O fenómeno José Pinhal chegou ao The Guardian. Esta é a história do artista que começou a ganhar fama mais de 20 anos após a sua morte

10 fev 2023, 12:16

Recorde a reportagem que a TVI fez em 2020 sobre o cantor. Atualmente, a banda José Pinhal Post-Mortem Experience faz sucesso nos festivais

Quando, por mero acaso, Paulo Cunha Martins encontrou e escutou com atenção duas cassetes de José Pinhal, um artista à data praticamente desconhecido, estava longe de imaginar que aí nascia um dos fenómenos mais curiosos da música portuguesa. Há dias, o The Guardian, jornal de referência no Reino Unido, dedicou um extenso texto ao “renascimento” de José Pinhal, o cantor de Matosinhos que começou a ganhar fama mais de 20 anos após a morte - faleceu num trágico acidente de viação em 1993.

Já em 2020, a TVI, numa reportagem emitida no Jornal das 8, tentou explicar este estranho caso de José Pinhal. Como é que um músico que passou despercebido durante os anos 80 e 90, que lançou três cassetes em edições tão limitadas que hoje são praticamente impossíveis de encontrar, se transforma num ícone nos meios alternativos, primeiro no Porto e arredores, e depois em todo o país? 

A resposta não é simples - será, talvez, a junção de diversos fatores. Desde logo, a própria música de José Pinhal, que é popular sem ser pimba, nitidamente diferente dos trabalhos de artistas daquela época. Talvez por isso, sugere o The Guardian, a mistura entre synth-pop, soft-rock e música de baile não tenha despertado grande atenção no passado. À TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), Diogo Machado, um dos envolvidos no documentário “A Vida Dura Muito Pouco”, dedicado à vida e obra do artista, explicou de forma sucinta: “É impossível ficar indiferente ao José Pinhal. É super contagiante.”. 

Completa Artur Agostiny, amigo e companheiro de digressões, que “as pessoas ouvem a música e fica na cabeça. Dás por ti e acabas a cantar aquelas músicas”. Uma opinião confirmada pelo entusiasta que começou a divulgar a obra de Pinhal, Paulo Cunha Martins, que descreve festas em que “as pessoas aprendiam logo as letras, sabiam exactamente a melodia e começavam a cantar”. Havia também um certo mistério pela obscuridade e falta de informação da personagem, que terá ajudado a adensar o mito. “Quando ouvi José Pinhal, fui logo pesquisar mais, e encontrei um texto de 2008 sobre ele”, conta Dinis Leal Machado, realizador do documentário sobre o cantor. “Estive a ouvir José Pinhal, alguém sabe mais sobre isto?”, escrevia-se no artigo.

 

José Pinhal nunca conheceu os grandes palcos, mas era presença regular em arraiais e outras festas, bem como boates e bares, especialmente na região do Porto. Este sucesso póstumo emociona a família, que acompanha o culto com entusiasmo mas sem se envolver em demasia, e surpreende colegas de profissão. Por exemplo, a famosa cantora Ágata, entrevistada em 2020 pela TVI, não escondia o espanto: “Nunca imaginei, 40 anos depois, estar aqui a falar convosco sobre o José Pinhal”, que descrevia como “um cantor bastante popular, tinha muitas fãs. Vestia-se de branco, tinha um característico bigode”, recorda.

Há meses, foi lançada uma edição especial em vinil do Volume 2 de José Pinhal. Esgotou em poucos dias, e foi lançada uma segunda edição. A comprovar o improvável entusiasmo das gerações mais novas com um cantor praticamente desconhecido, é o espantoso sucesso da banda José Pinhal Post-Mortem Experience, que se dedica a tocar exclusivamente os temas mais conhecidos do artista. 

Depois de alguns concertos em salas de pequena dimensão, interrompidos pela pandemia, o grupo fez furor em vários festivais de grande dimensão em Portugal, como Paredes de Coura ou Bons Sons. Os elementos da banda de tributo descrevem espectáculos com cerca de 4 mil pessoas, e à TVI confessaram que as músicas “são incríveis, são mesmo muito fortes para tocar ao vivo”. E não escondem que “se fosse vivo, queríamos marcar um concerto com ele, tentar que ele voltasse a tocar”. Isso é, agora, seguramente impossível, mas o legado desta figura de culto da música portuguesa segue mais vivo do que nunca.

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