Foi a própria princesa Leonor que quis vir a Portugal numa visita marcada pelo ambiente
"Se se tratasse de Joe Biden nunca estaria tão próximo, haveria milhares de seguranças e as estradas seriam cortadas". No meio de uma visita diplomática carregada de relevo para Portugal e Espanha, foi a incredulidade de um norte-americano que saltou à vista. Uma família que veio da Virgína até Lisboa fez coincidir uma visita ao Oceanário com a primeira deslocação oficial da princesa das Astúrias, Leonor de Borbón e Ortiz, futura rainha de Espanha que escolheu a capital portuguesa para tal desígnio.
Talvez pelo mediatismo de uma primeira visita de Estado, à espera da princesa estavam no Oceanário dezenas de jornalistas, fotógrafos e transeuntes. Entre as centenas que paravam para ver o que se estava a passar, uma família americana observava com bastante admiração e surpresa a falta de segurança num evento desta importância. "Onde estão os atiradores?", questionava o pai, surpreendido com a proximidade que se encontrava do chefe de Estado português, para depois lançar a pergunta sobre o seu próprio presidente, ao redor do qual "haveria milhares de seguranças e as estradas seriam cortadas”.
O filho intervém e relembra que uma vez ficou parado no trânsito mais de uma hora porque cortaram a autoestrada para o presidente dos EUA passar. Também estavam surpreendidos com o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter chegado em primeiro lugar, mas as regras de protocolo portuguesas ditam que, por se tratar de uma convidada estrangeira, o Presidente da República deve recebê-la, explica a equipa de protocolo da visita.
Oceanos, uma escolha real
"Já se vê o impacto?" Depois de uma detalhada explicação sobre o trabalho de preservação e utilização sustentável do oceano da Fundação Oceano Azul, esta foi a única pergunta feita pela jovem princesa das Astúrias. Num perfeito inglês, Leonor de Borbón y Ortiz demonstrou uma preocupação pelos resultados imediatos dos esforços da Fundação. Apesar da maturidade com que se apresenta, a sua intervenção revela a tenra idade - 18 anos. Tal como os jovens ambientalistas que se manifestam por todo o mundo, a futura rainha de Espanha vê urgência em salvar os oceanos, tema central na primeira visita de Estado, que se realizou esta sexta-feira em Lisboa.
“Surpreendeu-me pela positiva. Mostrou interesse no impacto real da bioeconomia”, destaca Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação, em declarações à CNN Portugal. Respondendo à curiosidade da princesa, o responsável aproveitou para abordar o consórcio Nova Mar, uma associação de bioeconomia que a Fundação Oceano Azul ajudou a montar. Nela estão reunidos seis grupos económicos portugueses e 100 startups que permitiram “criar um real impacto”.
Mas antes de ver uma audiência a tentar convencê-la dos efeitos práticos do trabalho da Fundação, Leonor realizou uma visita ao Oceanário de Lisboa. Vestida a rigor com um fato Carolina Herrera, vermelho, cor de Espanha, percorreu as salas dedicadas aos quatro principais ambientes marinhos. Acompanhada de Marina Duarte, bióloga e educadora marinha, Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Pitta e Cunha, a princesa juntou-se aos visitantes como se fosse um qualquer turista - as visitas ao Oceanário continuaram a decorrer sem interrupções - e conheceu várias espécies de animais, incluindo os pinguins.
Durante toda a visita ao Oceanário, a tímida, mas amável princesa manteve-se atenta a todas as explicações. Para terminar a agenda direcionada para a conservação dos oceanos e proteção do ambiente, algo do interesse pessoal da princesa, realizou-se uma apresentação do trabalho da Fundação Oceano Azul na sala Sophia de Mello Breyner.
Sentada do lado direito, lugar cedido por Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor de Borbón y Ortiz assistiu atentamente a vídeos sobre a criação de áreas marinhas protegidas em alto-mar, incluindo na Madeira e nos Açores.
Numa curta intervenção, o Presidente da República apontou uma diferença entre "o modo como o mundo está a reagir em relação às alterações climáticas, muito rapidamente, e o modo como está a reagir em relação aos oceanos". Na sua opinião, falta compreensão sobre a ligação entre as alterações climáticas e os oceanos. É que para Marcelo Rebelo de Sousa "a primeira luta começou cedo, a segunda um pouco tarde", pelo que "temos de recuperar".
Tiago Pitta e Cunha concorda que é preciso “tomar decisões o mais rápido possível”. Um dos esforços da Fundação é na “criação de literacia produzida pelos cientistas”, explica o especialista em assuntos do mar, distinguido com o Prémio Pessoa 2021, acrescentando que “há uma falta de liderança para a agenda dos oceanos". É por essa razão que a literacia é tão importante. É através dela "que os decisores políticos podem tomar decisões relativas às áreas marinhas”, desenvolve o especialista, em conversa com a CNN Portugal.
Este ano a principal aposta da Fundação é na concretização de iniciativas de grande impacto, tal como o Blue Azores, o Manifesto para um Pacto Europeu do Oceano, a Expedição Científica ao Banco de Gorringe, e a preparação para a 3.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que terá lugar em Nice em junho 2025.
Desta visita, Tiago Pitta e Cunha espera que surja a oportunidade de trabalhar diretamente com Espanha, querendo tirar partido do facto de o atual governo espanhol “ser bastante progressista nestas questões do ambiente”. Não é a primeira vez que a Fundação Oceano Azul recebe uma personalidade relevante - Emmanuel Macron, entre outros chefes de Estado, também já passou por ali -, mas é a primeira vez que recebem uma “futura líder tão jovem”. Dado que um dos esforços da Fundação é captar as gerações mais jovens para o tema da conservação dos oceanos, o administrador executivo sente que esta visita marca uma mensagem entre os mais jovens, sobretudo por ter sido uma agenda escolhida pela princesa.
Leonor de Borbón y Ortiz saiu desta visita com um convite para se juntar à expedição científica ao Banco de Gorringe, uma formação geológica situada 300 quilómetros a sul do Algarve e do tamanho da região autónoma de Madrid. “Não é fácil lá chegar”, confessa o administrador executivo da Fundação, informando que a expedição contará com cinco navios, incluindo o Santa Maria Manoela. A princesa não deu garantias que aceitaria o convite, mas Tiago Pitta e Cunha reforça que “terá todo o gosto em recebê-la se ela quiser”. “E ao Presidente da República também”.
Enquanto todos aguardavam pela princesa, Marcelo Rebelo de Sousa, não hesitou em cumprimentar algumas crianças que, à torreira do sol, aguardavam entusiasmadas pela oportunidade de abraçar o Presidente da República. Mas não foi só Marcelo que captou a atenção das crianças. À saída da princesa pôs todos a gritar “Portugal e Espanha! Portugal e Espanha”. E lá no fundo ainda se ouviu baixinho: “Mãe, é uma princesa de verdade”.