Sem perguntas, mas com abraço. Os últimos momentos de Jesus no Benfica

28 dez 2021, 16:04

Do encontro com dirigentes do Flamengo à saída da Luz passou apenas uma semana - mas com uma derrota pesada no Dragão pelo meio

Nervosos, com poucas palavras e alguma emoção. Assim se apresentaram Rui Costa e Jorge Jesus, juntos, numa rara aparição de presidente e treinador que acabam de dizer adeus um ao outro. Ao fim de um ano e meio, o técnico que foi resgatado ao Brasil como salvador sai da Luz pela segunda vez, mas agora como derrotado.

Em dois minutos, presidente e agora ex-treinador estavam despachados: não houve direito a perguntas, mas houve um forte abraço entre os dois. “Obrigado, Jorge”, foram as últimas palavras que ouvimos da parte de Rui Costa. A conversa foi maior em privado, claro, porque pelo menos desde há uma semana haveria muito para dizer.

O encontro com dirigentes do Flamengo

Faz esta terça-feira precisamente uma semana que Jesus esteve reunido com dirigentes do Flamengo, algo incomum em vésperas de um jogo decisivo para o Benfica frente ao FC Porto, para a Taça de Portugal.

Menos incomum foi o "sim" que o treinador terá dito: sim, estava disposto a voltar ao clube onde foi feliz. O Benfica reagiu, mais em direção às notícias do que ao facto, e não deixou a porta abrir-se: não, não estava disposto a negociar com o clube brasileiro.

Jesus foi, assim, ao Dragão e viu a equipa ser categoricamente derrotada por 3-0. É essa, aliás, a última imagem que vimos de Jorge Jesus como treinador do Benfica: castigado, na bancada do estádio azul e branco, com ar abatido.

Meteu-se o Natal e falou Pizzi

O Benfica regressou aos treinos depois do Natal, para preparar novo embate frente aos dragões, que acontecerá esta quinta-feira, desta vez para o campeonato, e a bomba-relógio que era o balneário encarnado acabou por explodir.

Segundo a CNN Portugal confirmou junto de fontes do clube, Pizzi - um dos capitães da equipa - terá demonstrado a sua insatisfação com a prestação no jogo frente ao FC Porto, pelo que terá sido castigado por Jesus: foi expulso do treino e isolado do restante plantel.

Esta terça-feira, de acordo com um jornalista brasileiro, terá sido o treinador a colocar o lugar à disposição. Ao Seixal ainda acorreram todos os jogadores, mas o treino, que estava marcado para as 10h00, acabou mesmo por ser adiado - e lá voltaram eles a casa.

Reunião para acordo durou mais de duas horas

Por esta altura, cerca das 9h30, já se sabia que o treino da tarde seria orientado por Nélson Veríssimo, o treinador da equipa B que servirá de "bombeiro" novamente, depois de já ter assumido a equipa após a saída de Lage - e até à entrada, curiosamente, de Jorge Jesus.

Mas o técnico permaneceu no centro de estágios porque entretanto tinha chegado Rui Costa e os dois iam, finalmente, conversar. A rescisão terá sido posta em cima da mesa pelo presidente, o treinador aceitou e chamou o advogado para finalizar os termos. 

Foram mais de duas horas a acertar contas para agora se saber que o Benfica vai continuar a pagar salário a Jesus até ao fim do contrato, ou até este encontrar novo clube.

A despedida - a duas vozes

Os jornalistas foram, então, convidados a assistir a uma declaração, sem direito a perguntas, que arrancou quando o comunicado da SAD já tinha chegado à CMVM: saída confirmada e Veríssimo treinador até ao fim da época (está, assim, terminada a ansiedade dos adeptos benfiquistas quanto à sucessão imediata).

Por volta das 14h33, Rui Costa e Jorge Jesus entravam na sala de imprensa do Seixal, juntos, para a curta mensagem de despedida. Num minuto, o presidente encarnado confirmou o "acordo para a rescisão" do contrato e usou palavras como "lealdade", "seriedade" e "frontalidade" para o descrever.

"Não era este o desfecho que ambos ambicionávamos, mas chegámos à conclusão que este dia acabou por ser melhor para ambas as partes", disse Rui Costa, agradecendo a "dedicação e esforço" de Jesus e desejando-lhe "as maiores felicidades".

De voz embargada, foi a vez de Jorge Jesus constatar que "este projeto chegou ao fim". "Vim a pensar que sou uma solução e não um problema", afirmou, garantindo que sai "pelos interesses do Benfica". "A minha vida vai continuar, como sempre, a trabalhar com amor e paixão", acrescentou, concluindo que teve "muita honra" em voltar ao Benfica.

Foi rápido, levantou-se, cumprimentou Rui Costa e terminaram com um forte abraço entre os dois.

O segundo percurso de Jorge Jesus no Benfica acabou de forma mais pacífica do que o primeiro (quando "trocou" as águias pelos rivais do Sporting), mas com um currículo pior (sai com zero títulos enquanto em 2015 era bicampeão nacional). Agora, com Veríssimo ao comando, cabe ao presidente Rui Costa "abraçar" as consequências desta saída.

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