(Na imagem acima: Larry Black Jr. continua a ter dificuldade em dormir à noite. Pesadelos com o que lhe aconteceu em 2019 mantêm-no acordado. Depois de ter sido baleado na cabeça, os seus órgãos iam ser removidos quando uma intervenção de última hora na sala de operações interrompeu o procedimento. Foto: Judd Demaline para KFF Health News)
St. Louis (KFF Health News) - Deitado numa mesa de operações, com o peito exposto, Larry Black Jr. estava prestes a ter os seus órgãos removidos quando um médico entrou na sala, ofegante.
"Tirem-no da mesa", recordou o médico ter ordenado à equipa de cirurgia do SSM Health Saint Louis University Hospital, em St. Louis, no Missouri, Estados Unidos, enquanto limpavam o peito e o abdómen de Black. "Este paciente é meu. Tirem-no imediatamente da mesa."
Inicialmente, ninguém reconheceu Zohny Zohny por trás da máscara cirúrgica. Pouco depois, informou-os de que era o neurocirurgião responsável pelo caso de Black. Surpreendida com a sua intervenção, a equipa reagiu, explicou Zohny, alegando que tinha o consentimento da família para proceder à remoção dos órgãos de Black.
"Não me importa se temos consentimento", disse-lhes Zohny. "Ainda não falei com a família e não concordo com isto. Tirem-no da mesa imediatamente."
Black, o seu paciente de 22 anos, tinha dado entrada no hospital depois de ter sido baleado na cabeça a 24 de março de 2019. Uma semana depois, foi levado para o bloco operatório para que os seus órgãos fossem removidos para doação - apesar de o coração ainda estar a bater e de não ter sido oficialmente declarado em morte cerebral, contou Zohny.
A irmã de Black, Molly Watts, disse que a família teve dúvidas depois de concordar em doar os órgãos de Black, mas sentiu que não foi ouvida até que o médico, de 34 anos, no seu primeiro ano como neurocirurgião, interveio.
Atualmente, Black, agora com 28 anos, é músico e pai de três filhos. Continua a necessitar de fisioterapia regular devido a problemas de saúde persistentes resultantes do ferimento por arma de fogo. E ainda hoje é assombrado pelas memórias daqueles dias em que esteve em coma induzido.
"Ouvia a minha mãe a gritar", recordou. "Estavam todos a chamar o meu nome, a chorar, a pôr as minhas músicas favoritas, a rezar por mim."
Explicou que, no quarto do hospital, tinha tentado mostrar a todos que os ouvia. Recordou que bateu na lateral da cama e piscou os olhos, numa tentativa de demonstrar que estava a lutar pela vida.
Todos os anos, os transplantes de órgãos salvam um número crescente de vidas nos EUA, com mais de 48.000 procedimentos realizados em 2024, segundo a Organ Procurement and Transplantation Network, responsável pela supervisão do sistema nacional de transplantes. Apesar disso, milhares de pessoas morrem à espera de doações que nunca chegam.
Mas a doação de órgãos também tem enfrentado duras críticas, incluindo relatos de pacientes que demonstraram sinais de alerta antes da remoção planeada dos órgãos. Resultados de uma investigação federal a uma organização sem fins lucrativos de doação de órgãos no Kentucky, divulgados pela primeira vez pelo The New York Times em junho, revelaram que, ao longo de quatro anos, os profissionais de saúde planearam remover os órgãos de 73 pacientes, apesar dos sinais de atividade neurológica.
Esses procedimentos, no entanto, não chegaram a ser realizados, mas em julho os responsáveis federais prometeram reformar o sistema nacional de doação de órgãos.
"As nossas conclusões mostram que os hospitais permitiram que o processo de obtenção de órgãos iniciasse quando os pacientes ainda apresentavam sinais vitais, e isto é horrível", afirmou o secretário da Saúde e dos Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., num comunicado. "Todo o sistema deve ser reformado para garantir que a vida de cada potencial dador seja tratada com a dignidade que merece."
O caso de Black provou a Zohny, mesmo antes da mais recente investigação, que o sistema de doação de órgãos precisava de melhorias. Quando foi contactado em julho pela KFF Health News sobre Black, estava inicialmente relutante em falar. No entanto, assumiu que a história do seu paciente o marcou durante anos, sublinhando que, embora a doação de órgãos deva continuar, ainda se conhece pouco sobre a consciência humana. Para ele, a questão crítica — e ao mesmo tempo confusa — é determinar o momento da morte.
