Champions: Benfica-Dínamo Kiev, 2-0 (crónica)

Luís Pedro Ferreira , Estádio da Luz, Lisboa
8 dez 2021, 22:04

Nos oitavos, nos milhões, mas sem paz

O Benfica passou aos oitavos de final da Liga da Campeões ao fim de uma série de equívocos noutras épocas. A noite na Luz teria desta vez um final feliz. De Lisboa a Munique, todos os desígnios foram cumpridos, mas a história desta qualificação merece ser contada desde início e não apenas com a assobiadela, o ‘milagre’ e a vitória que os 90 minutos desta noite proporcionaram. 

O dérbi com o Sporting abriu uma ferida. Grande ao ponto de, na noite em que se jogava tudo na Liga dos Campeões a equipa era aplaudida e o treinador assobiado. Esse momento pré-jogo, no aquecimento, mostrava o estado de coisas: os adeptos estavam com os jogadores, nem tanto com Jorge Jesus.

No fundo, o Benfica jogava a passagem aos oitavos de final, o técnico jogava a opinião dos que seguem o clube e jogava três peças diferentes em relação ao dérbi: Gilberto, Yaremchuk e Pizzi. Quase todas elas com melhor rendimento que as que substituíram.

É verdade que o Benfica passou por gritar um golo que não foi pelos pés de Yaremchuk e Rafa e acabou a acreditar em milagres, quando Tsyngakov compensou o falhanço de Seferovic em Barcelona.  

Porque, como se disse, a história desta qualificação não passa apenas nestes 90 minutos. O Benfica chegou aos oitavos porque só não conseguiu ser forte como o Bayern Munique. De resto, foi mais forte que o Barcelona na Luz, foi igualmente forte aos catalães em Camp Nou e foi, por duas vezes, mas com uma só vitória, ligeiramente mais forte que o Dínamo Kiev.

O que nos leva, então, aos 2-0 desta quarta-feira. O Benfica teve como plano pressionar o Dínamo Kiev praticamente a campo inteiro e, desde início, onde se via um jogador visitante, havia uma camisola encarnada. Eram referências individuais a todo o terreno, com as águias a beneficiarem várias vezes da recuperação da bola em zonas avançadas.

Ainda assim, o Benfica sentia muitas dificuldades quando estava em ataque posicional e só em transição conseguiu de facto entrar na área ucraniana. O 1-0 é o grande exemplo. Bola na área do Benfica, bola dentro das redes do Dínamo. Os ucranianos deixaram o Benfica fazer o que o Sporting nunca permitiu na última sexta-feira.

A correria de João Mário e as combinações com Pizzi e Rafa Silva colocaram o médio na área e a servir um Yaremchuk fino na área e melhor ainda no golpe. O 1-0 encaminhava o Benfica para Nyon, onde é o sorteio, mas a história do jogo ainda tinha muitos episódios para contar.

Desde logo, o 2-0, numa felicidade de Gilberto, que gritou a plenos pulmões o golo com «assistência» de Verbic. O resultado era perfeito e de Munique começavam a chegar as notícias que toda a gente sabia que chegariam. O Bayern estava a bater o Barcelona.

Ao intervalo, o resultado na Luz era justo. O Benfica era mais agressivo que o D. Kiev, mais lúcido, enfim, era melhor, apesar de os últimos instantes do primeiro tempo trazerem alguma apreensão pois o Dínamo crescera.

Este último parágrafo alterou-se de modo profundo na segunda parte. O Dínamo saiu para o descanso com maior posse de bola e não só a aumentou como a tratou melhor. Por isso, Vlachodimos viu a bola passar perto dos postes várias vezes, teve de fazer defesas apertadas noutras situações e, da bancada, surgiam aflições e pediam-se satisfações: por que é que Jesus não mexia?

De facto, o Benfica há muito que perdera gás. Deixou de ser pressionante, deixou de correr como nos 45 minutos iniciais. Yaremchuk estava em perda física e já não incomodava a construção dos visitantes. Pizzi nunca foi brilhante na noite, mas começou a perder importância também porque não tinha bola. Aos poucos, o 2-1 ganhava probabilidade, até que Jesus foi ao banco buscar pernas novas, como os adeptos lhe exigiam de forma veemente. O Benfica melhorou um pouco e isso, com o relógio, trouxe um final de partida mais pacífico.

O que não significa que haja paz, sobretudo entre o banco e a bancada. Daí que, mesmo com o objetivo alcançado, milhões nos cofres a entrar e a equipa junto das maiores da Europa, o que se passou na Luz nesta noite mostrou bem uma coisa: Jesus não está a ser ‘julgado’ apenas pelos resultados. As dificuldades do segundo tempo e os sons da bancada têm de obrigar o técnico a refletir, mesmo numa noite de final feliz, como esta, em que o Benfica passou a fase de grupos como na minoria das ocasiões fizera até aqui.

 (Imagens vídeo Eleven Sports).

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