Dois anos de prisão para polícia dos EUA que alegou ter matado jovem afroamericano por erro

Agência Lusa , BCE
18 fev 2022, 21:27
Tiroteio em escola

Kim Porter, de 49 anos, foi considerada culpada de homicídio involuntário em dezembro, por factos que ocorreram no âmbito de uma operação de fiscalização rotineira em abril de 2021 nos arredores de Minneapolis

Uma agente da polícia do norte dos Estados Unidos que matou um jovem automobilista afro-americano por alegadamente ter confundido a sua arma de serviço com uma pistola elétrica Taser, foi condenada esta sexta-feira a dois anos de prisão.

O veredicto, muito aquém do pretendido pela acusação, provocou a cólera das pessoas próximas da vítima, refere a AFP.

Kim Porter, de 49 anos, foi considerada culpada de homicídio involuntário em dezembro, por factos que ocorreram no âmbito de uma operação de fiscalização rotineira em abril de 2021 nos arredores de Minneapolis.

A agente afirmou sempre que acreditava ter puxado o Taser em vez da arma de serviço, no momento em que a vítima, Daunte Wright, de 20 anos, resistia à sua detenção.

A morte do jovem comoveu os EUA, tendo acontecido durante o julgamento do polícia Derek Chauvin, quem em maio de 2020, em Minneapolis, asfixiou George Floyd.

“Reconheço que alguns vão discordar da sentença”, disse a juíza Regina Chu, acrescentando que a agente “cometeu um erro trágico” quando procedia a uma “detenção legal”.

“Ela nunca teve a intenção de fazer mal”, acrescentou ainda a juíza, com a voz embargada, sublinhando que o caso era completamente diferente do da morte de Floyd.

Porter poderá sair da prisão ao fim de 16 meses e cumprir o resto da pena em liberdade condicional.

No início da audiência, o procurador Matt Frank reclamou uma pena de pouco mais de sete anos de prisão para a agente, com 26 anos de carreira sem mácula.

A família de Daunte Wright, que exigia uma pena “o mais severa possível”, exprimiu a sua cólera à saída do tribunal.

“Kim Porter matou o meu filho a 11 de abril. Hoje, a justiça matou-o novamente”, disse Katie Wright, mãe da vítima.

“Fui engando, isso magoa-me e estou com muita raiva”, disse, por seu lado, Arbuey Wright, pai de Daunte, acrescentando que a antiga agente da polícia recebeu como pena o equivalente a “uma palmada na mão”.

O advogado da família, Ben Crump, que também representou os familiares de George Floyd, denunciou “uma justiça a preto e branco”.

“Tentámos encorajar [a família] a acreditar que há uma justiça igualitária na América, mas com sentenças como esta, é difícil convencê-los”, disse.

O advogado da ex-polícia, Paul Engh, pediu, por seu lado, pena suspensa tendo em conta a folha de serviço exemplar de Porter, os remorsos que demonstrou no decurso do processo e considerando que esta não representa um perigo para a sociedade, argumentos que a juíza acolheu.

“Foi um acidente, um erro”, disse o causídico, afirmando que Daunte Wright agiu “de forma agressiva” no momento da detenção, quando impendia sobre ele um mandado de detenção.

“Estou desolada por vos ter causado tanta dor”, repetiu em audiência Kim Porter, dirigindo-se à família da vítima, acrescentando que espera que um dia consigam “encontrar uma forma de perdoar, porque o ódio destrói-nos a todos”.

A 11 de abril de 2021, a agente policial e um colega decidiram parar um condutor por uma infração menor, tendo depois percebido que o jovem era alvo de um mandado de detenção.

Durante o julgamento, Porter descreveu uma “situação potencialmente perigosa”, na qual o jovem, que não estava armado, recusou ser algemado e tentou fugir de carro.

Porter sacou depois, alegadamente, o que ela pensava ser a sua arma Taser, disparando um tiro e atingindo mortalmente Daunte Wright.

A este episódio seguiram-se manifestações violentas durante várias noites, até que a prisão de Kim Porter restaurou a calma.

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