Johnny Depp venceu processo nos EUA mas perdeu caso semelhante no Reino Unido. E esta é a explicação

2 jun 2022, 16:13
Julgamento Johnny Depp vs Amber Heard (EPA/KEVIN LAMARQUE)

A decisão do processo contra a ex-mulher Amber Heard foi conhecida esta quarta-feira, num julgamento marcado por revelações chocantes sobre a vida íntima do ex-casal. Mas há dois anos, o ator perdeu um processo contra o tabloide The Sun

Johnny Depp venceu o processo de difamação que iniciou contra a ex-mulher Amber Heard nos Estados Unidos, mas em 2020 perdeu um caso semelhante no Reino Unido contra o jornal The Sun. De acordo com os especialistas, a principal razão parece ser esta: o caso britânico foi decidido por um juiz, enquanto o americano foi deliberado por um júri.

Os sete jurados concluíram esta quarta-feira que Heard difamou o ex-marido, considerando que Depp “provou todos os elementos de difamação” e que a atriz agiu com “malícia", numa condenação que implica pagamento de 15 milhões de dólares ao ator. O processo, recorde-se, foi iniciado pelo protagonista de “Piratas nas Caraíbas” depois de a ex-mulher ter escrito um artigo no “Washington Post” no qual afirmou ser “sobrevivente” de situações de abuso e violência doméstica – ainda que nunca tenha referido o nome do ator. 

Mas há dois anos, Depp perdeu o caso contra o tabloide The Sun, que o descreveu como um “agressor de mulheres”. O caso foi julgado no Reino Unido por um juiz que determinou que “a grande maioria das alegadas agressões foram provadas pelo padrão civil”. Neste processo, Heard nunca foi nomeada mas chegou a depor em tribunal como testemunha chamada pelo jornal. 

Tanto no caso americano como no britânico, os advogados de Depp argumentaram que Heard estava a mentir e atacaram o carácter da atriz, acusando-a de ser a parte abusiva da relação. O especialista em Direito Internacional Mark Stephens explica à BBC que se trata de uma estratégia conhecida em processos de violência doméstica ou assédio sexual: “negar, atacar e reverter o papel da vítima do agressor”. Na prática, os advogados focam-se em questionar a credibilidade da alegada vítima. 

É um método que normalmente é mais eficaz contra um júri do que contra um juiz. “O juízes tendem a não cair nesta estratégia, mas ela é muito eficaz contra os júris”, afirma Mark Stephens. O especialista refere que no Reino Unido o juiz reconheceu a tática e rejeitou muitos indícios de prova que não sustentavam diretamente se Depp tinha ou não agredido a ex-mulher. A situação muda de figura quando é um júri a deliberar.

“As pessoas têm um paradigma na sua cabeça de como é uma vítima de abuso ou de como é que ela age e se comporta e claro que sabemos isso muitas vezes não corresponde à verdade”, sublinha Stephens.

Por outro lado, há outro fator em jogo: a enorme diferença na exposição mediática que foi dada a cada processo. Hadley Freeman, jornalista do The Guardian que cobriu os dois casos, destaca que o facto de o processo americano ter sido transmitido pela televisão transformou-o “quase num jogo desportivo”, acompanhado por milhões de pessoas. E neste “jogo”, o apoio ao ator adquiriu grande expressão nas redes sociais, com movimentos dos fãs em várias plataformas.

A decisão do processo americano foi conhecida esta quarta-feira, ao fim de sete semanas, num julgamento marcado por revelações chocantes sobre a vida íntima do ex-casal, incluindo episódios de abusos, consumo de álcool e drogas. O júri estava a deliberar uma decisão desde sexta-feira, dia em que foram feitas as alegações finais. 

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