Procurador-Geral da República disse esta sexta-feira que as suas declarações foram “mal interpretadas” pelo ex-governante e que “nunca disse que José Sócrates tinha de provar a sua inocência”. O antigo primeiro-ministro retorquiu rapidamente
O antigo primeiro-ministro José Sócrates voltou a responder ao procurador-geral da República.
Amadeu Guerra disse esta sexta-feira que as suas declarações foram “mal interpretadas” pelo antigo governante e que “nunca disse que José Sócrates tinha de provar a sua inocência”.
Na tarde do mesmo dia, Sócrates enviou um comunicado sucinto às redações, onde voltou a criticar o mais alto magistrado do Ministério Público.
“O senhor procurador declarou que ‘precisamos dar oportunidade ao engenheiro Sócrates de provar a sua inocência’. Agora, diz que não disse o que disse: ‘Eu não disse que o eng. José Sócrates tinha de provar o que quer que seja’. A primeira declaração é irresponsável; a segunda é desonesta”, começou por dizer o antigo governante.
“Aqui vai um conselho: quando metidos num buraco, o melhor é não continuar a escavar”, completou.
A quezília entre os dois começou após Amadeu Guerra ter dito, no programa “Justiça Cega do Observador”, que o antigo primeiro-ministro "sempre disse que queria ser julgado neste processo para provar a sua inocência" e que por isso "devemos dar essa oportunidade ao eng. José Sócrates para provar a sua inocência".
O antigo chefe de governo respondeu duramente.
"O senhor Procurador-Geral da República, na sua infinita indulgência, afirma que 'precisamos dar oportunidade ao engenheiro Sócrates de provar a sua inocência'. Que alívio para todos. O Estado já não precisa de provar as acusações que faz – é o visado que deve provar a sua inocência. Quando o senhor Procurador-Geral fala sentimos imediatamente a lei a ser escrita: o ónus da prova é agora do cidadão, não do Estado. Não há recurso das declarações do Ministério Público. Só náusea", pode ler-se na primeira curta nota.
O julgamento do caso Marquês, que pela primeira vez senta um ex-primeiro-ministro no banco dos réus, começou esta quinta-feira, mais de uma década depois de conhecida a investigação.
Os 22 arguidos respondem por 118 crimes económico-financeiros, entre os quais corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, relacionados sobretudo com três dossiês: o Grupo Lena, no qual se inclui o projeto do TGV; a antiga empresa de telecomunicações Portugal Telecom (PT); e o resort de Vale do Lobo, no Algarve, ao qual a Caixa Geral de Depósitos concedeu um crédito considerado ruinoso.
O julgamento vai decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, e apesar de ter estatuto de urgente as sessões serão suspensas durante as férias judiciais.