Rui Rio e um camião explicam ao país o programa do PSD

16 jan 2022, 10:00
Rui Rio, presidente do PSD

A campanha eleitoral arranca este domingo na estrada. O PSD mobiliza estruturas para a conquista de votos, mas será que escapa às sondagens que voltam a colocá-lo mais longe de vencer António Costa?

Rui Rio sai da sede nacional do PSD num carro preto, com o motorista, a assessora de imprensa, Florbela Guedes, e o secretário-geral do partido, José Silvano. São os mesmos que estiveram com o líder todo o dia, exceto no período em que Rio se retirou, para umas horas sem agenda. Foi assim, sem sinal de sobressalto e sem que sobressaia alguma ansiedade: das paredes da vivenda na rua de São Caetano (à Lapa, como sempre se diz), não parecem existir as pressas e inquietações de que é feita a política nos dias a que chamamos decisivos. 

Olha para o telemóvel, sabendo que vai muito a tempo de chegar ao Parque Mayer para a revista em cartaz nestas legislativas. O que o irrita é aquela mota com um repórter de imagem com uma câmara colada ao vidro do carro que vai segui-lo durante todo o percurso e acaba por fazer com que decida entrar mais cedo do que a hora prevista no Capitólio.

O debate com o adversário principal, António Costa, foi preparado como todos os outros, asseguram os mais próximos. Ouviu os de sempre, trabalhou sozinho, como sempre. Rui Rio é um líder que escapa muitas vezes à leitura de jornalistas, comentadores e analistas. Será que escapa às sondagens que voltam a colocá-lo mais longe de vencer António Costa?

No dia seguinte ao debate, Rui Rio chega atrasado à primeira ação de pré-campanha, em Torres Novas.  A caravana laranja inclui carros caracterizados a preceito para a estrada que se avizinha, mas não, não é nada como é sempre. Desta vez há uma fotografia a cores, enorme, que parece que salta da pintura. A cara sorridente de Rui Rio vai atravessar o país e olhar para si e para nós, colada - mas mais parece que salta -, nas janelas das viaturas que transportam o staff do PSD e o material de apoio de campanha. Garante quem anda lá dentro que, pelos caminhos de Portugal, os carros passam e buzinam, os condutores fazem adeus, e isso é lido como um sinal. 

Rui Rio também tem falado de algo parecido, por exemplo em jantares que teve depois das eleições diretas, com dirigentes e militantes das estruturas distritais que o apoiaram e que lhe deram a vitória frente a Paulo Rangel. Aí e noutros fóruns, o homem que é presidente do PSD há 4 anos, sempre na oposição, tem dito que acha que desta vez pode ganhar, é isso que lhe dizem “as sondagens da rua”, e essas, como sabemos, são as que contam para o atual presidente do PSD.

Rui Rio salta do carro em Torres Novas atrasado, já se disse, e esperam-no militantes locais e os candidatos a deputados pelo distrito de Santarém que repetem, um após outro, os “parabéns” pela prestação no debate da noite anterior. Há vários que partilham da sensação de que as verdadeiras sondagens vão provar-se erradas no dia 30 de janeiro. Alexandre Poço, líder da JSD, até apoiou Paulo Rangel nas últimas eleições internas, mas por ser o presidente dos jovens social-democratas, vai aparecer em todas as ações de campanha ao lado de Rui Rio e também já acredita. À CNN Portugal até antecipa uma vitória do PSD por 3 ou 4 pontos e acha que “os portugueses já entenderam que o PS chegou a uma situação que não consegue dialogar ou governar à esquerda ou à direita”. Acrescenta que se sente um cansaço face a António Costa e à sua governação, e - ao mesmo tempo - um “sentimento de mudança na sociedade portuguesa que levará à vitória de Rui Rio e do PSD”.

Uns passos ao lado, José Silvano, o secretário-geral do PSD, fuma um cigarro, risonho; tem o ar de quem acha que já se escapou do mais difícil nesta campanha. Aquele debate era mesmo importante, afinal. Agora é seguir para a campanha, 15 dias em que Rui Rio vai ser o trunfo maior da estratégia do PSD.

Não conflitua com a situação pandémica e vai ser o ponto principal do período oficial de campanha: rua, contacto com pessoas. “Ele gostou muito disso nas autárquicas, entrar nas lojas, falar com pessoas”, diz fonte oficial do PSD. 

E por isso, de manhã haverá sempre uma ação de contacto com a população e declarações à imprensa, e outra ação idêntica, da parte da tarde que, segundo José Silvano, terminará com uma conversa temática para dar a conhecer as propostas do programa do PSD em áreas específicas: economia e emprego, agricultura, ensino superior e educação, natalidade, ambiente e segurança social são algumas das questões a abordar nessas sessões, com convidados especialistas nas várias áreas, intervenção do presidente do partido e uma sessão de perguntas e respostas com Rui Rio.

Não é muito diferente do que foi feito na campanha anterior, mas desta vez não é preciso encontrar espaços - muito menos fechados. Haverá um camião com um palco, som e vídeos que estará nos distritos ainda antes da chegada de Rui Rio, numa espécie de “aquecimento” para o fecho do dia de campanha.

E se chover? “Se chover há guarda-chuvas”, diz um dos mais importantes operacionais de campanha, assumindo no entanto que há plano B, que inclui mais visitas a empresas e menos rua, mas sem uma alteração profunda da estratégia.

“O que nos importa é fazer uma campanha sem erros. Nós sabemos fazer isso e também contamos com os erros que o PS comete sempre”.

Não é por acaso que a imagem do líder vai andar pelo país. A mensagem principal da campanha do PSD é centrada na mensagem da necessidade de mudança e em apresentar Rui Rio como o melhor candidato a primeiro-ministro.

É verdade que nem todos estão assim tão certos de que Rui Rio ganhe, mas mesmo entre os que acham que o desfecho pode cair para o PSD ou para o PS, há uma certeza: “se a política fizer algum sentido”, dizia há dias um dirigente, “então ele (Rio) ganha, mas a política às vezes surpreende-nos”. “Pode ser uma noite para roer as unhas”.

Quem viveu por dentro a noite das diretas do PSD sabe como foi um carrossel de expectativa, euforia, e desalento, quase de seguida, sem dar tempo para perceber como é que Paulo Rangel, que parecia ter tudo ganho à partida, ia perdendo, distrito a distrito, naquela noite de 4 de dezembro.
Que o diga Cristóvão Norte, presidente da distrital do Algarve e apoiante do eurodeputado, circunstância que lhe custou o lugar de candidato a deputado. 

Sem fazer apostas, mas sem acreditar na vitória do PSD, Norte sublinha que “o nosso sistema eleitoral torna quase impossível a formação de maiorias absolutas quando os dois partidos mais votados estão próximos e, nesse caso, tem que se estar atento às dinâmicas de vários círculos eleitorais”. O dirigente social-democrata continua a achar que haverá uma maioria de esquerda e que é muito improvável o contrário, mas também acha que “só iremos conhecer o vencedor mais tarde nessa noite. Vai ser renhido”, remata.

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