José Azeredo Lopes salientou que, dos 10 eixos estratégicos da ERC até 2028, “clarificar e reforçar as competências da ERC para enfrentar os desafios” estão entre os mais relevantes
O antigo presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) José Azeredo Lopes afirmou que há uma ameaça à sobrevivência democrática quando o "próprio ator da notícia passa a ser o autor da notícia".
“O próprio ator da notícia passa a ser o autor da notícia”, disse à Lusa Azeredo Lopes à margem da conferência “20 Anos de Regulação: A Comunicação Social e o Futuro Digital”, em Lisboa, referindo que “a desintermediação é um perigo para o jornalismo atualmente, porque começa a consolidar-se não só pelo poder político, mas também por outros poderes”.
Fazendo referência ao poder político, o académico explica que as instituições fazem “uns slides, colocam nas redes sociais uma mensagem clara e explicam, isto é verdade e isto é mentira”. Neste sentido, “os jornalistas interpretam, os jornalistas intermedeiam e 'nós' vamos fazer uma ligação direta”.
“A desintermediação, no fundo, passa uma mensagem muito simples: deixem dizer a verdade, porque os jornalistas mentem”, declarou.
O universitário afirmou que isto representa um “ataque direto ao jornalismo, uma função social indispensável para a sobrevivência das sociedades democráticas”.
“Isto é importar diretamente as técnicas que vêm do outro lado do Atlântico, da rede Truth Social, das redes sociais como instrumento de agressão e de ataque, da limitação da mensagem em meia dúzia de palavras, das afirmações muito agressivas, da contestação pessoal às vezes do próprio jornalista”, acrescentou.
Na conferência, o professor universitário salientou que, dos 10 eixos estratégicos da ERC até 2028, “clarificar e reforçar as competências da ERC para enfrentar os desafios” estão entre os mais relevantes.
“Todos estão relacionados com a revolução digital, já muito instalada, mas que nunca chega ao fim”, disse Azeredo Lopes.
O primeiro presidente do Conselho Regulador da ERC disse à Lusa que “o início da regulação moderna, em Portugal, foi difícil, porque os reguladores encaravam este exercício como uma forma de hostil de poder lidar com a liberdade de imprensa e com comunicação social”.