António Costa deixou de pedir a maioria absoluta e conseguiu a segunda do PS

31 jan 2022, 00:42

O melhor caminho para António Costa conseguir a maioria absoluta foi, afinal, deixar de a pedir. O PS consegue pela segunda vez na história a maioria no parlamento, repetindo o feito apenas conseguido por José Sócrates

António Costa conseguiu a segunda maioria absoluta para o PS nas eleições deste domingo. Com todos os círculos nacionais contabilizados, Costa reúne 117 deputados, faltando ainda apurar os quatro deputados dos círculos eleitorais da Europa e do resto do mundo.

Quando José Sócrates conquistou 121 deputados, em 2005, fê-lo com 45,05% dos votos. Neste momento, António Costa já garantiu 41,68%, mas a percentagem de votos não chega para determinar o número de deputados. Este valor depende também da distribuição dos votos pelos círculos eleitorais.

Em 1999, o também socialista António Guterres conseguiu a segunda maior votação do PS com 44% dos votos, mas eles não foram suficientes para uma maioria no Parlamento. Com 112 deputados, Guterres teve de ir procurando entendimentos ao longo da legislatura. O seu Governo acabaria por cair dois anos mais tarde, em dezembro de 2001.

Na história da democracia, o país já viu noutras cinco ocasiões o Parlamento governado com maioria absoluta. Para além da vitória de José Sócrates, também Francisco Sá Carneiro governou em maioria com a Aliança Democrática em 1979 e em 1980, e Cavaco Silva, com o PSD, em 1987 e 1991.

A expressão tabu

No final de Dezembro, ainda os debates na televisão não tinham começado, António Costa disse, timidamente, em entrevista à CNN Portugal, que ambicionava com as eleições deste domingo conquistar "metade mais um" dos deputados na Assembleia da República.

A expressão "maioria absoluta" era tabu e o secretário-geral do PS foi encontrando outras maneiras de dizer o mesmo. O país precisava de "uma estabilidade para um governo de quatro anos" e a geringonça tinha chegado ao fim. "Eu não sinto confiança para dizer que essa é uma solução estável", disse António Costa no final do debate com Jerónimo de Sousa.

O tabu sobreviveu aos oito frente a frente com os outros líderes partidários e só se desfez quando os nove representantes dos partidos com assento parlamentar se reuniram num debate a nove. Nessa noite, António Costa não podia ter sido mais claro: "A melhor solução é ter uma maioria absoluta".

Mas este pedido teve um custo. As sondagens, que desde o início da campanha, apontavam para a vitória de António Costa, começaram a mostrar o socialista a perder votos e o PSD a ganhar terreno. Na tracking poll da CNN, houve um dia em que o partido de Rui Rio chegou mesmo a ultrapassar o PS.

António Costa percebeu o erro e mudou de estratégia. De repente, o diálogo à esquerda passou a ser possível. A uma semana das eleições, em entrevista à Rádio Renascença, António Costa reconheceu que "os portugueses não têm grande amor pela ideia de maioria absoluta".

Na mesma entrevista, Costa admitiu que a seguir às eleições teria de dialogar com todos os partidos. “A seguir às eleições todos vamos ter de falar com todos, concretamente com o Bloco de Esquerda. Nunca recusei qualquer conversa com o Bloco de Esquerda.”

Afinal, a melhor estratégia para conseguir a maioria absoluta foi mesmo deixar de a pedir.

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