Garra e glamour: série sobre os bastidores do K-pop mostra o que é preciso para se tornar um ídolo

CNN , Lex Harvey
21 set, 16:00
K-pop (Apple TV+ via CNN Newsource)

Os problemas de saúde mental e os padrões exigentes a que os artistas são sujeitos são temas retratados na nova série

Uma nova série documental oferece aos telespectadores um olhar íntimo sobre as vidas e as dificuldades das estrelas do K-pop, explorando o verdadeiro custo de ter êxito na indústria musical da Coreia do Sul.

"K-Pop Idols", da Apple TV+, acompanha Jessi (Jessica Ho), uma rapper coreana-americana que está a traçar um novo caminho depois de ter deixado a editora discográfica do artista de ‘Gangnam Style’, Psy; o grupo feminino Blackswan, em busca do estrelato mundial, mas que é prejudicado por conflitos interpessoais; e a estreante Cravity, uma boys band de nove membros que tenta ganhar fama depois de estrear durante a pandemia de Covid-19.

Enquanto Jessi tem estado no panorama musical coreano desde que lançou o seu primeiro single em 2005, Cravity é um recém-chegado que tenta conquistar o seu próprio estilo e espaço num mercado lotado. Os Blackswan existem há mais de uma década com diferentes membros e nomes, mas estão a tentar encontrar o caminho na sua versão atual, que evolui à medida que o programa se desenvolve.

As exportações culturais sul-coreanas explodiram na última década, com grandes grupos como os BTS e os Blackpink a chegarem ao topo das tabelas musicais internacionais e as séries de K-drama a atingirem uma grande popularidade nas plataformas de streaming.

Seguindo os artistas à medida que embarcam em digressões mundiais, partilham momentos emocionantes e passam por sessões de treino extenuantes que duram horas, o novo programa oferece uma visão da indústria altamente competitiva e multibilionária que impõe às jovens estrelas padrões extremamente elevados.

Os ídolos do K-pop, muitos dos quais começam a treinar ainda adolescentes, estão frequentemente sujeitos a uma pressão intensa por parte da sua equipa, uma cultura de trabalho que tem sido associada a uma crise de saúde mental na indústria. Várias estrelas do K-pop suicidaram-se nos últimos anos, o que provocou manifestações de luto por parte dos fãs.

Problemas de saúde mental

Uma das principais histórias centra-se no conflito entre Leia (Larissa Ayumi Cartes Sakata) e Fatou (Fatou Samba), membros do Blackswan, que começa quando Leia publica nas redes sociais que está aborrecida, durante um convívio na casa da família de Fatou, após o primeiro concerto do grupo em Bruxelas.

Mais tarde, Leia admite que achou o encontro difícil, porque sente falta da família que está no Brasil, um problema que discute longamente ao longo da série. Também fala da sua depressão e do estigma que existe quando se fala abertamente sobre saúde mental.

“Eu sei que estou doente”, reconhece a cantora brasileira. “Aqui na Coreia, a depressão não é uma doença”.

Num outro momento vulnerável, uma Jessi emocionada fala sobre os sacrifícios que vêm com o trabalho, particularmente em termos de o priorizar em detrimento dos relacionamentos.

“Quando volto para casa (na Coreia), volto para uma casa vazia”, conta Jessi aos telespectadores. “É tão solitário. Pensava que isto era um sonho bonito, mas não é”.

A série também documenta os recentes esforços da indústria do K-pop para aumentar o apelo global do género através do recrutamento de talentos estrangeiros.

O grupo Blackswan partilha um momento juntos em “K-Pop Idols” (Apple TV+)

Em junho, o ministério das Finanças da Coreia do Sul anunciou que o país iria lançar em breve um novo regime de vistos, denominado “K-Culture Training Visa”, para os estrangeiros que queiram fazer formação em dança e coreografia K-pop, mas também para os queiram ser modelo.

Tendo começado como uma banda exclusivamente coreana, a formação em constante evolução dos Blackswan é atualmente composta exclusivamente por membros nascidos no estrangeiro.

Gabi e Sriya conseguiram milhares de jovens mulheres para se tornarem “trainees” dos Blackswan, em grande parte devido às suas nacionalidades, segundo Philip YJ Yoon, diretor da DR Music, a empresa que gere o grupo.

O Brasil, país de origem de Gabi, é um dos maiores mercados de K-pop fora da Coreia do Sul. E a Índia, de onde Sriya é natural, é o país mais populoso do mundo - e um lugar onde o K-pop está a começar a fazer sucesso.

Membros do Cravity, um grupo de K-pop em ascensão que procura estabelecer-se na competitiva indústria musical da Coreia do Sul (Apple TV+)

As mulheres são submetidas a seis meses de treino exaustivo em língua coreana, rap, dança e muito mais, pondo à prova não só as capacidades físicas, mas também a resistência mental.

De acordo com Yoon Deung-ryeong, fundador e diretor executivo da DR Music, as editoras também enfrentam desafios quando recrutam estrelas estrangeiras de K-pop - um deles é o facto de os membros da banda não terem as rédeas muito largas.

“Com outros grupos de K-pop ou grupos de raparigas, a empresa controla fortemente os membros. Se a empresa diz 'não lutem', elas não lutam”, diz num episódio inicial, referindo-se ao conflito entre Leia e Fatou.

“Mas, num grupo multinacional, a língua, a cultura e a forma de expressão de cada um são diferentes. Por isso, não faz sentido tentar controlá-los da mesma forma que os grupos coreanos são controlados.”

Padrões exigentes

Um outro tópico do programa são os padrões de imagem corporal a que todos os ídolos do K-pop têm de aderir e as medidas extremas necessárias para os atingir. As estrelas falam frequentemente sobre o pouco que comem e o muito que treinam, mesmo quando os seus pais expressam preocupação.

Gabi e Sriya são colocadas em dietas quando começam a treinar - Gabi para perder peso, Sriya para o ganhar.

Também o vocalista dos Cravity, Wonjin, diz que quando fez a primeira audição para a sua agência de entretenimento, Starship, foi orientado para perder peso, por isso só comeu um ovo por dia durante duas semanas, emagrecendo cinco quilos.

Banda de K-pop Blackswan atua em “K-Pop Idols” na Apple TV+ (Apple TV+)

Estas cenas mais duras são intercaladas com momentos de leveza: a amizade comovente entre Gabi e Sriya, um abraço emocionante entre Fatou e a mãe, a irmandade entre os membros dos Cravity, a excitação dos fãs e as atuações de alto nível dos artistas.

Filmar a série foi “libertador porque tivemos um escape para todas as nossas emoções engarrafadas”, conta Fatou, do Blackswan, à CNN, por e-mail.

“Senti que a câmara era o meu terapeuta”, acrescenta Sriya.

Os membros do Blackswan admitiram esperar que a série humanizasse os artistas de K-pop aos olhos dos telespectadores.

“Não somos perfeitos e passamos por tantas dificuldades como qualquer outra pessoa”, garante NVee, membro do grupo, também por e-mail. “Mas continuamos a lutar por causa do nosso amor pela música”.

Jessie Yeung, da CNN, contribuiu para esta reportagem

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