Empresário morre após 38 anos na prisão por um crime que não cometeu (e que até envolveu Pablo Escobar)

28 ago, 14:34
Execução por injeção letal

Relação com o cartel de Medellín e o envolvimento com o tráfico de droga só foi conhecido mais tarde

Krishna Maharaj passou 38 anos preso na Florida. Durante todo esse período declarou-se inocente perante os tribunais americanos e os meios de comunicação, depois de uma acusação de assassínio de dois homens lhe ter estragado a vida em 1986, na cidade de Miami.

"Quando me condenaram à morte, porque foi a minha primeira sentença, desabei no chão do tribunal", confessou Maharaj à BBC em 2019, após ser condenado a uma pena de morte. Desde essa data, os advogados não desistiram de provar a inocência do britânico, tendo conseguido alterar a pena de morte para uma prisão perpétua e, só posteriormente, comprovar que Maharaj era inocente na acusação do duplo homicídio. 

Mesmo com a apresentação de provas em tribunal, o tribunal norte-americano considerou que, "embora houvesse provas convincentes que mostrassem a inocência de Maharaj, não eram suficientes para libertá-lo", revelou o advogado, Clive Stafford Smith, ao jornal The Guardian.

Quando foi detido, Maharaj era suspeito de ter assassinado Derrick Moo Young, um antigo parceiro de negócios, e o seu filho Duane, que supostamente lhe deviam dinheiro por um acordo de uma propriedade. O caso ganhou outros contornos quando se descobriu o possível envolvimento de Pablo Escobar, conhecida figura ligada ao tráfico de droga, no assassínio dos dois homens através da contratação de assassinos profissionais.

Desde então, a mulher de Maharaj nunca perdeu a esperança de extraditar o seu marido para o Reino Unido, onde as hipóteses de ser libertado eram maiores. A demora por uma resposta para a transferência do empresário nunca chegou e a sua saúde na prisão foi piorando.

A 5 de agosto, Krishna Maharaj morreu aos 85 anos no hospital da prisão onde estava preso, enquanto a sua mulher continuou a luta para o trazer para casa, mas não da maneira que esperaria. As cerimónias fúnebres no Reino Unido aconteceram no dia 27 de agosto, depois de questões burocráticas serem superadas. 

O assassínio dos Moo Young

Através de investigações realizadas pelo advogado de Krishna Maharaj foi possível perceber que a família jamaicana Moo Young alegadamente teria roubado dinheiro do cartel Medellín - liderado por Escobar -, como foi confirmado posteriormente por antigos membros do grupo. 

Essa situação terá sido a justificação para que, a 16 de outubro de 1986, os dois familiares fossem encontrados mortos com ferimentos de bala, no seu quarto de hotel onde estavam hospedados, em Miami. 

O nome de Krishna Maharaj surgiu após a polícia descobrir um encontro alegadamente marcado naquele mesmo quarto, para falarem sobre negócios. O empresário britânico tornou-se milionário devido à empresa de importação de bananas, onde era concorrente direto de Moo Young.

Dentro do quarto de hotel, a investigação da polícia, com a ajuda de um depoimento, declarou que Maharaj teria disparado contra Moo Young e o seu filho pelo roubo de dinheiro a alguns familiares seus.

Em 2007, um antigo agente da polícia ligado à investigação de tráfico de droga revelou que no local onde os Moo Young foram mortos estaria hospedados um grupo de assassinos conhecido por fornecer serviços ao cartel da droga, reforçando assim a tese apresentada pelo advogado. 

Segundo algumas testemunhas, Krishna Maharaj estava a mais de 30 quilómetros na altura em que pai e filho foram mortos.

A relação com o cartel Medellín

O crime aconteceu numa altura em que havia o registo de várias disputas entre cartéis colombianos e cubanos, na década de 1980. O controlo do negócio na América Latina aumentou a disputa entre grupos rivais, elevando ainda mais a tensão no meio. 

O advogado Clive Stafford Smith conseguiu, ao longo das suas investigações, comprovar que Moo Young seria um testa-de-ferro dos traficantes, tendo sido executado pelos membros do próprio cartel, a mando do então líder, Pablo Escobar.

Através destas provas o objetivo do advogado seria provar que a relação entre Young e o Medellín poderia trazer vários inimigos à família do testa-de-ferro que beneficiassem com a sua morte. Ainda assim, a resposta do tribunal às repetidas tentativas de recurso acabou sempre em recusa.

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