Estado da União. Biden diz que agirá prontamente caso "China ameace soberania dos EUA”

8 fev 2023, 06:36


 

Discurso ficou marcado pela interação entre o chefe de Estado e os republicanos, que chegaram mesmo a chamar Biden de "mentiroso". Entre as várias garantias feitas na noite de terça-feira, o presidente dos EUA assegurou que vai apoiar a Ucrânia pelo "tempo que for preciso"

Foi o seu segundo discuro do Estado da Nação enquanto presidente norte-americano e Joe Biden quis mostrar-se otimista (mas nem por isso se livrou de ser apupado e chamado de mentiroso). Perante as duas câmaras do Congresso (Senado e Câmara de Representantes), reunidas no mesmo hemiciclo, Biden puxou dos galões para falar das metas conseguidas, garantiu (12 vezes) que veio para "acabar o trabalho", apelou aos "amigos republicanos" para "trabalharem juntos", anunciou que brevemente a Covid-19 deixará de ser emergência de saúde pública nos EUA e que continuará a apoiar a Ucrânia pelo "tempo que for preciso", mas sempre atento à China, com a qual procura "competição, não conflito". 

Naquela que foi a primeira vez que se dirigiu ao Congresso desde que os Republicanos conquistaram o controlo da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento dos Estados Unidos, nas intercalares do ano passado, Biden viu a republicana Marjorie Taylor Greene tomar a liderança nas interrupções, ouvindo-se gritos de "mentiroso" na sala. Um momento que não foi novo no Estado da Nação e que, apesar de ter marcado os primeiros 45 minutos - em que o presidente norte-americano falou sobre os planos para a Segurança Social e Medicare - fez com que os funcionários da Casa Branca ficassem encantados com resultado provocado pelo guião, como escreve a CNN Internacional.

“Alguns dos meus amigos republicanos querem tomar a economia como refém, a não ser que eu aceite os seus planos económicos. Em vez de fazerem os ricos pagarem a sua parte, alguns republicanos querem que a Medicare e a Segurança Social desapareçam”, afirmou, antes de ser apupado por Marjorie Taylor Greene que gritou “mentiroso!”. 

"Para os meus amigos republicanos, se pudéssemos trabalhar juntos no último Congresso, não há razão para não podermos trabalhar juntos e encontrar consenso sobre coisas importantes também neste Congresso", afirmou Biden.

Guerra na Ucrânia foi "um teste para a América"

Joe Biden falou também da guerra na Ucrânia, afirmando que os Estados Unidos da América deram um exemplo de liderança, ao "unir a NATO" e ao "construir uma coligação global" pela Ucrânia.

"A invasão de [o presidente russo] Vladimir Putin tem sido um teste para os tempos. Um teste para a América. Um teste para o mundo", avaliou, aproveitando a presença no evento da embaixadora da Ucrânia em Washington, Oksana Markarova, para lhe dar diretamente garantias da continuidade de apoio, para que Kiev se possa continuar a defender da agressão russa.

"A embaixadora representa não apenas a sua nação, mas a coragem do seu povo. Embaixadora, a América está unida no apoio ao seu país. Estaremos consigo o tempo que for preciso. A nossa nação está a trabalhar por mais liberdade, mais dignidade e mais paz, não apenas na Europa, mas em todos os lugares", assegurou.

EUA agirão prontamente caso "China ameace a sua soberania”

A semana passada ficou marcada pelo aparecimento de um balão espião nos céus de Washington que acabou abatido pelas autoridades norte-americanas. O momento não ficou de fora do discurso do Estado da União, momento em que definiu as prioridades para o próximo ano e pediu a colaboração dos congressistas.

Joe Biden revelou que na relação com a China procura "competição, não conflito", deixando claro que agirá prontamente caso "a China ameaçar a soberania dos EUA”.

"Mas não se enganem: como deixámos claro na semana passada, se a China ameaçar a nossa soberania, agiremos para proteger o nosso país. E nós fizemos isso", afirmou.

