Champions: Benfica-Bolonha, 0-0 (crónica)

David Silva , Estádio da Luz, Lisboa
11 dez 2024, 21:55

Procrastinar, essa arte tipicamente mediterrânica

É p’ra amanhã, bem podias fazer hoje. Já dizia António Variações, famoso cantor e intérprete português, sumariando um comportamento tão português – a procrastinação. Recorrer à calculadora é outro habitué lusitano aplicado ao futebol e o Benfica… não foge à regra, adiando as decisões para as últimas duas jornadas da fase regular da Champions.

Com a hipótese de assegurar na prática um lugar no playoff da Liga dos Campeões, os encarnados empataram a zeros, em casa, diante de outro adversário do Sul da Europa – o Bolonha, de Itália, país dado também ao adiamento do inevitável. Especialmente numa noite tão fria quanto a que sentiu em Lisboa, nesta quarta-feira.

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O Bolonha partia para esta partida ainda à procura da primeira vitória na Liga dos Campeões. O clube italiano nunca tinha chegada até esta competição apesar da sua história centenária, sempre 'tapado' por outros emblemas como o AC Milan, Inter de Milão, Juventus ou Lazio. Na Luz, procuravam por fim a glória europeia, com uma bela falange de apoio.

O treinador do Bolonha, Vincenzo Italiano (que orientou Arthur Cabral na Fiorentina), operou uma revolução no onze inicial para este jogo. Depois de um respeitável empate a duas bolas no terreno da Juventus (2-2), Italiano promoveu a entrada de vários suplentes no onze. Jogadores como Casale, Iling-Junior, Moro ou Urbanski raramente tinham sido opção de início nesta temporada.

Já Bruno Lage repetiu a mesma fórmula que o tem levado ao sucesso neste regresso à Luz. Usou o 4-3-3 típico, na máxima força, com o regresso de Orkun Kokçu, que esteve suspenso na Liga, a render Leandro Barreiro.

Gritou-se golo aos três minutos, mas de nada adiantou

O Benfica entrou na partida logo com promessa de golos. Introduziu a bola nas redes da baliza do Bolonha logo aos três minutos, mas o tento não contou. O Bolonha perdeu a bola em zona proibida, Di María contemporizou e assistiu Pavlidis na cara de Skorupski, mas o grego estava ligeiramente adiantado. Fica o pormenor da finalização.

Já o Bolonha começou a encontrar os caminhos para contornar a pressão alta do Benfica e obrigava os jogadores da casa a recuar a meio do seu meio-campo, impedindo surpresas maiores nas costas da defesa. Os italianos tentavam furar pelas alas, com Urbanski e Iling-Junior mais ativos, mas a defesa do Benfica lá ia impedindo males maiores.

A equipa de Bruno Lage só 'tirava a cabeça da areia' através de transições, com destaque para um remate de Di María à meia-hora, após passe em abertura de Akturkoglu. As bancadas da Luz tiveram de esperar até aos 43 minutos para assistir à melhor jogada, com 'cabeça, tronco e membros', desenhada pelo Benfica.

Aursnes abriu para Carreras, o lateral driblou um oponente e cruzou para Di María. O argentino 'explodiu' de primeira mas o experiente Skorupski defendeu para canto. Pouco depois, Carreras teve hipótese de fazer melhor – desferiu um remate que acabou intercetado, quando tinha Di María sozinho dentro da grande área.  Acabava uma primeira parte gélida, tal como a temperatura sentida no Estádio da Luz.

Lukasz Skorupski trancou a baliza do Bolonha 'a sete chaves'

O Benfica entrou melhor na segunda parte – sem quaisquer substituições -, a conseguir ter a posse durante mais tempo e no meio-campo adversário, sendo que o Bolonha quase nunca pisava o terreno defendido pelo Benfica. Aursnes surgia mais vezes em movimentos de rutura, Di María tinha bola e só iam faltando as chances de golo dentro da área adversária. A melhor oportunidade até surgiu num cruzamento/remate de Bah.

Mas o Bolonha não se redimiu. Trubin teve de aquecer de novo as luvas com um remate forte de Dallinga, neerlandês que fugiu em velocidade ao veterano Otamendi. As bancadas da Luz iam ficando em polvorosa (mais ainda com as perdas de tempo dos visitantes).

A noite de azar de Pavlidis teve ainda mais um episódio. Um cruzamento para a pequena área caiu quase por milagre nos seus pés. Com Skorupski no chão, parecia mais fácil marcar do que falhar. Mas a verdade é que o polaco reagiu com uma rapidez impressionante e fez a mancha ao grego. De levar as mãos à cabeça.

Foi preciso esperar até aos 70 minutos para que Bruno Lage mexesse na equipa. Beste e Amdouni entraram para os lugares de Pavlidis e Akturkoglu. Pernas frescas no ataque. Já o Bolonha fez quatro trocas de uma assentada, especialmente no meio-campo.

A quinze minutos do final, Skorupski foi mais uma vez preponderante. Amdouni driblou sobre um adversário e rematou de pé esquerdo para mais um voo do polaco, consolidando o estatuto de figura da partida. E se não surgia o guardião, era o capitão Ferguson que dava o corpo ao manifesto, bloqueando um remate de Di María.

Com dois jogos até ao final desta fase, em casa com o Barcelona e fora com a Juventus, o Benfica põe em risco o apuramento. Tem apenas mais três pontos do que a 'linha de água', ocupada pelo PSG. Já o Bolonha ainda tem chances de manter-se na Europa... mas terá de ganhar os dois próximos jogos (um deles contra o Sporting, na última jornada). 

É p'ra amanhã/ Deixa lá não faças hoje/ Porque amanhã tudo se há de arranjar.

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