Bastonário da Ordem dos Médicos duvida que as regras para a contenção da covid-19 terminem no início de Abril

Agência Lusa , CE
18 mar 2022, 16:50
Miguel Guimarães

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, disse esta sexta-feira que “a libertação total” quanto às medidas para travar a pandemia da covid-19 “muito dificilmente acontecerá daqui a 15 dias” e apelou ao cumprimento de regras. 

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse que, percebendo que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia esteja a dominar a ordem do dia, no que se refere à pandemia, “o aspeto” que mais o “preocupa” é “a informação”.

“Neste momento julgo que a libertação total muito dificilmente acontecerá daqui a 15 dias porque a fase que temos é de aumento da pandemia”, disse Miguel Guimarães que falava aos jornalistas, no Porto, após uma visita ao Hospital de São João.

“A guerra é, neste momento, a questão que mais colhe todas as dimensões internacionais e nacionais, mas há muitas pessoas na Europa, e em Portugal, que já não estão a cumprir as regras que ainda existem e devem ser cumpridas [por causa da covid-19]”, acrescentou.

Miguel Guimarães referiu que para se atingirem, até ao final deste mês, os objetivos propostos pelo Ministério da Saúde e Direção-Geral da Saúde “era fundamental que as pessoas cumprissem”, razão pela qual quis passar uma “mensagem forte e realista”.

“A letalidade é relativamente baixa, mas é só relativamente baixa. A gravidade da doença está a diminuir, mas a incidência é alta. Se as pessoas cumprirem, poderemos regressar à dita normalidade, mas a nossa normalidade vai incluir procedimentos novos”, concluiu.

O bastonário falava ao lado do infeciologista António Sarmento, diretor de serviço de doenças infeciosas do Hospital de São João, no Porto, que mostrou opinião e preocupações semelhantes.

“Com esta preocupação da guerra, que é perfeitamente legitima, infelizmente começamos a esquecer-nos um bocadinho que a pandemia ainda cá está. Discordo completamente dos dias da libertação. Parece que no dia anterior estava tudo mal e no dia seguinte à libertação está tudo bem”, referiu.

António Sarmento defendeu que “as pessoas não se podem esquecer de manter comportamentos por iniciativa própria e mesmo que não sejam impostos” porque “têm de compreender que a transmissão na comunidade ainda é muito significativa”.

O diretor do serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de São João admitiu que “a doença tem sido ligeira” para os mais jovens, às vezes até não mais do que uma gripe ligeira, mas alertou: “não é ligeira na franja de populações vulneráveis”.

“Porque nessas pessoas é como se não tivessem sido vacinadas, nomeadamente os transplantados de órgãos sólidos. Esses continuam a morrer (…). O jovem sabe que está protegido porque mesmo que apanhe a doença pode não lhe acontecer nada, mas o avô dele pode não estar”, disse.

António Sarmento, que defendeu uma “libertação gradual” e pediu “um sentido de bem comum na sociedade”, contou aos jornalistas que “há poucos dias todos os doentes críticos com covid-19” internados neste centro hospitalar do Porto em cuidados intensivos eram, exceto um, doentes transplantados.

“A doença continua a matar essas pessoas”, sublinhou.

O Governo prolongou na quinta-feira a situação de alerta devido à pandemia de covid-19 até ao dia 30 de março, segundo o comunicado do Conselho de Ministros.

A situação de alerta, nível mais baixo de resposta a situações de catástrofes da Lei de Base da Proteção Civil, terminava na próxima terça-feira.

Segundo o Governo, a resolução, que entra em vigor no dia 23 de março, mantém inalteradas as medidas atualmente em vigor.

Entre as medidas em vigor está a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços interiores públicos, serviços de saúde e transportes.

Para quem não tem a dose de reforço da vacina contra covid-19, mantém-se a obrigatoriedade do teste negativo ao coronavírus SARS-CoV-2 nas visitas a lares e em estabelecimentos de saúde, tendo em conta que são grupos de especial vulnerabilidade.

Segundo os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde, em Portugal, desde março de 2020, morreram mais de 21.300 pessoas e foram contabilizados mais de 3,4 milhões de casos de infeção.

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