"Não havia vilões nisto. Foi apenas uma falha de planeamento. O problema está no sistema", argumentou. "Precisamos de rever as políticas e fazer alguns ajustes para garantir que a doação de órgãos seja realizada à pessoa certa, no momento certo, no local certo e com os especialistas adequados envolvidos."
LJ Punch, um antigo cirurgião de trauma que não esteve envolvido no caso, mas analisou os registos médicos de Black para a KFF Health News, questionou se a lesão de Black — causada por um disparo — poderá ter influenciado a forma como foi tratado. Homens jovens negros, como Larry Black, são desproporcionalmente vítimas de traumas por arma de fogo nos Estados Unidos, e a investigação sobre este tipo de violência é escassa. Para Punch, a experiência de Black ilustra "o abandono sistemático" dos corpos de homens negros.
"É isto que me ocorre", disse Punch. "Falo a nível estrutural, não individual. Não é culpa de um único médico, de uma enfermeira ou de uma equipa. Trata-se de uma realidade estrutural."
O hospital recusou-se a comentar os detalhes do caso de Black. Kim Henrichsen, presidente do Saint Louis University Hospital e do St. Mary’s Hospital-St. Louis, garantiu apenas que o sistema hospitalar trata "todas as situações envolvendo doenças críticas ou cuidados no fim da vida com profunda compaixão e respeito".
A Mid-America Transplant, a organização federal responsável pela obtenção de órgãos na região de St. Louis, não comenta casos de dadores individuais, explicou Lindsey Speir, vice-presidente executiva. No entanto, disse à KFF Health News que a organização já desistiu de casos quando as condições dos pacientes mudam — embora nunca tão tarde, com os pacientes já na sala de operações para a remoção dos órgãos.
"Quero deixar isto bem claro: isto acontece muito antes desse momento", sublinhou. "Acontece várias vezes por ano: conseguimos o consentimento, a família toma a decisão, tudo é feito corretamente e, um ou dois dias depois, o paciente recupera, e nós ficamos tipo: 'uau'."
Para Speir, as recentes notícias nos meios de comunicação social sobre o sistema de doação de órgãos do país têm levantado várias questões sobre um processo que, apesar de tudo, continua a salvar muitas vidas.
"Estamos a perder a confiança do público", admitiu Speir. "E temos de a reconquistar."
Pisca duas vezes para viver
Era uma tarde de domingo quando se ouviram tiros no centro de St. Louis. Black estava a caminho da casa da irmã.
"No início, não percebi que tinha sido baleado", contou Black, sentado na sua sala de estar seis anos depois. "Corri um ou dois quarteirões para me afastar."
Pouco depois, colapsou e rastejou até à porta de trás da casa de uma vizinha, onde pediu ajuda. Pediu-lhe duas toalhas grandes — uma embebida em álcool e outra em água oxigenada — que usou para cobrir a parte de trás da cabeça.
Quando a sua irmã, Macquel Payne, o encontrou, estava deitado no chão, perto do escritório de arrendamentos do seu prédio, rodeado por uma multidão.
Antes de ser transportado para o hospital numa ambulância, Black tranquilizou a irmã, pedindo-lhe para não se preocupar com ele.
"Lembro-me de ouvir o Larry dizer: 'Estou bem, mana'", recordou Payne. "'Estou OK'."
Black contou que, a caminho do hospital e mesmo depois de lá chegar, alternava entre momentos de consciência e apagões.
"Comecei a bater com a mão na lateral da cama da UCI", lembrou Black. "Eles disseram: 'É apenas uma reação, um efeito secundário da medicação. Faça-lhe algumas perguntas'."
Payne contou que pediu ao irmão para piscar duas vezes se se lembrasse do seu primeiro animal de estimação, um cão chamado "Little Black", que se parecia com o Chihuahua dos anúncios da Taco Bell.
Black lembra-se de ter piscado duas vezes. As suas irmãs recordam o mesmo.
Payne fez-lhe outra pergunta, desta vez para saber se o irmão reconhecia a família. Black piscou duas vezes quando viu a mãe e a irmã junto dele.
