Tribunal britânico condena pai por deixar filha engordar até à morte - mas a obesidade não era a única dura realidade de Kaylea

7 fev 2023, 18:48
Kaylea Titford

Jovem com hidrocefalia e espinha bífida morreu duas semanas depois de fazer anos, após um período de mais de sete meses sem mobilidade. Pesava mais de 146 quilos

Alun Titford, de 45 anos, foi considerado culpado e deve ser condenado a uma pena de prisão efetiva por ter deixado que a filha de 16 anos engordasse até morrer sozinha e imóvel, trancada no próprio quarto. A adolescente, com hidrocefalia e espinha bífida, terá estado trancada no próprio quarto, sem sair da cama desde que começou a pandemia de covid-19, em março de 2020, até morrer, em outubro do mesmo ano. A jovem, com 1,45 metros de altura, pesava mais de 146 quilos e tinha um índice de massa corporal de 70 quando morreu.

A sentença de Alun foi conhecida esta terça-feira. A mãe de Kaylea, Sarah Lloyd-Jones, já se havia declarado culpada da mesma acusação em dezembro do ano passado. Sarah e Alun, pais de seis filhos, devem conhecer a pena a 1 de março.

De acordo com o jornal The Guardian, esta será a primeira sentença a ser aplicada no Reino Unido a pais acusados de matarem os filhos por não controlarem a sua dieta.

Mas a morte de Kaylea está rodeada de contornos duros, que vão muito para além da obesidade. Antes da pandemia, a jovem frequentava a escola, era acompanhada por médicos e nutricionistas, fazia fisioterapia e praticava desporto. Era tão boa no basquetebol adaptado que chegou a ser sondada para integrar o desporto federado paralímpico.

Quando morreu, a 9 ou 10 de outubro (não há certezas absolutas sobre a data), e de acordo com o tribunal, Kaylea “vivia em condições impróprias para qualquer animal, muito menos para uma jovem de 16 anos vulnerável e dependente de outros para os cuidados básicos”.

Quando foi detido, o pai de Kaylea disse à polícia não ter ideia que a filha tivesse saído da cama desde o início da pandemia. Posteriormente, mudou a versão e garantiu que a jovem saiu da cama e circulou pelo apartamento na sua cadeira de rodas. Mas disse também que a última vez que entrou no quarto foi duas semanas antes da morte, para dar um beijinho à filha, que completava 16 anos. E assegura que não achou nada de estranho, nem notou nenhum cheiro específico.

O certo é que os paramédicos que foram chamados no dia em que Kaylea foi encontrada morta, se depararam com um cheiro nauseabundo no quarto. Encontraram vermes debaixo do corpo, que estava e “condições horríveis”. No quarto, havia fitas adesivas apanha-moscas e teias de aranha penduradas no teto e o elevador que a ajudava a sair da cama e lhe possibilitava alguma mobilidade estava coberto de fezes e inoperacional. As unhas dos pés, a que Kaylea não conseguia chegar por causa da obesidade e da sua condição física, não seriam cortadas há pelo menos seis meses.

As causas da morte, de acordo com o relatório da autópsia apresentado em tribunal, foram “inflamação e infeção em extensas áreas ulceradas, provocadas pela obesidade e suas complicações, bem como imobilidade numa jovem com espinha bífida e hidrocefalia”.

Em tribunal, Alun Titford admitiu que falou e se afastou dos cuidados à filha desde que esta entrara na puberdade, mas recusou a ideia de a ter matado. Disse que a tarefa tinha ficado entregue à mulher, Sarah, em exclusivo, desde 2018, porque Kaylea “era mulher e não se sentia confortável”.

Ainda assim, admitiu a culpa por não ajudar a cuidar da jovem e não a ter incentivado a comer melhor. O advogado de defesa alegou que o homem trabalhava muito, às vezes sete dias por semana, como encarregado de mudanças e que, por isso, estava mais afastado dos cuidados de saúde à própria filha e não se apercebeu da deterioração do seu estado.

 

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