Da pizza à deceção, Biden diz a soldados dos EUA que “quando lá estiverem” verão a resistência da Ucrânia

25 mar 2022, 23:50

Presidente dos Estados Unidos disse que esta é "uma batalha entre democracias e oligarcas” e questionou as tropas norte-americanas: "Quem vai prevalecer? As democracias que partilhamos ou autocracias?”

Almoçou pizza com pepperoni com os militares norte-americanos alocados na Polónia, garantiu que estava "desapontado" por não ter tido luz verde para entrar na Ucrânia e proferiu a frase que antevê uma ação armada dos EUA em solo ucraniano ou que não passou de uma mera gaffe, Joe Biden teve uma sexta-feira preenchida na Polónia. Tudo isto depois de, na quinta-feira, ter participado na conferência da NATO, em Bruxelas.

Desde o início da invasão russa, Biden tem insistido que a entrada de soldados norte-americanos na Ucrânia só ocorrerá em última instância. No entanto, esta sexta-feira, enquanto fazia um apaixonado discurso dirigido às tropas dos EUA na cidade polaca de Rzeszow, disse: "Vejam como estão a resistir e vão vê-lo quando lá estiverem. Vão ver mulheres e jovens a resistir, a resistir em frente a tanques".

“Antes de mais, obrigado. Vocês representam 1% da população norte-americana. Nenhum de vocês tinha de estar aqui. Todos decidiram estar aqui pelo vosso país, todos se voluntariaram. Todos vocês tomaram essa decisão e os restantes 99% do país, incluindo eu, estão em dívida para convosco e devem vos muito”, começou por referir Joe Biden.

"Uma batalha entre democracias e oligarcas”

“Nunca fugimos e o resto do mundo olha para nós”, foi assim que o presidente dos EUA se dirigiu às centenas de mulheres e homens fardados que se reuniram na G2A Arena, em Jasionka, perto da cidade de Rzeszow. Esta iria mesmo ser uma das frases que melhor acabaria por resumir a tónica das suas palavras de Biden, que descentralizou o conflito e projetou-o como "uma batalha entre democracias e oligarcas”. O presidente dos EUA questionou-se como será o futuro das duas próximas gerações, lembrando que, "nos últimos 10 anos, menos democracias foram formadas do que perdidas”. 

“Estamos numa nova fase. Num ponto de mudanças fundamentais. O mundo não será o mesmo daqui a 10 ou 15 anos e a questão é: quem vai prevalecer? As democracias que partilhamos ou autocracias?”, apontou.

"Obrigado, obrigado, obrigado…”

O líder dos EUA lembrou que já esteve "no Iraque e no Afeganistão 38 vezes" e que esta familiaridade com conflitos bélicos lhe permite dizer que estas mulheres e homens sediados na Polónia "são a melhor força militar da história do mundo". "Em parte, porque tiveram de batalhar tanto ao longo dos últimos 20 anos", explicou, realçando que "nenhuma outra geração teve de ir para guerra, ver companheiros morrer, limpar os veículos, apertar o cinto e regressar para mais seis meses”.

Biden garantiu ainda que os militares que os EUA enviaram para a Europa, para reforçar as forças da NATO, "são os melhores" que estavam disponíveis nas fileiras militares do país.

“Nós mandámos os melhores, os melhores disponíveis nos EUA e esses são todos vocês. Mulheres e homens. Por isso, estou aqui, vim com um único propósito, para vos dizer: obrigado, obrigado pelo vosso serviço, obrigado por ser quem são e obrigado pelo que estão a fazer. (…) God protect you all. May God protect our troops [Deus protege-vos a todos. Que Deus proteja as nossas tropas]”, culminou Joe Biden. 

"Eles não me deixam, compreensivelmente acho eu, atravessar a fronteira", a deceção de Biden

Já ao fim da tarde, numa reunião com representantes que prestam ajuda humanitária na fronteira polaca, o presidente dos EUA mostrou-se dececionado por não poder atravessar a fronteira com a Ucrânia. Biden explicou que gostaria de avaliar pessoalmente o impacto da guerra no país, mas que foi proibido de fazê-lo por motivos de segurança. “Acho que não há nada pior para um pai que ver o seu filho sofrer e digo-o com sinceridade, não é uma hipérbole, digo-o do fundo do meu coração”, acrescentou.

“Estou aqui na Polónia para ver, em primeira mão, a crise humanitária e, honestamente, parte do meu desapontamento é que não a possa ver em primeira mão como fiz noutros sítios. Eles não me deixam, compreensivelmente acho eu, atravessar a fronteira e ver o que se está a passar na Ucrânia. Estou ansioso por ouvir-vos e à comunidade humanitária sobre o que têm visto, o que têm feito e para onde pensam que devemos ir daqui em diante”, disse.

Na cidade polaca de Rzeszow, perto da fronteira com a Ucrânia, o responsável norte-americano enalteceu ainda a “coragem e capacidade de resiliência” dos civis ucranianos, que comparou ao homem que se colocou frente aos tanques chineses na praça Tiananmen em 1989.

“Até os polacos, que conhecem os ucranianos tão bem, devem estar surpreendidos pela quantidade de coragem e capacidade resiliência do povo da Ucrânia. Quando vemos uma mulher de trinta anos com uma arma na mão a enfrentar um tanque… quero dizer, falamos do que aconteceu na Praça de Tiananmen, isto é, Tiananmen ao quadrado”, salientou.

"Não um filme de ficção científica que se pode desligar na televisão”

Joe Biden prometeu que os EUA vão "enviar mais mil milhões de dólares" em ajuda humanitária, destinada a todos os que tem fugido da Ucrânia e a todos os que têm sido afetados pelo impacto do conflito nas cadeias alimentares globais.

“Acho que não há nada pior para um pai que ver o seu filho sofrer e digo-o com sinceridade, não é uma hipérbole, digo-o do fundo do meu coração”, enalteceu.

Biden, que se encontrava a 100 quilómetros do país vizinho, não repetirá o que fez há 20 dias o secretário de Estado, Antony Blinken, que em 5 de março cruzou brevemente a fronteira para se reunir com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba.

“Hoje, quero ouvir todos vós. O problema é que sei que me vão dizer que te tenho de entrar num avião e vou sair com muitos questões, porque aprendi muito convosco”, culminou Joe Biden.

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