Depois contou que a irmã lhe fez "a pergunta mais importante", aquela que todos precisavam que respondesse.
"Ela disse-me: 'Se quiseres que desliguem as máquinas, se estás cansado e queres desistir, pisca uma vez'", recordou Black, continuando: "'Se ainda tens forças para lutar, pisca mais do que uma vez'."
Ele conta que começou a piscar e a bater na cama para mostrar à família que ainda estava consciente.
As irmãs garantem que os funcionários do hospital insistiam que os movimentos de Black eram involuntários.
"Agora não"
Numa sala de espera próxima da unidade de cuidados intensivos, uma mulher com folhetos explicou a Payne e à família que Black constava como potencial dador de órgãos no seu cartão de identificação.
Segundo Payne, ela queria saber se a família concordaria em prosseguir com o processo caso Black viesse a morrer.
"Lembro-me de a minha mãe dizer: 'Agora não, ainda é cedo'", recordou a irmã de Black.
Payne contou que a mulher insistiu.
"Ela perguntou: 'Posso, pelo menos, deixar-vos alguns folhetos?'. A minha mãe ficou nervosa, porque parecia que ela estava a pressionar-nos."
A família já estava familiarizada com o processo de doação de órgãos. Em 2007, o irmão adolescente de Black, Miguel Payne, afogou-se num lago local. Os seus órgãos foram doados, contou Macquel Payne, acrescentando que a família foi informada de que partes do seu corpo e tecidos ajudaram várias pessoas.
"Eu acredito em salvar vidas", disse Payne, "mas não pressionem tanto".
A Mid-America Transplant gere o processo de transplante de órgãos em 84 condados, abrangendo áreas do Illinois, Arkansas e Missouri, incluindo St. Louis. Tal como a organização do Kentucky, é uma das 55 entidades sem fins lucrativos designadas pelo governo federal para facilitar a doação de órgãos em todo o país.
A organização nunca pressionou nenhuma família a avançar com a doação de órgãos, afirmou Speir. Acrescentou ainda que o registo como dador de órgãos é legalmente vinculativo, mas que a Mid-America já desistiu de alguns casos quando as famílias não quiseram prosseguir com o processo.
E explicou que a sua equipa procura desmistificar a doação de órgãos e aliviar as preocupações das famílias. "O nosso objetivo é que as famílias tenham uma experiência positiva", assegurou Speir.
Apesar da resistência inicial, a família acabou por consentir a doação dos órgãos de Black. Watts contou que elementos da equipa médica que acompanhava o irmão lhe disseram que ele estava "no fim do caminho".
A família foi de seguida avisada para se preparar para a "última caminhada da vida" de Black. Também chamada caminhada de honra ou do herói, esta tradição celebra a vida de um dador de órgãos antes de iniciar o processo de remoção.
Na altura, Payne acreditava que o irmão ainda podia lutar pela vida. Por isso, pediu aos profissionais do hospital que o reavaliassem antes de o levarem pelo corredor.
"Eu disse: 'O meu irmão está a bater na cama'. Eles responderam: 'É apenas uma reação, efeito da medicação'. Mas eu insisti: 'Não, há algo de errado'. Ele estava demasiado alerta, parecia querer dizer-nos: 'Por favor, não deixem que façam isto comigo. Estou aqui. Posso lutar'. Mesmo assim, continuavam a afirmar que era apenas o efeito da medicação."
Depois de a família ter concordado em avançar com o processo de doação de órgãos, um membro especialmente prestável da equipa médica de Black começou a tratá-las de forma diferente. Tornou-se mais distante, dizem as irmãs.
"Dava para perceber que a dinâmica tinha mudado", disse Watts.
"#RIPMyBrother"
A família vestiu camisolas azuis para a caminhada da vida. "Percorremos o corredor, e todos o reconheciam", contou Payne. "Pensávamos que era o fim."
Um amigo de Black dos tempos da escola secundária filmou parte do ritual. Num pequeno vídeo, Black aparece a ser transportado numa maca pelo corredor do hospital, com os olhos semiabertos, enquanto as pessoas choram à sua volta.
Falsos rumores começaram a circular fora do hospital.
