Johnny Depp vs Amber Heard, vai começar a ronda final

31 mai 2022, 12:51

Seis semanas depois, está prevista para esta terça-feira a deliberação do júri nos casos de difamação que opõem o ex-casal. A decisão está agora nas mãos dos jurados

Seis semanas de julgamento e, agora, tudo está nas mãos de sete jurados que, desde sexta-feira, analisam as provas no processo de difamação, em que Johnny Depp exige 46 milhões de euros à ex-mulher, tendo a atriz também avançado com uma acusação semelhante, mas exigindo 93 milhões.

Na sexta-feira, as duas equipas jurídicas apresentaram os últimos argumentos durante duas horas. Agora, cabe aos jurados apresentar uma decisão, que terá de ser unânime e que só pode ser tomada com base no material do julgamento cedido pelo tribunal. O veredito será depois transmitido pela juíza Penney Azcarate. No entanto, a decisão pode não ser conhecida esta terça-feira e, se assim for, os jurados voltam a reunir-se amanhã às 9:00 (14:00 em Lisboa).

Muito foi dito e exibido na sala de tribunal para se chegar à última e decisiva ronda do julgamento. Na sala de audiência, perante a juíza Penney Azcarate, as equipas jurídicas de Heard e Depp apresentaram provas em áudio, texto e vídeo e chamaram várias testemunhas, entre as quais Kate Moss, que nem era para testemunhar, mas que uma simples referência feita por Amber Heard no seu testemunho levaram a que a modelo britânico fosse ouvida no caso

No final, as acusações foram feitas de parte a parte: Depp acusou Heard de violência e a atriz diz que nunca bateu no ex-marido, apenas se defendeu. O relato, muitas vezes explícito, foi feito não só perante a sala de tribunal, mas perante o mundo: o julgamento tem tido transmissão televisiva e em streaming (através de canais como CourtTV e Law and Order) e tornou-se tendência nas redes sociais. Também à porta do tribunal, são centenas as pessoas que, não conseguindo entrar para assistir ao julgamento, esperam para aplaudir ou apupar os atores quando estes ali chegam para mais um dia de audiência.

Na imagem do lado esquerdo vê-se o público que conseguiu entrar na audiência para assistir ao julgamento. Na imagem da direita, centenas de pessoas esperam a saída dos atores do tribunal de Fairfax (Associated Press)

O dedo decepado

Johnny Depp, que acusa a ex-mulher de difamação pelo artigo de opinião escrito no jornal Washington Post, afirmou em tribunal, tendo inclusive exibido imagens dos ferimentos, que durante uma discussão com Amber Heard em 2015, nos primeiros meses de casados, a atriz lhe atirou com uma garrafa de vodka e lhe arrancou a ponta do dedo indicador da mão direita.

Johnny Depp no segundo dia de audiência (EPA)

O ator afirmou ainda que entrou em choque e que acabou por usar o próprio sangue para escrever mensagens para a ex-mulher na parede, antes de ser levado para o hospital.

No entanto, em tribunal, Amber Heard apresentou uma versão diferente, e disse que quem tinha sido atacada nessa noite tinha sido ela. Num testemunho emocionado, a atriz negou ter cortado o dedo do ex-marido e disse que este a violentou sexualmente com uma garrafa.

"Ele estava a enfiar aquilo dentro de mim uma e outra vez", disse em tribunal, enquanto olhava para baixo, abanava a cabeça e soluçava. Naquele momento, acrescentou, só conseguia pensar se aquela garrafa era uma das que estava partida. "Lembro-me de olhar à volta, olhar para todas as garrafas partidas, para os vidros estilhaçados e lembro-me de não me querer mexer porque não sabia se aquela garrafa que ele tinha dentro de mim estava partida."

"Nunca bati em nenhuma mulher na minha vida"

Perante as acusações de um casamento violento, Johnny Depp, que foi ouvido em tribunal ao longo de quatro dias, garantiu em tribunal que nunca bateu em Heard ou em outra mulher, dizendo que o que aconteceu na relação foi o contrário, com Amber Heard a tornar-se abusiva com o passar do tempo, chegando mesmo a fazer bullying e a chamar-lhe "nomes que o diminuíam".

"Se eu ficasse para discutir, mais tarde ou mais cedo, tinha a certeza que iria se transformar em violência, e muitas vezes aconteceu", afirmou.

Garantindo ser "obcecado com a verdade", Johnny Depp disse ainda que as alegações contra ele de violência doméstica eram "perturbadoras e hediondas" e “não baseadas em nenhuma espécie de verdade”.

"Nunca cheguei ao ponto de bater na Sra. Heard de forma alguma. Nem nunca bati em nenhuma mulher na minha vida." 

