Foi preciso ir a Bragança
Na primeira parte e nos minutos iniciais da segunda em Eindhoven, o Sporting foi uma sombra de si mesmo. Os leões estiveram presos num colete de forças até à entrada em campo do jogador que Ruben Amorim diz ser o mais injustiçado desde que está no Sporting.
E que, vendo bem agora as coisas, terá começado, injustamente, o jogo no banco.
O campeão nacional parecia ser aquilo que os adversários são habitualmente perante ele: presas com dificuldades para sobreviverem perante tamanha asfixia dos homens do meio-campo e do ataque do PSV, que se colocou na frente do marcador aos 15 minutos quando Schouten, aproveitando um passe de risco de Debast e o desequilíbrio posicional dos leões, colocou os neerlandeses em vantagem.
Essa foi uma das más notícias na primeira parte. A outra foi a lesão de Diomande no tornozelo esquerdo.
A segunda parte começou com o PSV a ser uma extensão dos 45 minutos iniciais. Pressão alta, agressividade sobre o portador da bola e ainda mais perigo a rondar a baliza de Franco Israel. Saibari, Til, Tillman.
Foi preciso ir a Bragança
O leão cambaleava, mas aguentava-se de pé. Até que a entrada de Daniel Bragança, aos 52 minutos, aproximou a equipa de Ruben Amorim daquilo que ela é quase sempre: dominadora.
Mais do que permitir ao Sporting ganhar ascendente no meio-campo, Bragança foi o elo de ligação que faltara ao ataque na primeira parte e naqueles seis minutos a mais da segunda que se jogaram sem ele. Geny Catamo tinha dificuldades para subsistir, Trincão aparecia a espaços e Gyökeres era alvo de marcações impiedosas de Flamingo e Boscagli.
Com tremendas dificuldades para ligar os setores na primeira parte, turnovers e demasiadas unidades em sub-rendimento os leões passaram finalmente a ser uma equipa como um todo, pela inteligência posicional do 23 do conjunto de Amorim, mas também porque a pressão dos jogadores do PSV sobre o portador da bola já não tinha a mesma eficácia. E isso permitiu que, com mais espaço e tempo de execução, os erros (forçados e não forçados) do Sporting caíssem, jogadores como Hjulmand e Morita crescessem no meio-campo e Gyökeres fosse mais alimentado.
Num espaço de dez minutos, Bragança (duas vezes) e Eduardo Quaresma tiveram ocasiões para marcar. O defesa, numa infiltração desde a defesa que terminou com uma inacreditável escorregadela – foram, estranhamente, muitas dos jogadores do Sporting – na cara do guarda-redes do PSV quando tinha tudo para fazer o empate.
É preciso dizer que, apesar do crescimento evidente em campo, a equipa de Ruben Amorim continuou a sentir dificuldades para lidar com a mecânica dos neerlandeses do meio-campo para a frente.
Ao fogo do Sporting, o PSV respondia com fogo numa reta final de jogo frenética. E ameaçava o 2-0 que sentenciaria o duelo em Eindhoven, o que não aconteceu por manifesta incompetência de Bakayoko, que intercetou um mau atraso de Eduardo Quaresma para Franco Israel, mas depois rematou ao lado após contornar o guarda-redes uruguaio.
Por essa altura já estavam em campo Maxi Araújo e Conrad Harder. Um aumentou a força na frente obrigou os defesas do PSV a desdobrarem-se perante dois nórdicos possante e o outro deu mais qualidade ao meio-campo ofensivo.
Em dois minutos, o Sporting criou duas oportunidades. Na segunda, depois de uma de Harder, Bragança, Gyökeres e Maxi Araújo combinaram na perfeição até ao desvio certeiro de pé direito do médio na pequena-área neerlandesa.
O jogo estava com 84 minutos e nele havia duas equipas declaradamente em busca dos três pontos. Que assentariam melhor ao PSV, mas podiam perfeitamente ter viajado com o Sporting para Portugal, tivesse Conrad Harder sido mais feliz naquela última tentativa já em tempo de compensação.
Ainda assim, os leões arrancam um ponto em casa de um adversário da «mesma Liga», o que é sempre positivo na luta por um lugar de acesso direto aos oitavos de final da Champions ou de play-off.