Estados Unidos desistem da extradição de um dos homens que mais procuravam. Australiano regressa a casa 14 anos depois de divulgar documentos secretos e cinco anos depois de ter sido detido em Londres
É o aparente fim de um dos casos judiciais mais longos do século. Julian Assange vai voltar a ser um homem livre, depois de ter chegado a acordo com o Departamento de Justiça norte-americano, que lhe vai aplicar uma sentença de 62 meses de prisão, mas que vai reconhecer os 1.901 dias de prisão cumpridos pelo fundador da WikiLeaks no Reino Unido.
O mesmo é dizer que o australiano e os Estados Unidos chegaram a um acordo: o cidadão confessa crimes cometidos na divulgação de vários dados confidenciais norte-americanos; o país deixa-o sair em liberdade. A página da WikiLeaks na rede social X avança mesmo que Julian Assange é já um homem livre. Numa partilha feita pouco depois de a notícia ter sido divulgada pelos meios de comunicação social norte-americanos, aquela conta escrevia "Julian Assange está livre", acrescentando que o australiano já tinha deixado a prisão de Londres e tinha mesmo embarcado no aeroporto de Stansted, provavelmente com direção à Austrália.
"Depois de mais de cinco anos numa cela de dois metros por três, isolado 23 horas por dia, vai em breve reunir-se com a sua mulher Stella Assange e os seus filhos, que só conheceram o pai através das grades", acrescenta a nota.
JULIAN ASSANGE IS FREE
— WikiLeaks (@wikileaks) June 24, 2024
Julian Assange is free. He left Belmarsh maximum security prison on the morning of 24 June, after having spent 1901 days there. He was granted bail by the High Court in London and was released at Stansted airport during the afternoon, where he boarded a…
É, na prática, segundo a CNN apurou ao consultar documentos judiciais, um acordo que permite a Julian Assange evitar a prisão nos Estados Unidos, que durante vários anos procuraram a extradição do australiano.
Os termos do novo acordo preveem a tal aplicação de uma pena de 62 meses, exatamente o que o fundador da WikiLeaks já cumpriu numa prisão de alta segurança de Londres, para onde foi levado depois de meses a fio barricado na embaixada do Equador no Reino Unido. Durante o tempo que esteve detido travou uma longa luta judicial para evitar a extradição para os Estados Unidos, algo que agora consegue, mesmo que mediante um acordo.
A CNN lembra que este acordo terá ainda de ser aprovado por juiz federal, mas Julian Assange deverá mesmo ser libertado e poderá em breve voltar à Austrália, a casa.
O fundador da WikiLeaks estava a braços com uma acusação de 18 crimes, proferida em 2019 – o ano em que foi detido em solo britânico -, e que o indiciavam de um papel ativo na divulgação de dados confidenciais norte-americanos. Por esses crimes incorria numa pena até 175 anos de prisão, mesmo que nunca se tenha acreditado que tal moldura penal se viesse a aplicar.
Em causa está a divulgação de documentos militares fornecidos pela antiga analista de documentos secretos Chelsea Manning, que a WikiLeaks publicou entre 2010 e 2011.
Acreditam as autoridades norte-americanas que a analista foi enganada por Julian Assange no sentido de lhe fornecer centenas de páginas secretas que implicavam várias operações norte-americanas, incluindo na guerra do Iraque ou sobre informações relacionadas com pessoas detidas na Baía de Guantanamo.
Este desfecho tinha conhecido uma pequena possibilidade quando, recentemente, o presidente Joe Biden deixou no ar a possibilidade de um acordo entre as partes que também teria a intervenção do governo australiano, aqui a agir em defesa de um cidadão seu.
O FBI e o Departamento de Justiça sempre se opuseram a este cenário por si só, mas admitiram mudar de posição caso Julian Assange se viesse a confessar culpado, como agora vai acontecer.
Recorde-se que no mês passado um tribunal britânico concedeu ao fundador da WikiLeaks a possibilidade de recorrer da decisão de extradição para os Estados Unidos, num forte golpe para a investigação norte-americana que ameaçou deixar os Estados Unidos sem a detenção ou mesmo a confissão.
O Departamento de Justiça consegue, assim, um mal menor: Julian Assange confessa a culpa pela divulgação dos documentos.