Morte de centenas de leões-marinhos preocupa cientistas. Estará o vírus H5N1 a passar de mamífero para mamífero?

16 fev 2023, 11:28
Leões marinhos encontrados mortos no Peru (Foto: Sernanp)

Animais foram encontrados em várias praias e áreas protegidas do Peru. Os investigadores analisaram seis espécimes e detetaram o vírus H5N1 em todos, mas as autópsias de muitos outros mostram vestígios da gripe das aves: pneumonia hemorrágica nos pulmões e encefalite hemorrágica no cérebro

Centenas de leões-marinhos mortos deram à costa nas praias do Peru desde janeiro. Os animais, mamíferos que podem chegar a pesar 350 quilos, sofrem com convulsões e afogamentos antes de morrer. Nunca tinha sido observado algo do género na região.

Uma equipa de investigadores confirma agora ao El País que o culpado do surto é o "salto" do vírus da gripe aviária A (H5N1) de aves marinhas para estes mamíferos selvagens. E os investigadores, peruanos e argentinos, não descartam uma hipótese assustadora: que o vírus tenha "aprendido" a passar de mamífero para mamífero, como aparentemente aconteceu numa quinta de martas em Espanha, no mesmo mês. A serem confirmados estes dois episódios, será a primeira vez que tal ocorre na natureza.

De acordo com a publicação, a teoria dos investigadores é que os 634 leões-marinhos mortos detetados foram infetados um a um, de forma independente, ao conviver com aves doentes ou ao alimentar-se dos seus cadáveres, explica o biólogo argentino Sergio Lambertucci, um dos líderes da investigação. Contudo, o cientista destaca um episódio suspeito: a 27 de janeiro, 100 leões marinhos foram encontrados mortos a boiar nas águas da Isla Asia, a menos de 100 quilómetros a sul de Lima.

“Não seria estranho se alguns deles tivessem comido aves infetadas, mas todos?”, questiona o cientista, do Instituto de Investigação em Biodiversidade e Meio Ambiente, da cidade argentina de San Carlos de Bariloche.

Já o veterinário holandês Thijs Kuiken, especialista em doenças emergentes, é cético em relação à hipótese de que cada leão-marinho tenha sido infetado por conta própria. “Dado o grande número de espécimes encontrados mortos, parece mais provável que tenha havido transmissão direta entre leões-marinhos”, diz Kuiken, do Erasmus University Medical Center, em Roterdão.

"É preocupante", avisa ainda o veterinário. "Este é o segundo episódio de mortalidade em massa que sugere que este vírus pode adaptar-se rapidamente à transmissão eficiente de mamífero para mamífero. Se ocorre em martas e leões-marinhos, por que não acontecerá também em humanos?", adverte.

A mesma equipa de cientistas peruanos e argentinos já alertava a 19 de janeiro na revista Science que a chegada do vírus da gripe aviária ameaçava aves protegidas na América do Sul, entre elas o condor-dos-andes. Os investigadores decidiram agora publicar com urgência o primeiro rascunho do estudo sobre leões marinhos, sem esperar a conclusão.

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