaram-se em maio de 2022. Jogava-se a meia-final do Europeu sub-17, em Israel. De um lado Portugal, do outro a França, que se colocou em vantagem logo aos oito minutos com um golo monumental daquele miúdo, o único nascido em 2006 a disputar essa fase final.

O jogo terminou empatado a dois golos e a França levou a melhor nos penáltis, avançando depois para a conquista do título europeu, com a vitória sobre os Países Baixos na final. Por essa altura, Warren Zaïre-Emery já justificava altas expectativas. E também já era representado por Jorge Mendes. Passou a fazer parte da carteira de clientes do agente português em março, ainda antes de se estrear oficialmente pelo PSG.

WZE - ele já ganhou direito a uma abreviatura em jeito de marca registada – nasceu a 8 de março de 2006, nos arredores de Paris. Portanto, na terça-feira entrou em campo frente ao Bayern Munique ao lado de futebolistas que já jogavam a Liga dos Campeões ainda antes de ele nascer, como Lionel Messi ou Sérgio Ramos.

Futebol depois de aprender a apertar os atacadores

A mãe tem origens na Martinica, o pai é francês e foi jogador. Franck Emery chegou à II Divisão francesa com o Red Star e depois tornou-se treinador amador. Warren começou por acompanhá-lo nos treinos e ainda não tinha cinco anos quando foi inscrito como jogador no Aubervilliers. Mas só depois de cumprir uma condição: tinha de saber apertar os atacadores sozinho. «Ainda me lembro dos primeiros atacadores, deviam ser umas Adidas F50 iguais às do Leo Messi», contou Warren numa entrevista à France Bleu: «Eram amarelas e vermelhas e eu tive de aprender a apertá-los sozinho, porque ele não estava no balneário para os apertar ou para me vestir.»

Warren jogava no clube e jogava na rua ao fim do dia, muitas vezes ao lado de miúdos bem mais crescidos. «Ficava na rua a jogar com o meu irmão mais velho ou com os meus amigos da minha idade, ou mesmo mais velhos. Isso permitiu-me adaptar o meu jogo e progredir, porque jogava com os mais velhos. É preciso passar a bola mais depressa, sobretudo quando se é baixinho. Acho que isso enriqueceu o meu jogo», diz.

Warren já jogava muito. «Nos torneios levava sempre o troféu de melhor jogador. Às vezes até reclamavam connosco, porque ele jogava o torneio sub-9 ao sábado e depois o sub-8 ao domingo», contou o pai ao site Actufoot.

Não demorou a entrar no radar do PSG e em 2014 juntou-se mesmo aos parisienses. A partir daí dedicou-se a saltar etapas, numa combinação rara de talento e maturidade, jogando sempre em escalões acima da sua idade. «Quando temos jogadores de qualidades intrínsecas muito fortes, eles não sabem usá-las e não fazem as escolhas certas. Mas ele tinha uma leitura de jogo e uma capacidade de análise incríveis», disse Abdou Fall, treinador dos sub-11 do PSG, à RMC Sports.

O jogador que trabalhava por todos

Outro antigo treinador de Warren, Bafodé Diakité, reforça a ideia: «Sentíamos que, paradoxalmente, tudo se tornava contraproducente para a equipa, porque na perda da bola o Warren compensava tudo, reequilibrava tudo e os outros trabalhavam menos. Disse aos outros jogadores que o Warren não era o bombeiro de serviço.»

Inicialmente tinha uma vocação mais criativa, mas isso mudou quando chegou a Paris, contou: «Quando cheguei ao PSG comecei a jogar no meio-campo. Antes jogava mais à direita e gostava de fintar. Agora, no meio, é uma posição com muita responsabilidade, porque és tu que fazes a ligação entre a defesa e o ataque. Eu gosto de defender, de me projetar e fazer o papel de médio.»

Na época 2021/22 foi indiscutível na campanha do PSG até aos oitavos de final da Youth League, quando tinha 15 anos, menos três ou quatro do que a maioria dos restantes jogadores. Depois chegou o Europeu sub-17, onde foi referência no meio-campo da França na caminhada para o título. Ao longo do ano de 2022 representou as seleções gaulesas de sub-17, sub-18 e sub-19.

No verão assinou o primeiro contrato profissional. E subiu à primeira equipa. Christope Galtier integrou-o na digressão de pré-temporada ao Japão e lançou-o a 6 de agosto, nos minutos finais da vitória sobre o Clermont-Foot. Com 16 anos, quatro meses e 29 dias, tornou-se então o mais jovem de sempre a jogar pelo PSG e o primeiro nascido em 2006 a jogar na Ligue.

 

De recorde em recorde com a camisola do PSG

Eram apenas os primeiros de vários recordes de precocidade com a camisola parisiense que se seguiram em poucos meses. Em outubro tornou-se o mais novo de sempre a representar o clube na Liga dos Campeões, depois em janeiro foi o mais jovem titular parisiense, num jogo da Taça de França, e no início de fevereiro o mais novo a marcar, quando saiu do banco para render Vitinha na vitória sobre o Montpellier. Veja aqui o golo. Foi eleito pelos companheiros melhor jogador da academia do PSG em 2022 e é visto por muitos como uma das grandes promessas da sua geração.

«Tem um grande futuro e demonstrou que pode ser importante para nós com as qualidades que tem, tanto as capacidades defensivas como as qualidades técnicas, mas também a capacidade de levar a bola para a frente», disse o treinador do PSG depois do jogo com o Montpellier.

Já soma 15 jogos pelo PSG, quatro deles começando de início. No meio de muitas lesões, ganhou a titularidade no clássico frente ao Mónaco, no fim de semana passado. O PSG perdeu, mas WZE voltou a marcar um golo. E depois voltou a entrar no onze para um teste de fogo frente ao Bayern Munique. O duelo da primeira mão da Champions não foi feliz para o PSG nem para o jovem médio, mas Galtier diz que não hesitará em cotinuar a apostar nele. «Se um jogador jovem de 16 anos, em breve 17, me parecer mais apto para jogar que outros, jogará seguramente», afirmou o treinador.

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