Kim Kardashian perdeu uns quilos e lançou o debate sobre novos padrões de beleza. Os corpos magros dos anos 2000 estão de volta?

30 set 2022, 08:00
Kim Kardashian

No final da primeira década do séc. XXI a célebre empresária tornou-se um ícone que marcou uma geração e redefiniu os padrões de beleza com as suas curvas acentuadas - mas isso mudou

Até há pouco tempo, Kim Kardashian era sinónimo de uma mulher voluptuosa. Mas o corpo da norte-americana de 41 anos transformou-se: perdeu as suas curvas bem acentuadas e muitos quilos. Duas imagens dela que mostram o antes e o depois tornaram-se virais nas redes sociais e surgiu uma dúvida. Será que aquela tendência dos anos 2000, de mulheres com corpos magros, está de volta?

A resposta simples é: sim.

O revivalismo dos anos 2000

Calças de cintura descaída, tops curtos e barriga à mostra: a estética que marcou o virar do milénio é uma das principais tendências atuais e tem um nome: Y2K, ou seja, o revivalismo à volta do que foram os anos 2000 ajustado aos dias de hoje. 

Segundo Vanda Jorge, especialista em tendências e diretora da Versa, um site especializado em Lifestyle do mesmo grupo da CNN Portugal e da TVI, esta é uma tendência que sai muito da lógica das redes sociais e, principalmente, do TikTok. "O que nós vemos são tiktokers atuais, sobretudo jovens, a olharem - e o grande exemplo acaba por ser esse - para uma Britney Spears em que no seu tempo de ouro surgia com calças de cintura bastante descaída, tops bem curtos e sempre com a sua barriga lisa à mostra". E, tal como Britney Spears, seguiram-se ícones como Christina Aguilera e Paris Hilton.

Christina Aguilera (2000), Paris Hilton (2002) e Britney Spears (2000). Fotos: Getty

"Temos de estar muito atentos às redes e ao que é que vai surgindo entre os jovens", afirma Vanda Jorge, indicando que quem está efetivamente a ditar as tendências é a geração Z, na qual se incluem as pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 90 e o início de 2010.

Hailey Bieber, Dua Lipa ou Kendall Jenner são alguns dos exemplos que estão a guiar os mais jovens. "O que eu tenho sentido muito via tiktokers são miúdas normais que procuram essas influências, que voltam a ter hashtags dos anos 2000 a tentarem reproduzir uma estética, adaptando-a aos dias de hoje".

E as próprias marcas também vão seguindo o que são as vontades e os desejos destes novos consumidores. "Se esta geração se deixa influenciar por estas tiktokers que lançam estas novas tendências, é natural que depois a indústria da moda tente acompanhar naquilo que são as nossas opções de fast fashion com esse tipo de roupas".

"E, claro, há essa pressão para voltarmos a ter não só aquele tipo de roupa - e a moda reflete isso - mas também alguma pressão sobre a nossa forma física para podermos caber naquele tipo de roupa", afirma Vanda Jorge.

A pressão da sociedade e a procura pelo ideal de beleza

Com o regresso desta tendência pode haver também uma nova vontade de voltar aos padrões de beleza do início do século. "O que se dizia nessa altura e algumas coisas que se vão lendo em termos de tendências é que as roupas destas celebridades eram tão justas e tão coladas ao corpo que depois a mulher achava sempre que tinha de caminhar para uma magreza extrema para poder ter aquela imagem", lembra Vanda Jorge.

Embora Kim Kardashian não se canse de sublinhar que todas as suas dietas são saudáveis e os procedimentos estéticos acompanhados de forma segura, há uma preocupação com a tendência de regresso aos corpos magros padronizados, algo que é diretamente influenciado por personalidades como ela e pelas redes sociais como o TikTok.

"As modas mudam e já vimos vários casos de pessoas que tinham feito implantes e decidiram tirar, como a Victoria Beckham, que assumiu isso", aponta Vanda Jorge. "Agora, já sabemos que se uma Kim Kardashian publica uma foto, a tentação dos mais jovens é de seguir o exemplo."

E o facto é que existe uma necessidade de acompanhar as tendências do momento, adianta a psicóloga Sofia Marques Ramalho. "É natural que as pessoas que seguem essa celebridade também queiram seguir esse ideal. É a integração na sociedade."

O impacto das redes sociais na aceitação corporal

A psicóloga refere que, de uma forma geral, tanto os media como as redes sociais promovem este ideal de beleza aliado à magreza. Algo que, argumenta, pode influenciar a perceção corporal a nível individual, mesmo que tal possa acontecer de forma inconsciente.

Já foi demonstrado que os utilizadores do Instagram, por exemplo, nutrem uma maior insatisfação com a sua imagem corporal. "Tem impacto", reitera Sofia Marques Ramalho.

"Esta interiorização através das redes sociais pode levar a que pessoas mais jovens de alguma forma interiorizem a ideia de que a magreza é o ideal da sociedade, e, quanto mais isso acontecer, maior será a sua insatisfação com a própria imagem", afirma, alertando que, muitas vezes, esta insatisfação está associada a comportamentos alimentares problemáticos.

Por outro lado, também existe uma grande pressão por parte de celebridades nas redes sociais para a positividade e aceitação dos corpos, lembra a psicóloga.

Também Vanda Jorge argumenta que este "novo velho padrão" de magreza vai completamente contra aquilo que se tem vindo a registar como tendência: o body positivity (numa tradução literal, a positividade corporal, ou a aceitação corporal).

"É curioso estar ir completamente contra aquilo que nos últimos anos se tem defendido. Assume-te como és, assume as tuas curvas, assume o teu corpo. E, de repente, vemos aqui estes anos 2000 a entrar como grande tendência para este ano e a nossa tentativa de caber naquelas calças descaídas e mostrar a barriga", descreve Vanda Jorge.

Tanto a psicóloga como a especialista em lifestyle apelam ao respeito pelos gostos de cada um. "Não podemos julgar quem segue a tendência", adverte Sofia Marques Ramalho. Aliás, nem todas as pessoas seguem as mesmas modas. E há quem simplesmente não siga nenhuma. E está tudo bem.

Para quem gosta de acompanhar a moda, no entanto, o confronto com estas tendências, por exemplo numa ida a uma loja, acaba por reforçar a insatisfação corporal e a experiência de comprar roupa pode tornar-se uma experiência negativa. Como devemos lidar com isso? Para já, entender que "não existem fórmulas magicas". Mas a psicóloga deixa alguns conselhos.

O primeiro passo é compreender a influência que as redes sociais conseguem ter sobre a aceitação corporal da própria pessoa e, depois de compreender esse impacto, o segundo passo pode ser deixar de seguir algumas destas personalidades que de, alguma forma, nos fazem sentir desconfortáveis com o nosso corpo e que tenham um ideal de beleza com o qual não nos identificamos.

Por fim, a especialista recomenda que, independentemente do tipo de corpo, é importante reforçar as estratégias de autocuidado: tirar algum tempo para tratar de si próprio, fazer atividades de que se gosta e nas quais se sente bem.

Estilo de Vida

Mais Estilo de Vida

Na SELFIE

Patrocinados