Dos direitos humanos a uma queda viral. Jogos Olímpicos de Pequim arrancam envoltos em polémicas

6 fev 2022, 19:58
Zhu Yi, patinadora de 19 anos que representa a China nestes Jogos de Inverno (AP Photo/Natacha Pisarenko)

Uma atleta de patinagem caiu e levou à revolta nas redes sociais. Ao mesmo tempo, a Finlândia queixa-se das condições de isolamento de um dos atletas

Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022 arrancaram na sexta-feira, mas já estão a ser marcados por várias polémicas, começando desde logo pela cerimónia de abertura, que contou com a participação de uma atleta da minoria uigur de Xinjiang, Dinigeer Yilamujiang, para acender a chama olímpica. Perante as imagens da cerimónia, os Estados Unidos consideraram que a escolha de uma atleta da minoria étnica uigur para o efeito se tratou de uma “distração” promovida pelos chineses para ocultar a “tortura” e as “violações dos direitos humanos” de que os uigures são vítimas na China.

"Sabemos que foi cometido um genocídio ali [Xinjiang]. (…) É importante que a audiência que assistiu a isto (cerimónia) compreenda que não nos afasta do que sabemos que está a acontecer no terreno", salientou a embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas, Linda Thomas Greenfield, em declarações à CNN.

Os atletas Dinigeer Yilamujiang (à esquerda) Zhao Jiawen (à direita), na cerimónia de abertura dos Jogos de Inverno (EPA/Yonhap)

Mas as polémicas não ficaram por aí. Este domingo ficou também marcado por várias críticas dirigidas a uma patinadora chinesa, que nasceu nos Estados Unidos, mas está a representar a China nestes Jogos de Inverno, depois de uma queda que a relegou para o último lugar na prova. Zhu Yi, uma jovem de 19 anos que nasceu em Los Angeles, numa família de imigrantes chineses, decidiu desistir da cidadania norte-americana e representar a China nestes Jogos Olímpicos. Até mudou o nome de Beverly Zhu para Zhu Yi.

Apesar dos esforços da jovem patinadora nos últimos anos, a prova deste domingo não correu como esperado. Zhu foi a primeira atleta a competir no segundo dia da prova de patins em linha, mas acabou por cair e colidir com uma parede. Como consequência, a China caiu do terceiro lugar para o quinto – o suficiente para, ainda assim, prosseguir para a próxima ronda da competição.

As críticas dos adeptos chineses não demoraram muito, e várias pessoas utilizaram a Internet para exprimir o desagrado com a prestação da atleta. Na rede social Weibo, uma plataforma chinesa semelhante ao Twitter, a hashtag “#ZhuYicaiu” tornou-se viral, tendo sido partilhada por mais de 80 milhões de utilizadores em poucas horas. Muitos chegaram mesmo questionar o porquê de Zhu ter sido escolhida para representar a China em detrimento de uma atleta nascida no país.

Zhu Yi, a patinadora de 19 anos que representa a China nestes Jogos de Inverno (AP Photo/Natacha Pisarenko)

No final da prova, Zhu disse estar “chateada” e “embaraçada” com o sucedido. “Acho que senti demasiada pressão porque sei que muitos ficaram surpreendidos com a seleção individual das mulheres e queria mesmo mostrar-lhes o que sou capaz de fazer, mas, infelizmente, não consegui”, acrescentou, visivelmente emocionada.

Há uma outra polémica que tem manchado estes Jogos de Inverno, e que tomou novas proporções com as declarações do treinador da equipa de hóquei no gelo da Finlândia, que acusa a China de não respeitar os direitos humanos dos participantes que estão em isolamento por terem testado positivo à covid-19 na chegada a Pequim.

Marko Antilla foi um dos atletas que testou positivo e teve de ficar em isolamento assim que chegou à capital chinesa, em meados de janeiro. Contudo, 18 dias depois, o jogador continua em isolamento, mesmo depois de já ter testado negativo à covid-19 e de ter cumprido a quarentena. Além disso, o treinador Jukka Jalonen revelou que Antilla “não está a receber comida suficiente” e está sob um enorme stress.

“Sabemos que ele está completamente saudável e pronto para jogar, e é por isso que achamos que a China, por qualquer razão, não está a respeitar os seus direitos humanos”, contou Jalonen, numa videochamada com vários média internacionais.

Nos últimos dias, vários atletas e participantes dos Jogos apresentaram queixas sobre as condições de isolamento, nomeadamente dos procedimentos para sair da quarentena, que consideram confusos. Perante o avolumar das queixas, os organizadores do evento disseram estar a tentar “resolver os problemas”.

A delegação sueca revelaram que as condições nas montanhas são perigosamente frias e pediu que os eventos de esquiatlo decorram durante a manhã, depois de uma atleta sueca Frida Karlsson ter terminado a prova deste sábado a tremer.

De acordo com as regras da Federação Internacional de Ski (FIS), as competições devem terminar quando as temperaturas estiverem abaixo de 20.º. Quando Karlsson completou a prova deste sábado, as temperaturas nas montanhas de Zhangjiakou estavam nos 13.º negativos - mas o vento frio tornava-as ainda mais frias.

"Temos os limites de temperatura, mas não sei se eles também têm em consideração o efeito do vento", disse o chefe da delegação sueca Anders Bystroem, citado pelo The Guardian.

Também a patinadora polaca Natalia Maliszewska, que se viu obrigada a faltar à prova de 500 metros no sábado, contou que teve receio e incerteza no espaço dedicado ao isolamento de covid-19 dos Jogos de Inverno, depois de ter testado positivo à covid-19. "Há uma semana que vivo em constante receio e choro até não ter mais lágrimas", contou.

Os atletas que estiverem em isolamento devido a infeção por covid-19 só têm permissão para sair quando apresentarem dois testes negativos com 24 horas de diferença e Maliszewska acabou por voltar à aldeia olímpica, antes de lhe ter sido dito que tinha havido um erro.

"As pessoas tiraram-me do quarto às 03:00. Esta noite foi um terror, dormi vestida com a roupa do dia porque tinha medo que a qualquer momento alguém me levasse de volta ao isolamento. Depois recebi uma mensagem a dizer que infelizmente houve um erro, que sou uma ameaça [para os restantes colegas] e que não deveria ter saído do isolamento", explicou.

"Tenho de voltar para a aldeia olímpica o mais rápido possível. Não consigo entender isto. Não acredito nos meus testes. Para mim isto é uma grande piada. Espero que quem quer que esteja a organizar isto se esteja a divertir. O meu coração e a minha mente não conseguem aguentar mais isto", acrescentou.

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