Biden desistiu - e agora? As conversas de bastidores e as alternativas entre os democratas

21 jul 2024, 22:28

As atenções estão viradas para Kamala Harris, que já anunciou a sua candidatura, mas a eleição da vice de Biden ainda não é garantida. Para obter a nomeação, um candidato precisa do apoio de pelo menos 600 delegados no encontro nacional do partido

Ao desistir antes da Convenção Democrata, o processo de substituição de Joe Biden tornou-se relativamente mais simples: para obter a nomeação, um candidato precisa do apoio de pelo menos 600 delegados no encontro nacional do partido. Já se a decisão tivesse sido tomada depois da convenção, que este ano decorre em Chicago entre 19 e 22 de agosto, as coisas complicavam-se, porque os boletins de voto para as presidenciais de 5 de novembro já teriam sido impressos em muitos estados – e as regras para a troca de nomes a meio do processo variam de estado para estado. 

Contudo, sob a Constituição americana, o Colégio Eleitoral tem a palavra final: ou seja, qualquer voto em Joe Biden, mesmo já não sendo ele o candidato, contaria como um voto no candidato democrata quando o colégio se reunisse em dezembro, um mês depois da ida às urnas, para concluir o processo eleitoral. Mas a desistência de Biden este domingo, 21 julho, deixou o caminho livre para novos candidatos democratas.

Aliás, no momento em que desistiu, o ainda presidente dos EUA lançou o apoio à sua vice-presidente Kamala Harris - que umas horas depois acabou por anunciar também que se vai candidatar mesmo à Casa Branca. "Sinto-me honrada por ter o apoio do presidente [Joe Biden] e a minha intenção é conseguir vencer esta nomeação" - que será decidida na Convenção do Partido Democrata no próximo mês, em Chicago. 

Até ao anúncio da desistência de Biden, as últimas palavras públicas do presidente e os sucessivos comunicados da sua equipa seguiram o sentido oposto. Ainda assim, foram-se multiplicando as apostas e jogos de probabilidades sobre quem poderia tomar o seu lugar – incluindo entre os republicanos que, em meados de julho, estiveram reunidos em Milwaukee para a Convenção Nacional do partido, onde Trump foi confirmado como candidato à presidência.

Grupos de apoio a Trump já testam mensagens contra potenciais substitutos de Biden

Nos corredores do encontro, os repórteres do Politico falaram com fontes do MAGA Inc., o principal super PAC de apoio a Trump, que confirmaram que já estavam a testar mensagens contra potenciais substitutos de Biden, incluindo a atual vice-presidente Harris, a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e até Mark Cuban, um milionário e empresário famoso pelo programa de TV Shark Tank. Uma outra reportagem em Milwaukee, da New York Magazine, tinha como título: “Os republicanos estão à espera de Kamala Harris e a temer Michelle Obama”. E logo a seguir: “A conversa na Convenção Nacional Republicana é sobre o que está a acontecer ao outro partido.”

O apelido Obama continua a preencher os sonhos de democratas (e os pesadelos dos republicanos) oito anos depois de Barack ter passado o testemunho a Trump, com o nome da mulher do antigo presidente a circular como a “única alternativa viável” a Biden pelo menos desde novembro, graças a um tweet de um ex-assessor de Obama, um dos primeiros a lançar a deixa sobre o então candidato democrata ter de repensar a sua candidatura.

Michelle Obama, mulher do antigo presidente norte-americano Barack Obama, é quem surge mais bem qualificada nas sondagens - mas nada indica que pretenda candidatar-se à presidência (Getty Images)

Quais as alternativas?

Nada indica que Michelle Obama esteja entre os nomes citados pelos democratas interinamente – muito menos que a própria esteja interessada em ocupar o cargo. Ainda assim, houve assessores - quer de Barack, quer de Joe Biden - a discutir mais ou menos abertamente a hipótese de uma nova administração Obama. “Se o Presidente Obama estivesse investido nisso, [Biden] ficaria investido nisso”, disse o representante democrata Mike Quigley, um dos que pediran publicamente ao atual chefe de Estado que desistisse da recandidatura.

Uma sondagem da Universidade de Suffolk para o USA Today, conduzida no início de maio, sugeria que “as celebridades não vão influenciar estas eleições” mas que “um casal em particular ainda tem poder de influência”, com Barack e Michelle nos lugares cimeiros entre os eleitores inquiridos, bem à frente de personalidades como Oprah Winfrey ou Taylor Swift. Contudo, a maioria no aparato político democrata sabe que ter um (ou uma) Obama a disputar a presidência com Trump é matéria de romances, não da realidade. Como diz um consultor do partido: “Os Obamas podem acelerar um reinício, mas não podem ganhar isto por Biden.”

Gretchen Whitmer, governadora do Michigan, é uma das alternativas mais apontadas entre os democratas (AP)

Quem, então, pode substituir o atual candidato democrata? As fichas recaem sobretudo em Kamala Harris, com seis em cada 10 eleitores democratas a considerarem que faria um bom trabalho enquanto presidente – ainda que vários outros inquéritos de opinião conduzidos desde o debate Trump-Biden de 27 de junho prevejam que também seria derrotada pelo rival republicano.

Da lista de alternativas consta também o nome de Gretchen Whitmer, atual governadora do Michigan, que durante a presidência Trump foi alvo de uma alegada tentativa de rapto e homicídio travada pelo FBI. E constam ainda os nomes de Gavin Newsom, desde 2019 governador da Califórnia, de J. B. Pritzker, governador do Illinois, de Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, e de Pete Buttigieg, ministro dos Transportes na atual administração. Portanto, são estas cinco alternativas mais Michelle Obama.

Três coisas unem todos eles: nenhum parece bem colocado nas sondagens para derrotar Trump, nenhum está propriamente inclinado a arruinar uma futura candidatura à presidência com potencial numa jogada com quase tudo para correr mal e todos foram mais ou menos vocais a defender que Biden devia continuar na corrida. Mas Biden desistiu. E agora, o que se segue?

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