As roupas têm geralmente as cores de cada país e são criadas por estilistas ou marcas nacionais
Muito já se falou do traje olímpico da Mongólia, que reflete bem as tradições do país e foi eleito por muitos como o mais bonito de Paris 2024. Mas a verdade é que, nesta sexta-feira à noite, quando as várias delegações desfilarem pelo rio Sena, todos os atletas serão como modelos que transmitem uma determinada imagem do seu país. Geralmente, são convidados estilistas ou marcas nacionais para criar o visual dos atletas olímpicos, incluindo os trajes para as cerimónias mais festivas, as roupas para as cerimónias de medalhas e os equipamentos usados nas provas.
Alguns países, como os EUA e o Reino Unido, apostam em looks mais clássicos. Outros, como Canadá, Espanha ou Países Baixos, irão levar um visual mais desportivo. Há nações, como o Haiti e Taiwan, que aproveitam para dar visibilidade a artesãos e técnicas tradicionais; outros, como França e Itália, desafiaram designers bem conhecidos das passerelles.
Portugal inspira-se nos bordados dos lenços dos namorados
A Decenio revelou esta quinta-feira uma surpresa pensada para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos: trajes bordados à mãos que serão usados pelos porta-estandartes, a corredora de marcha Ana Cabecinha e o canoísta Fernando Pimenta. Os dois conjuntos foram desenhados pela marca em colaboração com a Cooperativa Aliança Artesanal de Vila Verde, que os bordou à mão ao longo de dois meses.
Esta é a segunda vez que a Decenio é responsável pelos uniformes mais formais da seleção portuguesa. Já os conjuntos desportivos foram produzidos pela marca espanhola Joma e os óculos de sol são da responsabilidade da Shamir Optical, feitos em Portugal, à medida para cada atleta.
Aos fatos azuis-escuros juntam-se pólos com um padrão inspirado nos tradicionais lenços dos namorados mas que, se olharmos com atenção, têm elementos como medalhas olímpicas, o brasão português, mas também outros dos tradicionais lenços dos namorados, como o coração de Viana, pequenos pássaros e as palavras “amor, solidariedade, força e superação”. Os mesmos elementos estão estampados no lenço, nas meias e no boné.
França: alta-costura a desfilar no rio Sena
O país anfitrião dos Jogos Olímpicos de Paris fará uma entrada triunfal usando smokings personalizados da marca de luxo Berluti, fundada em 1895, criados em colaboração com a LVMH. “A Berluti juntou o savoir-faire e a experiência dos seus artesãos para garantir que os atletas franceses tenham a melhor aparência”, lê-se num comunicado oficial.
Os fatos são azul-escuro com lapelas em tons de azul e vermelho, duas das cores da bandeira francesa. As mulheres podem optar por uma versão dos casacos sem mangas. Os bolsos e lenços foram criados a partir de restos de tecido para evitar desperdícios, enquanto as camisas brancas são feitas de mistura de algodão e seda para serem ao mesmo tempo luxuosas e confortáveis.
Haiti: a sustentabilidade e a tradição de mãos dadas
Os trajes do Haiti foram criados pela designer ítalo-haitiana Stella Jean, sedeada em Roma, e pretendem celebrar a cultura e o artesanato do Haiti, ao mesmo tempo que enviam uma mensagem de esperança e renovação numa época marcada pela instabilidade política do país. Jean incorporou o trabalho do artista local Philippe Dodard na saia e nas calças do uniforme - uma estampa colorida de uma pintura chamada “Passagem”. Para as mulheres, a saia será combinada com uma camisa de cambraia, refletindo as tradicionais técnicas de fiação de algodão azul do país, além de um blazer sem mangas com cinto feito de materiais reciclados. Os homens usarão casacos inspirados na tradicional camisa Guayabera haitiana.
“Acredito que estes atletas já conquistaram a medalha mais importante com a sua presença em Paris. A categoria vencedora: sustentabilidade humana”, disse Stella Jean, que estará lá, nos bastidores da cerimónia, estilizando ela mesma cada o look de cada um dos atletas do Haiti. No seu ponto de vista, os atletas são como embaixadores do país e "o seu corpo é uma bandeira".
EUA: um visual clássico criado pela Ralph Lauren
A marca Ralph Lauren é pela nona vez a responsável pelos equipamentos da delegação norte-americana nos Jogos Olímpicos. E não podiam ser mais clássicos: com calças brancas ou de ganga clara, blazers azul-marinho com detalhes em vermelho e branco, e camisas Oxford às riscas. “Nada diz mais à América do que os jeans, especialmente quando estamos em Paris”, disse David Lauren, diretor de branding e inovação da marca e filho do fundador, ao revelar o design em junho.
Fabricado nos EUA, mas criado com a sustentabilidade em mente, usando poliéster reciclado e lã com o selo "Responsible Standard" cultivada em Oregon da Shaniko Wool Company. “Ralph Lauren mais uma vez criou designs que não apenas capturam a essência do estilo americano, mas também incorporam o espírito e o orgulho da equipa dos EUA”, disse Sarah Hirshland, CEO do Comitê Olímpico e Paraolímpico dos EUA.
Taiwan: recriar a tradição
Depois do sucesso dos uniformes desenhados para as Olimpíadas de Tóquio 2020, Justin Chou, fundador da marca de streetwear de vanguarda JUST IN XX, está de volta em 2024 como criador oficial do look da Chinese Taipei, nome olímpico oficial de Taiwan.
Chou transformou a obra de arte “Mountain Range of Taiwan”, do artista taiwanês Paul Chiang, num tecido estampado para os fatos que os atletas vão usar na cerimónia de abertura, com as ondas azuis representando a beleza natural da paisagem de Taiwan. Na lapela terão adornos criados pelo artesão de tecelagem de flores Lin Pei-Ying, feitos com as flores nacionais de Taiwan, as flores de ameixa e de canola, servindo como um amuleto de boa sorte para os atletas. O cinto e a parte superior dos sapatos foram concebidos pelo artesão Yan Yu-Ying com tecido de fibra de bananeira, uma antiga tradição têxtil usada em Taiwan. Chou também trabalhou com a designer gráfica Kokia Lin para criar uma impressão que, através de uma ilusão de ótica, transforma as palavras “Chinese Taipei” nas palavras “Cheer On”.
Itália vai competir com o estilo Armani
A Emporio Armani é a responsável pelo equipamento olímpico da Itália desde 2012. “Procurar novas soluções para o uniforme dos atletas, que deve aliar elegância à praticidade, é sempre um desafio emocionante para mim″, disse Giorgio Armani no ano passado, quando o kit nacional foi apresentado no desfile Primavera-Verão 2024 da coleção desportiva da Emporio Armani.
A camisola azul que os atletas vão usar sempre que subirem ao pódio é estampada com “W Italia”, abreviatura de “Eviva Italia” ou “Viva a Itália”. Além disso, os atletas não terão desculpa para não conhecer o hino nacional: o início está estampado na gola das camisas pólo, e todo o primeiro verso fica dentro dos casacos.