"Julian Assange está livre". Acordo surpreendente liberta fundador da WikiLeaks e põe fim a um dos casos do século

25 jun 2024, 02:36
Julian Assange (Kin Cheung/AP)

Estados Unidos desistem da extradição de um dos homens que mais procuravam. Australiano regressa a casa 14 anos depois de divulgar documentos secretos e cinco anos depois de ter sido detido em Londres

É o aparente fim de um dos casos judiciais mais longos do século. Julian Assange vai voltar a ser um homem livre, depois de ter chegado a acordo com o Departamento de Justiça norte-americano, que lhe vai aplicar uma sentença de 62 meses de prisão, mas que vai reconhecer os 1.901 dias de prisão cumpridos pelo fundador da WikiLeaks no Reino Unido.

O mesmo é dizer que o australiano e os Estados Unidos chegaram a um acordo: o cidadão confessa crimes cometidos na divulgação de vários dados confidenciais norte-americanos; o país deixa-o sair em liberdade. A página da WikiLeaks na rede social X avança mesmo que Julian Assange é já um homem livre. Numa partilha feita pouco depois de a notícia ter sido divulgada pelos meios de comunicação social norte-americanos, aquela conta escrevia "Julian Assange está livre", acrescentando que o australiano já tinha deixado a prisão de Londres e tinha mesmo embarcado no aeroporto de Stansted, provavelmente com direção à Austrália.

"Depois de mais de cinco anos numa cela de dois metros por três, isolado 23 horas por dia, vai em breve reunir-se com a sua mulher Stella Assange e os seus filhos, que só conheceram o pai através das grades", acrescenta a nota.

É, na prática, segundo a CNN apurou ao consultar documentos judiciais, um acordo que permite a Julian Assange evitar a prisão nos Estados Unidos, que durante vários anos procuraram a extradição do australiano.

Os termos do novo acordo preveem a tal aplicação de uma pena de 62 meses, exatamente o que o fundador da WikiLeaks já cumpriu numa prisão de alta segurança de Londres, para onde foi levado depois de meses a fio barricado na embaixada do Equador no Reino Unido. Durante o tempo que esteve detido travou uma longa luta judicial para evitar a extradição para os Estados Unidos, algo que agora consegue, mesmo que mediante um acordo.

A CNN lembra que este acordo terá ainda de ser aprovado por juiz federal, mas Julian Assange deverá mesmo ser libertado e poderá em breve voltar à Austrália, a casa.

O fundador da WikiLeaks estava a braços com uma acusação de 18 crimes, proferida em 2019 – o ano em que foi detido em solo britânico -, e que o indiciavam de um papel ativo na divulgação de dados confidenciais norte-americanos. Por esses crimes incorria numa pena até 175 anos de prisão, mesmo que nunca se tenha acreditado que tal moldura penal se viesse a aplicar.

Em causa está a divulgação de documentos militares fornecidos pela antiga analista de documentos secretos Chelsea Manning, que a WikiLeaks publicou entre 2010 e 2011.

Acreditam as autoridades norte-americanas que a analista foi enganada por Julian Assange no sentido de lhe fornecer centenas de páginas secretas que implicavam várias operações norte-americanas, incluindo na guerra do Iraque ou sobre informações relacionadas com pessoas detidas na Baía de Guantanamo.

Este desfecho tinha conhecido uma pequena possibilidade quando, recentemente, o presidente Joe Biden deixou no ar a possibilidade de um acordo entre as partes que também teria a intervenção do governo australiano, aqui a agir em defesa de um cidadão seu.

O FBI e o Departamento de Justiça sempre se opuseram a este cenário por si só, mas admitiram mudar de posição caso Julian Assange se viesse a confessar culpado, como agora vai acontecer.

Recorde-se que no mês passado um tribunal britânico concedeu ao fundador da WikiLeaks a possibilidade de recorrer da decisão de extradição para os Estados Unidos, num forte golpe para a investigação norte-americana que ameaçou deixar os Estados Unidos sem a detenção ou mesmo a confissão.

O Departamento de Justiça consegue, assim, um mal menor: Julian Assange confessa a culpa pela divulgação dos documentos.

Mundo

Mais Mundo
IOL Footer MIN