Brianna Floyd disse ter ficado em choque quando soube que o amigo tinha morrido. Sabia que Black tinha sido baleado na cabeça, mas, alguns dias antes, um jornal local noticiara que ele se encontrava em condição estável.
Floyd recorreu ao Facebook para confirmar se a notícia da morte era verdadeira. O seu feed estava inundado de mensagens de despedida a Black, por isso decidiu escrever uma também.
"Amo-te tanto, mano", escreveu Floyd. "#RIPMyBrother. Nunca pensei que iria dizer isto."
Ao ouvir o rumor de que o filho estava a ser levado para a morgue, o pai de Black dirigiu-se imediatamente ao hospital.
"Disseram-me que ele já tinha partido", recordou Lawrence Black. "Agora iria para a arca frigorífica mortuária."
Black disse que se recusou a acreditar que o filho estivesse morto. A ideia era devastadora. Ele já tinha passado por perdas semelhantes devido à violência armada.
"Acordas um dia e nada é como antes. O espírito permanece durante cerca de uma semana, e consegues senti-lo, entendes?"
Tomado pela emoção, rezou para que o filho sobrevivesse.
"Não posso matar o seu filho"
Zohny, o neurocirurgião, conta que ouviu pelo altifalante do hospital um anúncio sobre uma "caminhada do herói". Como não conhecia o termo, perguntou do que se tratava. Os médicos residentes explicaram-lhe e mencionaram que a caminhada seria possivelmente para o seu paciente, Larry Black.
"Não, não pode ser o meu paciente", disse-lhes Zohny. "Não concordei."
Zohny ligou para a UCI para confirmar o estado de Black. A pessoa que atendeu informou-o de que o paciente estava a ser levado para a sala de operações, contou.
"Este é o meu primeiro ano", pensou Zohny. "O primeiro ano como neurocirurgião é o mais desafiante. Qualquer erro, por pequeno que seja, pode basicamente arruinar a tua carreira. Por isso, quando isto aconteceu, senti as pernas a fraquejar e fiquei muito nervoso, porque, no fundo, o trabalho de um médico exige perfeição."
A KFF Health News, juntamente com Zohny e Punch, analisou todos os registos médicos de Black durante a sua hospitalização. Os documentos não deixam claro o que levou àquele momento.
"Em todos os casos, o paciente deve ser declarado legalmente morto pela equipa médica do hospital antes de se iniciar a remoção de órgãos. Isto não é negociável", escreveu Kevin Lee, CEO e presidente da Mid-America Transplant, num texto publicado a 21 de agosto no site da organização sem fins lucrativos, em resposta às notícias e comentários federais sobre a investigação no Kentucky. "A Mid-America Transplant cumpre rigorosamente todas as leis, regulamentos e protocolos hospitalares ao longo de todo o processo."
Num comunicado enviado à KFF Health News, explicou que uma pessoa pode ser declarada morta de duas formas. É considerada legalmente morta se o coração parar de bater e a respiração cessar, permitindo a doação de órgãos após morte cardíaca. Também é possível tornar-se dador de órgãos se o cérebro, incluindo o tronco cerebral, tiver cessado irreversivelmente a sua função, permitindo a doação por morte cerebral.
"Cada hospital tem o seu procedimento para declarar ambos os tipos de morte", esclareceu Speir num comunicado. "A Mid-America Transplant assegura que os hospitais cumprem as suas políticas."
Zohny afirmou que Black não se enquadrava em nenhuma das categorias. Acrescentou ainda que Black não tinha sido submetido ao chamado exame de morte cerebral.
Zohny informou de imediato o seu diretor sobre a situação e correu para a sala de operações. A família de Black aguardava no corredor, sem perceber o drama que se desenrolava atrás das portas prateadas fechadas.
Zohny apareceu e conduziu a família de Black até uma sala de operações vazia nas proximidades.
"Lembro-me de ele ter dito à minha mãe: 'Não posso matar o seu filho", recordou Payne. "Ela respondeu-lhe: 'Como assim?'."
Zohny mostrou-lhes uma imagem do cérebro de Black num ecrã e assinalou a área do cérebro que estava danificada. Explicou que a ferida de bala era algo de que Black poderia eventualmente recuperar, embora pudesse necessitar de terapia. Perguntou à família se estavam dispostos a dar-lhe mais tempo para recuperar da lesão, em vez de suspender os cuidados.