No contra-interrogatório, o advogado de Amber Heard, Ben Rottenborn, refutou a versão de Depp, apresentando textos, áudios e vídeos de situações em que o ator era agressivo com a ex-mulher e argumentou que o uso de álcool e drogas deste foram a razão para a sua carreira desmoronar e não o artigo de jornal no qual, afirmou, Heard nunca nomeou Depp e não continha detalhes sobre a relação do ex-casal.

Alguns dos textos foram, por exemplo, mensagens que Depp trocava com os amigos sobre a relação com Amber Heard e em que afirmava que era um "monstro" e que queria afogar e queimar a ex-mulher. “Vamos afogá-la antes de a queimarmos. Depois, vou f**** o seu cadáver queimado para ter a certeza de que ela está morta.”

Entre os textos, estavam vários enviados pelo ator a Paul Bettany, onde confessava transformar-se depois de ter "bebido demais". Na trocas de texto, Johnny Depp terá dito mesmo que a ex-mulher era uma "p*** imunda", que queria ver morta.

Questionado em tribunal sobre as mensagens que trocou, Depp afirmou não estar "orgulhoso de nenhum dos termos que usava nos momentos de raiva”, mas acabou por dizer que as mensagens eram uma referência "direta" a um episódio de Monty Python (série de comédia britânica) e que se tratava apenas de "humor irreverente e abstrato".

"Não tenho palavras para descrever o quão doloroso isto é"

Depois de o ex-marido e das testemunhas serem ouvidas ao longo de vários dias, foi a vez de Amber Heard se sentar no banco das testemunhas. Dizendo que era "horrível ter de reviver tudo" durante semanas, a atriz recordou as alegadas situações de violência física, sustentadas com provas fotográficas e documentos médicos.

"Não tenho palavras para descrever o quão doloroso isto é", admitiu. 

Amber Heard emociona-se em tribunal (EPA)

Perante o tribunal, afirmou que foi agredida várias vezes por Depp e que na última discussão, a mesma em que a polícia não a identificou como vítima de violência doméstica, ficou com hematomas na cara e arranhões nos braços que teve de disfarçar com maquilhagem. A atriz afirmou ainda que o ex-marido chegou a partir-lhe o nariz e a arrancar-lhe partes de cabelo noutra discussão.

No contra-interrogatório, a advogada de Depp, Camille Vasquez, tentou desacreditar Amber Heard em tribunal com questões de resposta rápida e apontando a ausência de relatórios médicos dos ferimentos de Heard. Para além disso, Vasquez notou ainda que, apesar de se dizer preocupada com o abuso de substâncias por parte do então marido, Heard nunca parou de consumir droga nem álcool. 

Que futuro na carreira?

No processo que moveu contra a ex-mulher, Johnny Depp acusa-a de ser a responsável pela queda da sua carreira, uma vez que o artigo de opinião levou ao seu afastamento da saga "Piratas das Caraíbas" e houve jornais que o chegaram a retratar como "agressor de mulheres".

A defesa de Amber tentou provar o contrário em tribunal, com testemunhos que afirmaram que foi o consumo de drogas e de álcool que fez com que "as pessoas ficassem relutantes em contratá-lo".

Em entrevista ao The Times, Jerry Bruckheimer, que produziu os filmes "Piratas das Caraíbas", afirmou que "o futuro ainda não foi decidido", deixando a questão em aberto.

Por sua vez, Amber Heard também acusou o ex-marido de ter feito com que o seu papel em Aquaman fosse reduzido na sequela do filme. Chamada a depor pela defesa da atriz, Kathryn Arnold, consultora na indústria do entretenimento, afirmou que Amber Heard só conseguiu manter o papel no filme Aquaman 2 porque Jason Momoa foi inflexível. No entanto, Kathryn disse ainda que, depois das acusações formalizadas por Johnny Depp a parte da atriz foi “radicalmente reduzida”. 

Nas alegações finais, Depp garantiu que não teve nada a ver com o papel de Amber Heard em Aquaman, mas que quando a ex-mulher fez a audição para o papel lhe pediu se podia fazer uma chamada para a Warner Bross a interceder por ela e que assim fez. Impedido pelos advogados de Heard de dar mais detalhes, o ator afirmou apenas que, "no final, ela conseguiu o trabalho, por isso, acho eu, consegui conter as preocupações deles até algum ponto".

O caso começou a ser julgado a 11 de abril. Ao longo de quatro dias, Johnny Depp prestou depoimento, sendo confrontado com mensagens, vídeos e áudios das discussões entre o casal. Também Amber Heard foi ouvida ao longo de quatro dias.

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