Como este geek de aviões transformou o seu passatempo num emprego

CNN , Julia Buckley
6 mar 2022, 09:00

Quando se pede para escolher um ícone de beleza, a maioria das pessoas poderia escolher uma paisagem, um horizonte de uma cidade ou uma peça de arte. Laird Kay, por outro lado, diria um avião.

O avgeek – que se apaixonou por aviões em criança quando estava de férias – sempre viu as aeronaves tanto como objetos de beleza como de conveniência. E no seu emprego como fotógrafo de aviação, ele permite-nos a ver coisas através dos seus olhos.

Nas fotografias de Kay, os aviões tornam-se pássaros a meio do voo, congelados no tempo na pista e fotografados de cima. As suas asas planam, os seus narizes parecem bicos curiosos. As suas fotografias fazem até rebites, isolamento e tubos de escape parecerem bonitos. Os aviões são, diz ele, “lindos objetos de escultura”.

A história de Kay é a fascinante história de um homem que transformou o seu passatempo numa profissão. Talvez o mais fascinante seja que, apesar de ele estar agora empregado pela Lufthansa, Air Canada e Virgin Atlantic, até há alguns anos, ele tinha um emprego completamente diferente, e os aviões eram o seu passatempo.

Um passado secreto como avgeek

“Sempre fui um geek da aviação e sempre adorei fotografia,” diz Kay, que se apaixonou pela aviação no seu primeiro voo num 747 quando era criança, “nos tempos em que nos permitiam ir ao cockpit”.

Mas, tal como ele diz, “a vida normal aconteceu”. Tornou-se designer, a treinar para a sua profissão e acabou por passar uma década a desenhar adegas de vinho. Mas ele nunca se esqueceu do seu primeiro amor, a fotografia – e depois de 12 anos como designer, decidiu tentar mudar de rota.

A fotografia de interiores ou arquitetónica seria a escolha óbvia e era esse o seu plano. Começou como fotógrafo independente – sobretudo de interiores e de imagens de produtos. Mas à medida que Kay começou a levar a sua fotografia mais além, ele viu-se a passar tempo em aeroportos pela primeira vez na sua vida, juntando as suas capacidades fotográficas com o seu outro amor inicial, os aviões.

“Sempre fui um apaixonado por aviões”, diz Kay. “Eu ficava muito feliz por andar de avião e chegava muito antes da partida. Adorava a experiência do aeroporto, tudo sobre a experiência da viagem era mágico para mim.”

Mas agora, ele passou de passivo para ativo, indo à procura de locais para fotografar pela primeira vez. “Há lugares divertidos em Toronto onde podemos aproximar-nos de onde o avião aterra, ficamos mesmo debaixo dele quando faz a abordagem final”, diz Kay.

As fotografias de Kay de aviões a aterrar na sua cidade natal, Toronto, publicadas no Tumblr, tinham uma estética muito específica. Ele usava a sua experiência como designer para se focar nos detalhes mecânicos, fotografando-os de formas que para aqueles de nós sem um olho analítico nunca reparariam.

“Eu fazia planos muito apertados, focava-me em detalhes que as pessoas não têm oportunidade de ver, debaixo das asas, dos rebites, não são as fotografias típicas de observação de aviões”, diz Kay.

“Todos têm aquilo que querem fotografar. Alguns querem ter todas as matrículas dos aviões da Air Canada para terem um catálogo. Alguns fotografam porque sabem que os seus entes queridos estão no avião. Eu estava fascinado pela beleza das máquinas.”

Em 2015, depois de 18 meses a gerir o seu Tumblr, recebeu um email da Luftansa, a pedir que trabalhasse com eles. Queriam que ele fotografasse um voo de entrega do seu Boeing 747 com pintura retro, que viajava de Seattle para Frankfurt.

Não só era o seu avião preferido, Kay conseguiu ver a aeronave por dentro – “a cabine económica ainda não tinha os bancos instalados, por isso era um espaço completamente vazio, os aviões são enormes sem os bancos”, diz Kay – como também o catalisador de uma nova carreira.

“Comecei a fazer cada vez mais fotografia de aviação”, diz Kay. “Mais companhias aéreas começaram a encontravam-me nas redes sociais e a querer trabalhar comigo, e comecei a fazer propostas a outras, também.” A sua ideia: “exibir a beleza de um avião” e também da marca.

Ao longo dos últimos oito anos, Kay fez a transição para fotógrafo de aeronaves experiente, o que constitui agora um grande volume do seu negócio – suportado por fotografias industriais, de viagem, arquitetónicas e de interior.

Ele já fotografou de tudo, desde jatos privados a fábricas de aviões. Ele debruçou-se de uma janela aberta de um helicóptero para fotografar o aeroporto LAX em Los Angeles, fotografou a linha de produção para os A220 da Air France, e fotografou uma campanha para a Virgin Atlantic.

Ele já trabalhou para aeroportos como o de Santiago do Chile e o Charles de Gaulle em Paris, e fotografou comida de avião, fuselagens e linhas de montagem.

E, apesar de ele ter deixado o Tumblr – hoje em dia prefere o Instagram – a estética de Kay não mudou.

“O que adoro é fotografar os detalhes que as pessoas não dão atenção”, diz Kay. “Todos conhecemos a experiência de viajar, mas continua a haver magia e beleza nisso”.

