Esta pugilista argelina é mesmo uma mulher (por muito que o mundo tente mostrar o contrário)

3 ago, 18:42
Pugilista argelina Imane Khelif (GettyImages)

Imane Khelif. Puglista, 25 anos, argelina, mulher. Se tinha dúvidas, é melhor ler isto

Bastaram dois murros e 46 segundos para que a argelina Imane Khelif se tornasse conhecida em todo o mundo. Não pelo desempenho, que levou à desistência da pugilista italiana Angela Carini. Antes pelas acusações de que é uma mulher transgénero, algo que – alegam essas vozes críticas e conspirativas – teria tornado injusto o combate.

Vamos aos factos: Imane Khelif, argelina, com 25 anos, é mesmo uma mulher. É uma mulher cisgénero, identificando-se com o género que lhe foi atribuído à nascença.

Não há registo de que Khelif alguma vez se tenha identificado como uma pessoa transgénero (isto é, que não se revê no género que lhe foi atribuído à nascença) ou afirmado como intersexo (ou seja, uma pessoa que naturalmente desenvolve características sexuais que não se encaixam nas noções típicas de sexo feminino ou sexo masculino).

Uma das possíveis explicações para o aspeto mais ‘masculino’ da atleta chama-se hiperandrogenismo, uma condição que acontece quando uma pessoa do sexo feminino apresenta níveis elevados de hormonas sexuais associadas ao sexo masculino, como a testosterona. É um processo natural, do próprio corpo, que não representa necessariamente, para ela, uma vantagem competitiva. Contudo, no caso de Khelif, também não há registos ou evidências que comprovem esta teoria.

Mesmo que se verificasse a presença de cromossomas XY ou de altos níveis de testosterona, isso não significava que esta atleta fosse um homem, como muitos fizeram crer nas redes sociais.

Neste sábado, Imane Khelif venceu a húngara Anna Luca Hamori nos quartos de final da categoria de -66 quilos. A argelina garantiu um lugar nas meias-finais. Como no boxe são atribuídas duas medalhas de bronze, Khelif sairá de Paris com uma medalha olímpica.

(AP Photo)

Meio mundo a negar o óbvio

“Prefiro parar pela minha saúde”, afirmou a italiana Angela Carini para justificar a rápida desistência perante Imane Khelif. A posição, a que se juntou depois a recusa em cumprimentar a adversária, foi interpretada como uma insinuação de que Khelif não era uma mulher - mesmo que depois Carini tenha vindo pedir desculpa pelo sucedido. As redes sociais pegaram no momento inicial e escalaram-no.

Personalidades como o ex-presidente norte-americano Donald Trump, a escritora J.K Rowling, o multimilionário dono da Tesla Elon Musk, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni foram alguns dos nomes a alimentar a polémica. Em Portugal também os houve, como a deputada do Chega Rita Matias e o deputado do CDS-PP João Almeida.

Mas uma coisa é certa: perante insultos e críticos, o Comité Olímpico Internacional já garantiu que Imane Khelif cumpriu todos os critérios necessários para integrar a competição.

O passaporte argelino diz que é uma mulher de 25 anos, nascida em 1999 em Tiaret, no norte do país. Desde criança que compete em modalidades femininas, com vitórias e derrotas registadas. E até o pai de Imane Khelif sentiu necessidade de defender a filha, em declarações à Sky Sports: “A minha filha é uma menina. Foi criada como uma menina. É uma menina forte, criei-a para ser trabalhadora e corajosa. Tem uma vontade forte de trabalhar e treinar”.

(AP Photo)

De onde vem a polémica?

A polémica com Khelif não é de agora. Na verdade, vem de 2023, quando foi afastada da final do campeonato do mundo da modalidade por, alegadamente, ter falhado testes de género.

A Associação Internacional de Boxe – IBA, na sigla inglesa, liderada pelo russo Umar Kremlev – decidiu desqualificar Khelif, bem como a atleta taiwanesa Lin Yu-ting, referindo que foi identificada a presença de cromossomas XY e de altos níveis de testosterona. Contudo, nunca foram apresentados resultados.

A IBA não é reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional, que considerou a decisão “arbitrária”. Há vários anos, sobretudo após a liderança de Kremlev, que o Comité Olímpico Internacional vem denunciado irregularidades na IBA.

Mas a polémica continua, porque a IBA vai premiar financeiramente a pugilista Angela Carini, eliminada por Khelif, como parte da sua decisão de “apoiar atletas” que perderam contra a argelina.

Khelif cumpriu o sonho olímpico em Tóquio, em 2021, perdendo nos quartos de final para a irlandesa Kellie Harrington. No ano seguinte, tornou-se a primeira argelina a chegar à final do Campeonato do Mundo de Boxe Feminino da IBA, sendo derrotada por Amy Broadhurst.

Foi Broadhurst quem, numa publicação na rede social X, deixou claro que lutar contra Kheli tem exatamente os mesmos desafios que outra adversária: “Não acho que ela tenha feito qualquer tipo de ‘batota’. Acho que foi assim que ela nasceu e isso está fora do seu controlo. O facto de ela ter sido derrotada por nove mulheres diz tudo”.

Também o Comité Olímpico da Argélio veio defender a atleta, negando qualquer evidência de que Khelif seja transgénero.

(AP Photo)

 

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