Porque podem os seus videojogos antigos valer milhões

CNN , Megan C. Hills
2 dez 2021, 09:00
Videojogos

Quando Roberto Dillon começou a colecionar videojogos antigos, há mais de 12 anos, vasculhou sites de leilões e contactou pequenos grupos de pessoas com este passatempo, para reunir um arquivo pessoal que tem agora centenas de títulos. Mas, na altura, havia consenso entre os colecionadores de que comprar jogos antigos era "uma moda passageira", disse o académico e criador de jogos.

A maioria dos colecionadores sentia-se simplesmente "nostálgica" pelos seus jogos de infância, explicou Dillon numa entrevista em vídeo. "Não havia a ideia de que os jogos se poderiam tornar artefactos do passado que queremos conservar e preservar."

Mas isso parece estar a mudar. Em agosto, uma cópia fechada de “Super Mario Bros”, lançada em 1985, estabeleceu um novo recorde mundial ao ser vendida por dois milhões de dólares no site de coleções ​Rally. Criado para a original Nintendo Entertainment System (NES), foi o terceiro título vintage a quebrar o recorde do jogo mais caro do mundo, em menos de um mês.

Algumas semanas antes, uma cópia selada de “Super Mario 64”, de 1996, tornou-se o videojogo mais caro a ser vendido em leilão, arrecadando 1,5 milhões de dólares e quebrando um recorde estabelecido dois dias antes com os 870 mil dólares de uma cópia de 1987 de “The Legend of Zelda”.

Uma cópia de “The Legend of Zelda” tornou-se o videojogo mais caro quando foi vendido por 870 mil dólares num leilão, mas o recorde manteve-se durante apenas dois dias. Cortesia Heritage Auctions  

O mercado de jogos vintage está a evoluir rapidamente, com as leiloeiras atentas e os serviços de classificação de jogos, como a Wata Games, a fornecer certificação para o mercado emergente. (A Wata deu à cópia recordista de “Mario” uma pontuação quase perfeita de 9,8 em 10, com base no estado da caixa, do cartucho e do manual). A aprovação de um especialista pode agora transformar uma cópia de “Pokémon” de uma venda de garagem num investimento de centenas de milhares de dólares.

Artefactos Culturais 

Colecionar não é apenas o passatempo de Dillon, é parte do seu trabalho. Ele é o fundador e curador do Museu de Jogos de Vídeo e de Computador da Universidade James Cook em Singapura, que regista a evolução do setor através de uma coleção de 400 artigos ligados aos jogos.

Os videojogos retro tornaram-se uma espécie de relíquia moderna, segundo Dillon, numa mistura de nostalgia, cultura pop e história tecnológica.

“Mostram-nos realmente como a tecnologia evolui com o tipo de gostos que tínhamos em jogos antes”, disse ele.

Um cliente compra jogos “Pokémon” recém-lançados em 1999, em Tóquio. Créditos: Yoshikazu Tsuno/AFP/Getty Images

Mas nem toda a gente que guardou os seus jogos antigos da Nintendo ou da Sega ganhará uma fortuna. Muitos fatores ditam o valor de um videojogo, desde o número de unidades produzidas e a região onde o jogo foi lançado, até se o cartucho vem na sua caixa original com todos os manuais intactos.

O “Santo Graal" são as primeiras edições fechadas e embaladas de títulos icónicos. "Após abrir a embalagem, o valor do jogo cai para metade", explicou Dillon.

O aparecimento da avaliação e classificação profissionais transformou o espaço, tornando mais fácil para os compradores avaliarem o estado das suas compras. E embora colecionar jogos fosse, no passado, um passatempo confinado ao eBay, ao Reddit e aos grupos e fóruns do Facebook, o interesse das leiloeiras famosas está a ajudar a aumentar os preços, abrindo o mercado a novos colecionadores, que vão de tradicionais investidores em arte a entusiastas da BD e dos cromos.

Segundo Illiana Bodnar-Horvath, diretora de marketing da leiloeira de colecionáveis ​​de luxo Macey and Sons, o interesse nos videojogos retro reflete o apetite crescente dos investidores online por "ativos não tradicionais", como sapatilhas, cromos de coleção e NFT, non-fungible tokens.   

"Recentemente, vimos um aumento de pedidos mais ecléticos dos nossos clientes em busca de itens colecionáveis ​​raros e únicos", disse ela por e-mail, acrescentando: "Acreditamos que as pessoas investirão sempre em ativos tradicionais, como ações e imóveis, mas os ativos alternativos são exatamente isso. "

Em vez de jogos com produção limitada, são os títulos clássicos dos franchises mais populares que conquistam os lances mais altos. Dillon disse que isso pode ser em parte porque os novos colecionadores estão mais dispostos a investir em personagens conhecidas que apelam ao seu sentido de nostalgia, como é o caso de Mario, Cloud Strife de “Final Fantasy VII” ou Link, o protagonista de “Zelda”.

A cópia de 1,5 milhões de dólares de Super Mario 64. Cortesia Heritage Auctions

Na venda de julho da Heritage Auctions, que gerou 8,4 milhões de dólares e incluiu as vendas já mencionadas de “Super Mario 64” e “Legend of Zelda”, os títulos ligados a Mario dominaram os principais lotes, juntamente com edições antigas das séries “Final Fantasy” e “Tomb Raider”. 

Mas as leis da oferta e da procura continuam a aplicar-se. Por mais comuns que estes títulos já tenham sido, encontrar cópias em perfeitas condições, na sua embalagem de plástico original selada, é outra história. E outros fatores podem aumentar o valor pedido. O cartucho de “Super Mario Bros” NES de dois milhões de dólares, por exemplo, vinha numa caixa de exibição especial, de pendurar, enquanto que o jogo “Legend of Zelda” de 870 mil dólares era uma cópia rara do início da produção.

O futuro das coleções

Com a indústria atual dos jogos a direcionar-se mais para as vendas exclusivamente digitais, seja por meio de plataformas de terceiros como a Steam ou diretamente através da PlayStation Network e da Nintendo Direct, possuir jogos físicos pode eventualmente tornar-se uma coisa do passado.

Mas os criadores de jogos já estão a pensar na próxima geração de investidores nostálgicos. Alguns criaram edições digitais para colecionadores contendo trabalhos artísticos exclusivos, bandas sonoras ou complementos. Outros estão a aprimorar as suas ofertas físicas. A Ubisoft lançou recentemente uma “Legendary Edition”, de 800 dólares, do jogo “Assassin's Creed: Origins”, que incluía uma estátua de resina de 74 cm da personagem principal, litografias assinadas por artistas de estúdio e um mapa-múndi desenhado à mão, entre outros itens colecionáveis. Foram lançadas menos de mil cópias, no mundo inteiro.

À medida que as vendas digitais se tornam a norma, Dillon prevê que esses jogos físicos de edição limitada se tornem os próximos grandes itens colecionáveis. “Daqui a vinte anos, os meninos de hoje terão um salário e vão querer recriar uma coleção de jogos de quando eram pequenos... vão procurar as edições de colecionador que foram lançadas, mas que eles não tiveram."

Mas Dillon não vai vender os seus jogos tão cedo. “Ainda espero poder passar a minha coleção a alguém, em algum lugar, e que esse alguém lhe dê valor”, disse ele.

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