“Gosto de descobrir as curvas e as texturas do encaixe da janela; o modelo da fivela do cinto contra o banco. Pensem em todas as pessoas envolvidas no processo de design – todos os pontos de contacto são incrivelmente tidos em conta. Eu só quero exibir isso, ‘vejo o que fizeram e adoro.’”

De facto, Kay chama ao que faz de “fotografia de produto em grande escala”.

“Estamos a fotografar a grandeza do avião, mas concentrarmo-nos nos detalhes minúsculos do banco, no tecido, nos pontos e tudo isso”, diz Kay.

Ele também fotografa com frequência tripulações e aeroportos – tal como processos de bastidores como as cargas e descargas.

A pergunta que vale 500 milhões de euros

Por muito amor que se tenha pela indústria, ser um fotógrafo de aviação tem as suas desvantagens.

Às vezes chove quando Kay viaja para uma sessão fotográfica – “seguimos a corrente”, diz Kay.

E para alguém que não se dá muito bem com alturas, como ele, isso pode ser complicado. Como as fotografias que ele tirou para a Lufthansa, onde fotografou a nova linha de aviões por cima.

Para essa sessão ele foi colocado numa plataforma elevatória e erguido a três metros acima dos aviões estacionados na pista.

“Eu estava a olhar para baixo para um A380 enquanto mudava a lente e a pensar: ‘Se eu largar esta lente, será um estrago de 500 milhões de euros.’ Aquilo foi fantástico e eu adoro as fotografias que tirei, mas fico com as mãos a suar só de pensar nisso.” Acabou por se tornar a sua sessão fotográfica preferida.

Trabalhar em sessões fotográficas também têm sido uma aprendizagem em logística.

“Fez-me perceber como os aviões, as companhias aéreas e os aeroportos são complexos”, diz Kay. “É um bailado orquestrado conseguir fazer os aviões aterrar e descolar a tempo e horas e carregados. Até a logística de tentar organizar um avião [para a sessão fotográfica] é incrivelmente difícil. Querem que a aeronave gere dinheiro, ter uma parada durante um dia inteiro não é fácil. Sempre que faço uma sessão fotográfica, aprendo algo novo.”

Aviões sem pele

Durante a pandemia, as coisas abrandaram tal como aconteceu para todos na aviação. Enquanto ele esperava que a indústria retomasse a atividade, Kay refez o seu website, aprendeu mais sobre vídeos, e desenhou “papéis de parede e produtos inspirados na aviação” que ele espera ficarem disponíveis em breve. Ele também ouviu barulhos de aeroportos para relembrar os bons tempos.

Agora as coisas já voltaram ao normal. Só nas últimas semanas, fez uma sessão fotográfica em Los Angeles e voou na Air France pela primeira vez num trabalho que fez para eles em Paris. O motivo era fotografar o novo A220 no local. Fotografou os mesmos aviões no verão na linha de montagem no Québec.

“Foi fascinante, parecia um laboratório gigante, tão limpo, clínico e exato”, diz Kay. Disse também que os pontos altos foram “ver os trabalhadores a montá-los à mão” e “e a maravilha de todo o trabalho que é investido nos aviões”.

“Ver como são lindos mesmo sem o revestimento, o isolamento, a instalação elétrica, fico espantado que as pessoas consigam construir algo tão incrivelmente bonito”, acrescenta.

As companhias aéreas costumam fornecer-lhe o transporta para os trabalhos - “É ótimo para perceber a experiência dos passageiros no avião que vou fotografar” – e depois dão-lhe um dia no destino para se ambientar antes de fazer uma sessão fotográfica de manhã à noite.

“É cansativo mas divertido, as pessoas que trabalham para as companhias aéreas são geeks dos aviões, por isso também adoram”, diz Kay. Não é de admirar que outros entusiastas se ofereçam para ajudar. Na verdade, ele conheceu o seu assistente para uma sessão fotográfica para a Lufthansa em 2019, Christian Engels, através dos círculos avgeek.

O céu é o limite

O que faz um fotógrafo de aeronaves a seguir? O céu é o limite, no caso de Kay. Ele quer fotografar aviões em movimento, diz ele – fotografar de um avião enquanto outro voa “perto de nós” (embora, tecnicamente, está a alguma distância, claro).

E embora ele tenha fotografado de uma janela aberta de um helicóptero sobre aeroportos e navios porta-contentores, também adoraria fazê-lo sobre aviões. “É aterrador, e tenho de me preparar mentalmente uma vez que não gosto de alturas, mas quando estamos lá em cima só nos focamos em conseguir fotografar”, diz Kay.

Para aqueles que querem seguir-lhe as pisadas, a melhor coisa a fazer é ir para a pista, diz Kay.

“Comecem por tirar fotografias e encontra a vossa voz única dentro das vossas fotografias”, aconselha Kay. “Antes era mesmo só um passatempo para mim – eu não fazia ideia de que podíamos transformar isto numa carreira, e tenho muita sorte por tê-lo conseguido."

“Continuo fascinado com a magia do voo. Estou fascinado sobre como conseguimos criar esta linda máquina para nos transportar à volta do mundo, em quantas pessoas estão envolvidas no processo de design, desde o local dos rebites à curva da janela, e fascinado de como tem evoluído com o tempo”.

“Adoro fazer os aviões parecerem sensuais.”

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