Torres de cereais desabam dois anos após tragédia no porto de Beirute

Agência Lusa , FMC
4 ago 2022, 17:27

Com 50 anos de existência e 48 metros de altura, os silos do porto de Beirute desabaram, depois de constituírem a única estrutura local que permaneceu de pé depois da explosão que provocou mais de 200 mortos

Quatro torres de cereais desabaram esta quinta-feira no porto de Beirute, pouco antes da chegada de centenas de pessoas que se manifestavam para exigir justiça pelos mais de 200 mortos na explosão registada no mesmo local há dois anos.

O colapso aconteceu menos de uma hora antes de centenas de pessoas se reunirem do lado de fora das instalações do porto para marcar o segundo aniversário da explosão.

As autoridades já tinham evacuado a zona do porto no início desta semana – depois de uma secção inicial dos silos se ter desmoronado no domingo – como medida de precaução, pelo que não há indicação de que alguém tenha ficado ferido.

No domingo tinha-se desmoronado uma secção dos silos, na sequência de um incêndio que durou mais de uma semana e acabou por fermentar os cereais, inflamando-os.

Os manifestantes iam reunir-se no porto de Beirute para assinalar o segundo aniversário da explosão no porto da capital, que há dois anos provocou a morte de mais de 200 pessoas, feriu mais de 6.000 e destruiu bairros inteiros.

Com 50 anos de existência e 48 metros de altura, os silos constituíam um símbolo da tragédia, já que eram a única estrutura local que permaneceu de pé depois da explosão.

Os manifestantes iniciaram, esta manhã, três marchas e tinham combinado reunir-se às 17:00 locais (15:00 em Lisboa) no porto marítimo da cidade. Um dos protestos partiu da sede dos bombeiros em Karantina, instalação adjacente ao porto, onde 10 membros da corporação morreram quando tentavam extinguir o incêndio que provocou a explosão.

Cerca de duzentas pessoas reuniram-se nestas instalações esta quinta-feira, algumas das quais vestiam roupas brancas com manchas de tinta vermelha para simbolizar o sangue derramado e outras empunhavam fotografias das vítimas ou bandeiras libanesas.

Manifestantes exigem justiça: "Até que nos encontremos novamente, continuaremos a lutar por justiça”

Muitos dos manifestantes levavam cartazes com frases como “Até que nos encontremos novamente, continuaremos a lutar por justiça” ou “Precisamos de uma justiça com a mesma magnitude do desastre”.

A investigação da tragédia está suspensa desde dezembro passado, na sequência da última das mais de 25 petições apresentadas por ex-responsáveis de cargos elevados que são suspeitos no caso contra o juiz encarregado da investigação, cujo trabalho tem enfrentado recorrentes obstruções, segundo várias organizações de direitos humanos.

Organizações humanitárias e parentes das vítimas querem que seja feita uma investigação internacional, dada a falta de progressos da justiça libanesa e pediram ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que envie uma missão de investigação para Beirute.

As toneladas de nitrato de amónio que explodiram na cidade em agosto de 2020 estavam guardadas há vários anos num armazém portuário, sem quaisquer medidas de segurança, sendo que líderes como o Presidente libanês, Michel Aoun, e o então primeiro-ministro, Hasan Diab, reconheceram que sabiam da sua existência.

Depois de um ato emotivo no pátio do quartel-general dos bombeiros, a marcha partiu de Karantina, entre aplausos e ao som de tambores e trompetes, liderada por um carro de bombeiros e um carro ligeiro onde estava amarrada uma bandeira libanesa manchada de vermelho.

Outra das marchas reuniu-se no centro da cidade, enquanto uma terceira começou, no início da tarde, em frente ao Palácio da Justiça e fez uma paragem na embaixada de França em Beirute para pedir apoio na sua luta por justiça.

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