Sócrates diz-se vítima de "lawfare"

Agência Lusa , BCE
21 nov, 08:57
José Sócrates (José Sena Goulão/Lusa)

Operação Marquês começou há precisamente 10 anos. Antigo primeiro-ministro diz que foi alvo de uma "armação política" que visou "impedir" a sua candidatura à Presidência da República e evitar a vitória do PS nas legislativas

O antigo primeiro-ministro José Sócrates reafirma num artigo de opinião que o processo Marquês visou impedir a sua candidatura à Presidência da República e evitar que o Partido Socialista (PS) ganhasse as eleições de 2015.

No artigo divulgado esta quinta-feira no Diário de Notícias, no dia em que se assinalam os 10 anos da operação Marquês, José Sócrates aborda todos os passos do processo e afirma que não se trata de processo de direito comum, mas de um processo de exceção.

“O processo Marquês nunca foi um processo judicial, mas uma armação política – impedir a minha candidatura a Presidente da República e evitar que o Partido Socialista ganhasse as eleições legislativas de 2015. A única diferença face ao recente Processo Influencer é que, há 10 anos, não se esqueceram de escolher o juiz. A diferença que faz escolher o juiz”, sublinhou.

Neste momento, de acordo com José Sócrates, no processo não existe acusação (anulada em 2021), nem pronúncia (anulada em 2024), mas “a perseguição continua”.

“A operação de ‘lawfare’ segue à risca os procedimentos: manipularam a escolha do juiz, fabricaram acusações falsas e estapafúrdias, incumpriram todos os prazos e violaram o segredo de justiça, por forma a alimentar o jornalismo e fazer dele o seu principal aliado. O ‘lawfare’ é assim: não se destina a ganhar um melhor lugar na mesa das negociações – é uma guerra de extermínio. Em Portugal dura há 10 anos”, realça.

No artigo, José Sócrates volta a dizer que o Estado português levou a cabo uma campanha de difamação “contra um cidadão inocente”, destacando que há várias formas de contar a história e uma delas é a mentira.

José Sócrates lembra que 10 anos depois, a história do processo é também a da “história vertiginosa e contínua mudança na acusação” e também “de violência de arbítrio”.

“Dez anos de prisão na opinião pública. Dez anos em que o sistema criminal português se comportou como na ditadura, prendendo e difamando um inocente, enquanto escolhia o juiz do inquérito que melhor servisse o Ministério Público”, refere.

No artigo, destacou igualmente que o jornalismo cumpriu o seu papel.

“O jornalismo divulgou, o jornalismo justificou, o jornalismo branqueou – manobras dilatórias são os dos advogados, não existem manobras dilatórias do Estado. O adiamento dos prazos de inquérito, o adiamento dos prazos de instrução, o incumprimento de qualquer tipo de prazo pelo Estado é visto, pelo jornalismo, como a procura da ‘verdade material’ ou como resposta à chamada ‘dificuldade em provar’ ou ainda como forma de ultrapassar a costumeira ‘falta de meios’”, referiu.

José Sócrates foi detido há 10 anos no aeroporto de Lisboa, quando chegava de Paris, e uma década passada sobre esse dia ainda não começou o julgamento da Operação Marquês, processo marcado por sucessivos recursos do antigo primeiro-ministro.

No processo, foi acusado pelo MP, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, em 09 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento apenas por três crimes de branqueamento e três de falsificação.

Uma decisão posterior do Tribunal da Relação de Lisboa viria a dar razão a um recurso do MP, e em janeiro determinou a ida a julgamento de um total de 22 arguidos por 118 crimes económico-financeiros, revogando a decisão instrutória, que remeteu para julgamento apenas José Sócrates, Carlos Santos Silva, o ex-ministro Armando Vara, Ricardo Salgado e o antigo motorista de Sócrates, João Perna.

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