"Acho que nenhuma família consentiria a doação de órgãos a não ser que lhes tivesse sido transmitido que o seu familiar tinha um prognóstico muito grave", defendeu Zohny. "Nunca discuti o prognóstico com a família, porque ainda era demasiado cedo para isso."
Zohny tinha consciência de que estava a assumir um risco profissional ao correr para a sala de operações.
"Para mim, o pior cenário era perder o emprego", assumiu. "Para ele, o pior seria perder a vida injustamente."
Mais tarde, disse Zohny, um funcionário do hospital que transportou Black da UCI para a sala de operações contou-lhe que algo não parecia estar certo.
"Lembro-me de ele olhar para mim e dizer: 'Estou tão contente por teres parado isto'", recordou Zohny. "Perguntei-lhe porquê, e ele respondeu: 'Não sei. Os olhos dele estiveram abertos o tempo todo e senti que ele estava a olhar para mim. Os olhos não se mexiam, mas parecia mesmo que ele estava a olhar para mim'."
"Regressei dos mortos"
Depois da intervenção de Zohny, Black regressou à UCI e a equipa médica suspendeu todos os medicamentos que provocavam sedação.
Zohny conta que Black acordou dois dias depois e começou a falar. Numa semana, afirmou o neurocirurgião, ele já estava de pé.
"Tive de aprender a andar, a soletrar, a ler", recordou Black. "Tive de aprender novamente o meu nome, o meu número de Segurança Social, a minha data de nascimento, tudo."
Zohny continuou a acompanhar Black durante os restantes 21 dias da sua hospitalização. Numa consulta de seguimento, posou para uma fotografia com Black e a irmã mais velha, Watts. Na imagem, Black surge de pé com uma tala na perna, ao lado de Zohny.
"Apesar das falhas nas políticas, foi um milagre termos conseguido salvar a vida dele", disse Zohny. "Foi um milagre absoluto."
Zohny, que na altura estava a tirar a especialidade e era professor assistente, deixou o Saint Louis University Hospital mais tarde nesse ano, após concluir a formação específica, para assumir outro cargo. A experiência com Black levou-o a questionar o que realmente sabemos sobre a consciência.
Atualmente, Zohny está a desenvolver um novo método para quantificar a consciência, que, segundo explicou, pode ser usado para medir a consciência a partir de sinais cerebrais, através de um eletroencefalograma (EEG) que regista a atividade elétrica do cérebro. O método, esclareceu, ainda precisa de validação rigorosa e, por isso, fundou recentemente a empresa de investigação médica Zeta Analytica, separada do seu trabalho no Rockefeller Neuroscience Institute da West Virginia University, onde iniciará funções este mês.
"Não compreendemos o cérebro ao nível que deveríamos, especialmente com toda a tecnologia de que dispomos agora", observou Zohny.
Black está a tentar seguir em frente. Mas sofre convulsões sempre que os fragmentos da bala na sua cabeça se deslocam demasiado e a lesão provoca-lhe febre facilmente.
Ele não culpa a família pela decisão tomada, mas questiona o processo de transplante de órgãos. "É como se determinassem o destino das pessoas apenas por terem um cartão de dador de órgãos. E isso não é correto."
Para o ajudar a lidar com tudo o que aconteceu em 2019, compõe música sob o nome BeamNavyLooney. "Regressei dos mortos", escreveu recentemente numa canção que fala sobre a sua experiência.
No início deste ano, Black celebrou o nascimento de outro filho, que dormia tranquilamente em casa enquanto ele partilhava a sua história.
"Ele não chora", disse Black, "só faz barulhos".
Black estava sentado junto a uma arma de fogo. Conta que a mantém por perto para proteger a sua família. E continua a ter dificuldades em dormir à noite, com pesadelos sobre o que lhe aconteceu — tanto na rua como no hospital — que o mantêm acordado.
E revelou que já não quer fazer parte do registo de dadores de órgãos.
*Este projeto contou com o apoio de uma bolsa da Association of Health Care Journalists, financiada pela The Joyce Foundation
*A KFF Health News é um órgão de comunicação nacional dedicado ao jornalismo aprofundado em questões de saúde e integra um dos principais programas da KFF — uma fonte independente de investigação, sondagens e cobertura jornalística em políticas de saúde