As relações já complicadas entre os Estados Unidos e a China ficaram consideravelmente mais tensas nos últimos dias, após a descoberta deste balão chinês, alegadamente para fins de espionagem.

Antes de assumir o cargo presidencial, cresciam os rumores de que “a China estaria a aumentar o seu poder e a América estava a cair”, mas “não mais", sublinhou o líder norte-americano.

Biden defendeu ainda a continuação do investimento, juntamente com os aliados dos EUA, na proteção de tecnologias avançadas e evitar que sejam usadas contra o país, e na modernização das forças armadas para salvaguardar a estabilidade e prevenir agressões.

"Não vou desculpar-me por estarmos a investir para fortalecer a América", advogou.

"Hoje estamos na posição mais forte em décadas para competir com a China ou qualquer outro país do mundo. Estou empenhado em trabalhar com a China onde for possível para promover os interesses norte-americanos e beneficiar o mundo", acrescentou.

Joe Biden e Kamala Harris (Associated Press)

O Democrata declarou ainda que, nos últimos dois anos, as democracias tornaram-se mais fortes e as autocracias mais fracas, dando destaque às parcerias que se estão a formar entre várias geografias.

"Mas aqueles que apostam contra a América estão a aprender o quão errados estão. Nunca é uma boa aposta apostar contra a América", avaliou.

Numa defesa da produção e manufatura norte-americanas, Joe Biden anunciou novos padrões para exigir que todos os materiais de construção usados em projetos federais de infraestrutura sejam feitos nos EUA: "madeira de fabricação norte-americana, vidro, placas de gesso, cabos de fibra ótica", detalhou.

"E sob a minha supervisão, estradas, pontes e estradas norte-americanas serão feitas com produtos norte-americanos", adicionou.

Acusado recorrentemente de "protecionismo" por líderes europeus, o presidente norte-americano quer garantir que "a cadeia de abastecimento para a América comece na América".

"Nos arredores de Columbus, no Ohio, a Intel está a construir fábricas de semicondutores. Isso criará 10 mil empregos: sete mil na construção e três mil empregos quando as fábricas forem concluídas. Empregos que pagam 130 mil dólares [121.000 euros] por ano e muitos não exigem diploma universitário. Empregos onde as pessoas não precisam de sair de casa em busca de oportunidade. E está apenas a começar", disse em tom energético.

“Porque a alma da nação é forte, a sua espinha dorsal é forte e o povo da nação é forte, o Estado da União é forte”, concluiu o presidente. “Somos os Estados Unidos da América e não há nada que fique além da nossa capacidade se o fizermos juntos”, acrescentou.

Reforma no sistema policial norte-americano

O presidente dos EUA renovou ainda o seu apelo à reforma da polícia, dizendo que os agentes que "violam a confiança do público" devem ser responsabilizados e que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem receber a formação necessária e ser sujeitos a padrões mais elevados.
 
"Sei que a maioria dos polícias e as suas famílias são pessoas boas, decentes, honradas ... E arriscam as suas vidas sempre que põem esse escudo. Mas o que aconteceu a Tyre, em Memphis, acontece com demasiada frequência. Temos de fazer melhor", afirmou Biden, referindo-se à morte de Tyre Nichols, o negro de 29 anos que foi fatalmente espancado por agentes da polícia de Memphis em janeiro.

Biden lembrou que "a segurança pública depende da confiança do público, mas essa confiança é violada demasiadas vezes", perante a mãe de Nichols, RowVaughn Wells, e o seu padrasto, Rodney Wells, que assistiram ao discurso a convite do democrata Steven Horsford.

O Estado da União é tradicionalmente a arma de comunicação direta mais poderosa de um presidente. No discurso do ano passado, 38 milhões de americanos assistiram à transmissão televisiva.

E.U.A.

Mais E.U.A.

Patrocinados