Esta mulher passou 27 anos presa por um homicídio que não cometeu

CNN , Sara Smart e Paradise Afshar
4 fev 2022, 10:00
Joyce Watkins. Foto: Stephanie Amador/The Tennessean/AP

Uma mulher do Tennessee que foi erradamente condenada por assassinar a sobrinha-neta e passou 27 anos na prisão foi ilibada no passado mês de janeiro.

A 26 de junho de 1987, Joyce Watkins, agora com 74 anos, e o seu namorado da altura, Charlie Dunn, foram buscar a sobrinha-neta de Watkins, Brandi, de 4 anos, no Kentucky, segundo um relatório apresentado no tribunal criminal do condado de Davidson.

Na manhã seguinte, Brandi estava sem reação, portanto Watkins levou-a ao Nashville Memorial Hospital.

Brandi tinha ferimentos vaginais graves e um traumatismo craniano. O óbito foi declarado no dia seguinte, segundo o relatório. Os dois estiveram apenas nove horas com Brandi, mas a médica-legista, Gretel Harlan, concluiu que os ferimentos ocorreram nesse período de tempo.

Um ano depois, em agosto de 1988, Watkins e Dunn foram condenados por homicídio qualificado e violação agravada.

Os dois passaram 27 anos atrás das grades e, em 2015, obtiveram a liberdade condicional. Antes da sua libertação, Dunn morreu na cadeia.

Antes de a criança ter sido levada pelo casal, estava a viver na casa de Rose Williams, tia-avó de Brandi. A mãe de Brandi estava na Georgia, na altura.

Durante esse período, uma funcionária dos Serviços Sociais do Kentucky visitou o lar, depois de ter recebido uma queixa de que Brandi tinha sofrido abusos.

Williams explicou que as lesões de Brandi se deviam a brincadeiras no recreio e a investigação foi encerrada.

Limpar o nome

Agora, 35 anos depois, Watkins foi ilibada, ao fazer questão de limpar o seu nome.

Dunn também foi ilibado do crime e postumamente exonerado. A sua filha, Jackie Dunn, esteve na audiência: "Quem me dera que o meu pai estivesse cá para testemunhar este dia," afirmou. "Ele sabia que era inocente, ele sabia que não tinha cometido aqueles crimes," disse Dunn à WTVF, afiliada da CNN.

Watkins teve a ajuda do Tennessee Innocence Project e do gabinete do Procurador do Distrito do condado de Davidson.

"Soubemos deste caso porque a Joyce foi ter connosco," disse à CNN Jason Gichner, conselheiro jurídico sénior do Tennessee Innocence Project. "Simplesmente apareceu no escritório e disse: "Deixem-me contar-vos a minha história. Preciso da vossa ajuda."

O relatório foi apresentado a 10 de novembro de 2021, pedindo que as condenações do casal fossem anuladas.

O relatório clarificava que Watkins tinha visto sangue na roupa de interior de Brandi quando chegaram a casa, uma hora e meia depois de a terem levado e pelo menos uma hora desse tempo foi passado na viagem de carro de regresso a Nashville.

Um relatório da médica Shilpa Reddy também foi incluído no processo e dizia que "a metodologia de Harlan para datar a lesão na cabeça baseada numa falta de resposta histiocítica no tecido cerebral não é um método legítimo para datar lesões na cabeça de crianças."

A decisão salientou que Harlan admitira o erro na sua metodologia, anos após o julgamento.

"Joyce Watkins e Charlie Dunn são inocentes", disse à CNN o Procurador do Distrito Glenn Funk, "Não podemos dar à Sra. Watkins ou ao Sr. Dunn os anos perdidos, mas podemos restaurar-lhes a dignidade; podemos limpar os seus nomes. É o que exige a inocência deles."

Segundo Sunny Eaton do Gabinete do Procurador do Distrito, Watkins é a primeira mulher negra a ser ilibada no estado e apenas a terceira mulher em toda a história do Tennessee.

"Sra. Watkins, a acusação contra si é anulada," disse a juíza Angelita Blackshear Dalton, do tribunal criminal de Davidson, na quarta-feira de manhã, segundo a WTVF.

Quanto a Watkins ou à família de Dunn serem recompensados pelo tempo que passaram na prisão, Gichner disse não saber o que aconteceria mais tarde.

Num comentário para a comunicação social e para a afiliada da CNN, WZTV, Watkins disse: "Agradeço a todas as pessoas pelas suas orações e por me ajudarem a sair desta trapalhada que me custou metade da minha vida por nada. Mas hei de ultrapassar isto."

E.U.A.

Mais E.U.A.

Mais Lidas

Patrocinados