Esta imagem de uma mulher sozinha numa sala cheia de homens tem uma história para contar

CNN , Jacqui Palumbo
20 ago 2022, 10:00
Uma foto de Katharine Graham de 1975, a primeira mulher eleita para o conselho de administração da AP (CNN)

A sala de conferências com paredes de madeira tem uma qualidade neutra, e os homens em fatos de cores sóbrias sentados em torno da ampla mesa central são assustadoramente parecidos, duplicados. Mas esta fotografia de uma reunião corporativa de alto nível tem um elemento estranho: uma mulher com cabelo curto e ondulado sentada na ponta, à esquerda. Ela alinha-se perfeitamente com a simetria do grupo, mas sobressai no seu vestido azul em tons de joia, com as pernas nuas visíveis por baixo da bainha.

Tirada em Nova Iorque em 1975, o retrato da antiga editora do Washington Post e futura CEO, Katharine Graham, é apenas uma das inúmeras imagens que seguem uma fórmula visual semelhante: a única mulher num grupo de homens. Está agora em destaque entre uma coleção destas imagens, no livro "The Only Woman" (A Única Mulher), da documentarista e autora Immy Humes.

"The Only Woman" é o culminar de um projeto de investigação de anos em que Humes trabalhou depois de estabelecer uma ligação visual entre duas imagens. A primeira foi numa foto de 1962 da cineasta norte-americana Shirley Clarke, que foi frequentemente (e incorretamente) apontada como a única cineasta feminina do seu tempo, ao centro numa roda de criativos masculinos. A segunda foi um retrato em grupo de 1951 de 15 artistas expressionistas abstratos famosos – incluindo Jackson Pollock e Mark Rothko – com uma única mulher, a artista Hedda Sterne, na parte de trás, em cima de uma mesa.

Humes explicou num telefonema que ficou "obcecada" com a imagem de Clarke. "Como foi para ela? Que diferença fez na sua vida ter sido a 'única mulher'?"

Esta imagem da cineasta Shirley Clarke, em 1962, em Nova Iorque, impulsionou o livro de Immy Humes "The Only Woman" Crédito: Wisconsin Center for Film and Theater Research; Shirley Clarke Papers

Pouco depois, Humes não conseguia deixar de ver o padrão, ao ir encontrando fotografias do "mesmo género" por todo o lado, disse. Recolheu imagens de cientistas, escritoras de comédia, atletas e políticas, entre muitas outras, a partir de meados do século XIX, quando a fotografia foi popularizada, até hoje.

"Começou a ficar quase bizarro", disse.

A foto de Graham intrigou-a por causa da história da imagem. A proeminente editora herdou o Washington Post depois da morte do pai e do marido. Ela nunca pensou que o papel recaísse sobre si, de acordo com o livro de Humes, mas dirigiu o jornal durante uma era de reportagens importantes, publicando tanto os Documentos do Pentágono como as investigações sobre a administração do antigo presidente Nixon que levariam à sua demissão. Tornou-se a primeira editora feminina do jornal e, mais tarde, diretora executiva. Foi também a primeira mulher eleita para o conselho de administração da Associated Press - o grupo com o qual estava sentada nesta imagem em particular.

"Está obviamente a ser destacada, ao ser colocada na frente" afirmou Humes. "Neste caso… a mulher ocupa um local de destaque devido à sua excecionalidade, por ser a única mulher."

Não é o caso de todas as imagens, e Humes deu por si a categorizá-las enquanto trabalhava no projeto.

"Havia maneiras diferentes de se tornar a única mulher." Ou era uma rainha... ou foi uma grande, grande pioneira", explicou. Em alguns casos as mulheres tiveram acesso a espaços exclusivamente masculinos por causa dos seus empregos como empregadas domésticas, secretárias ou trabalhadoras do sexo, acrescentou.

Humes nota que, à medida que a sociedade evolui para lá do trabalho estritamente de um género, estas imagens tornam-se mais marcantes. Isso torna a estranheza de cada imagem ainda mais pronunciada. "Começa a parecer absurdo ao nosso olhar - começa a parecer cómico. Quanto mais nos afastamos, mais conseguimos ter uma visão diferente."

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