Biden assumiu na rede social X que desistia da corrida à Casa Branca e deixou o seu apoio a Kamala Harris
“Aura de inevitabilidade” foi só uma das inúmeras expressões que dominaram os media norte-americanos em julho, com artigos sobre a “iminente possibilidade” (é o que diziam alguns, “probabilidade” diziam outros) de Joe Biden desistir da candidatura à Casa Branca, quando se encontrava fora da campanha e recolhido em casa após ter testado positivo à covid.
O atentado contra Donald Trump a 13 de julho, durante um comício republicano na Pensilvânia, foi o que muitos disseram ser a machadada final na carreira do líder democrata, que aos 81 anos foi enfrentando crescentes pressões para se afastar e dar lugar a outra pessoa, sobretudo desde o famigerado primeiro debate presidencial, no mês anterior – e de uma série de eventos públicos a seguir, em que voltou a cometer gafe atrás de gafe (incluindo chamar "presidente Putin" ao líder da Ucrânia). Este domingo, Joe Biden anunciou a sua desistência da recandidatura ao cargo.E prometeu falar ao "país mais tarde, nesta semana, dando mais detalhes" sobre a decisão.
No dia em que Trump fez um discurso galvanizado no encerramento da Convenção Republicana, o New York Times publicou (mais) um artigo a citar “fontes próximas” de Biden sobre como o chefe de Estado estava a “começar a aceitar a ideia de que poderá não ganhar em novembro e que poderá ter de desistir da corrida” e que, se assim fosse, pretendia apoiar formalmente a sua vice, Kamala Harris. Confrontado pelo “The Hill” com notícias a dar conta de que Biden ia fazer um anúncio sobre o seu futuro político nos dias seguintes, Andrew Bates, vice-assessor da Casa Branca, respondeu com uma só palavra: “Falso”.
Uma fonte democrata adiantou sob anonimato ao mesmo jornal que havia “conversas a acontecer, diferentes e mais fortes do que eram até há algumas semanas, até mesmo há alguns dias” e que os debates em curso entre os democratas, da direção do partido ao congresso, se tinham “intensificado” desde o dia em que Trump foi baleado na orelha. “Neste momento, o presidente está focado em conduzir todo o partido à vitória”, garantiu a mesma fonte, antes de admitir também que havia democratas “de alto nível” a estudar uma possível candidatura de Kamala Harris.
"Acha que a Kamala consegue ganhar?"
As suspeitas e rumores que alimentaram a saga Biden envolveram também os ditos “democratas de alto nível” que alegadamente pressionaram o presidente a abandonar a corrida nos últimos meses – incluindo, segundo o Washington Post e a CNN Internacional, Nancy Pelosi e Barack Obama. Em escalões mais baixos, pelo menos 27 legisladores do Senado à Câmara dos Representantes já tinham pedido publicamente a Biden que se afastasse da corrida até essa altura.
A eles foram-se juntando importantes figuras mediáticas que, em cada ciclo eleitoral, abrem os cordões à bolsa para financiar campanhas democratas. “Adoro Joe Biden. Mas precisamos de um novo nomeado”, lia-se no título do artigo de opinião que o ator George Clooney, autodefinido como “um democrata para a vida [que] não pede desculpas por isso”, publicou no New York Times a 10 de julho. .
“Pretendo suspender todas as minhas contribuições ao partido a menos e até que substituam Biden”, dissera, dias antes, a milionária Abigail Disney, herdeira do império de animação, sublinhando que “não se trata de desrespeito, mas de ser realista”. Seguindo o exemplo, Gideon Stein, presidente do Fundo Moriah, anunciou o congelamento de 3,5 milhões de dólares em doações a organizações políticas e sem fins lucrativos ligadas à candidatura democrata à Casa Branca. “Joe Biden tem sido um presidente muito eficiente, mas a menos que se retire, a minha família e eu vamos pausar os planos para doar mais de 3 milhões.”
Alguns acreditavam então que Biden estava a dar ouvidos aos críticos, sobretudo quando aumentaram os receios de que o dinheiro podia começar a escassear. “Ele passou de dizer ‘Kamala não consegue ganhar’ para ‘Acha que a Kamala consegue ganhar?’ Ainda não é claro o que vai decidir, mas parece estar a ouvir”, relatou à CNN um conselheiro do partido. As pressões pareciam estar a resultar e um anúncio poderia ser feito já naquele fim de semana, disseram outras fontes ao Axios. “Fonte próxima do presidente” acrescentou à NBC News: “Estamos perto do final.”