Quem ganhou mais deputados, onde e a quem os conquistou? Uma análise aos resultados distrito a distrito

31 jan 2022, 07:45
António Costa conseguiu a segunda maioria socialista no Parlamento. Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP via Getty Images

António Costa ganhou as eleições, mas os seus parceiros de geringonça sofreram perdas significativas. Rui Rio ficou em segundo, sem perder muitos deputados em relação a 2019, mas há uma outra direita que saiu reforçada no Parlamento e ainda uma direita histórica que perdeu representação no hemiciclo. Mas, afinal, quem tirou deputados a quem?

Entre derrotas e conquistas, as novas contas do Parlamento fazem-se com pequenos ganhos (ou perdas) distrito a distrito e nem sempre os lugares na Assembleia da República se mantiveram dentro da mesma "família" política. O PS conquistou muitos lugares ao Bloco de Esquerda e à CDU, mas também os retirou ao PSD de Rui Rio. E os socialistas não foram os únicos a ir buscar deputados aos partidos da geringonça. Também o Chega conseguiu conquistar lugares aos partidos da esquerda, como mostramos mais à frente.

Onde é que o PS foi buscar a sua maioria?

O Partido Socialista não perdeu deputados em nenhum círculo eleitoral do território nacional, mas foi conquistando um deputado aqui e outro acolá até conseguir ir buscar 11 novos deputados em 10 círculos eleitorais diferentes. Nota: nos resultados globais provisórios, o PS soma apenas mais nove deputados do que na anterior legislatura porque ainda faltam contabilizar os quatro deputados eleitos pelos círculos de fora de Portugal.

E foi mesmo com pequenas conquistas no continente que António Costa conseguiu chegar à maioria. Onde o PS registou a maior subida no número de deputados em relação a 2019 foi no Porto, onde somou mais dois deputados aos 17 da anterior legislatura. Neste distrito, para além do PS, também a Iniciativa Liberal e o Chega conquistaram dois novos lugares cada um. Quem perdeu votos entre os portuenses foram o PSD (menos um deputado), o Bloco de Esquerda (menos dois deputados), a CDU (menos um deputado), o CDS (menos um deputado) e o PAN (menos um deputado).

Se considerarmos o PAN um partido de esquerda, podemos concluir que a esquerda em geral perdeu um deputado para a direita no distrito do Porto e que este foi para a Iniciativa Liberal ou para o Chega. Neste distrito, acabou a ideia de que o partido de extrema-direita não viria a conseguir ganhar expressão. Pelo contrário, André Ventura conseguiu um número de votos sete vezes maior do que o registado nas eleições de 2019 (42.998 votos em 2022 contra 5.707 votos em 2019).

Transferência de votos da esquerda para a direita

Outro dado curioso: em oito dos dez distritos onde o PS ganhou deputados, o Bloco perdeu pelo menos um. Isto aconteceu em Aveiro, Braga, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal e Porto, como já referido anteriormente. Mas tal como no Porto, nem todos os deputados perdidos pelo BE (e pela esquerda em geral) foram para o PS.

A maior derrota do Bloco foi em Lisboa, onde perdeu três deputados. Em Lisboa e no Porto foi, aliás, onde se deram as maiores transferências de lugares. E não é por acaso. Estes são os distritos que elegem mais deputados. Lisboa elege 48 deputados e o Porto 40.

Os partidos que sofreram derrotas neste círculo eleitoral foram, para além do Bloco, a CDU, que ficou com menos dois deputados, o CDS, que também perdeu dois representantes no Parlamento, e o PAN, que perdeu um deputado. Quem conquistou mais deputados em relação aos resultados de 2019 foram o Chega e a Iniciativa Liberal, com mais três cada um. PS e PSD também somaram mais lugares em Lisboa, mais um cada um.

Foi no distrito de Lisboa que se deu a maior transferências de lugares no parlamento da esquerda para a direita. Os partidos de esquerda (BE, CDU e PAN) perderam seis lugares e o único partido de esquerda que somou mais lugares (apenas um) foi o PS, tendo sobrado cinco lugares que foram distribuídos por PSD, IL e Chega.

Em Aveiro, o PS, o PSD e o Chega ganharam mais um deputado e quem perdeu foi o Bloco, dois deputados, e o CDS, um deputado. Mais uma vez, um lugar da esquerda parlamentar foi transferido para a direita.

Em Braga, a contagem é parecida, mas em vez do PSD, quem ganhou um deputado foi a Iniciativa Liberal, tal como o PS e o Chega. Os partidos que reduziram a sua representação neste círculo eleitoral também foram o Bloco, que ficou sem os dois deputados que tinha neste círculo eleitoral, e o CDS, que também aqui perdeu o seu deputado.

Em Coimbra, a troca de lugares é direta entre PS e Bloco: os socialistas foram os únicos que contabilizaram mais um deputado no distrito e os bloquistas os únicos que perderam.

Em Leiria, PS e Chega conquistaram mais um lugar, enquanto PSD e Bloco perderam um cada um.

Em Santarém, também António Costa e André Ventura contaram mais um deputado enquanto que quem perdeu foram o Bloco e a CDU. Mais uma vez, um lugar de um partido de esquerda no Parlamento foi transferido para a direita. Neste caso para a extrema-direita.

Em Setúbal, para além do PS e do Chega, aqui também a Iniciativa Liberal conquistou mais um lugar no hemiciclo. Neste distrito, a direita conquistou dois lugares à esquerda entre os deputados que Bloco, CDU e PAN perderam (menos um deputado cada um).

Mais trocas diretas

Em Bragança e em Vila Real, houve transferência de lugares direta entre PSD e PS. Em cada um dos distritos, os socialistas ganharam mais um deputado do que em 2019 e os sociais-democratas perderam um.

Em Évora, o deputado que a CDU perdeu foi ganho pelo PSD e, em Faro, o Bloco perdeu o seu mandato, que foi para o Chega.

Surpresas mesmo onde fica tudo na mesma

Em Viseu, apesar de a cor dos deputados não se ter alterado, os resultados deste domingo também trouxeram novidades. O "Cavaquistão" virou "Socialistão". Pela primeira vez em 17 anos, o PS conseguiu mais votos do que o PSD (foram 76.316 contra 67.674 dos sociais-democratas).

Em Beja, Castelo Branco, Guarda, Portalegre e Viana do Castelo, as cores dos deputados eleitos também não mudaram.

Na Madeira, o PSD, que tinha conquistado três lugares em 2019, repetiu este ano o número, mas em coligação com o CDS. Já no círculo eleitoral dos Açores, os dois mandatos sociais-democratas das últimas legislativas pertencem agora à coligação dos sociais-democratas com o CDS e com o PPM.

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