opinião
Economista e Professor Universitário

Errar é humano, menos na política

30 abr 2023, 09:00

Há uma pergunta, e das pertinentes, que se me surge sempre que, com estupefação, olho para o atual cenário político em Portugal. Como é que estes governantes conseguem governar?! É que passam o tempo todo a salvar a vida. O ambiente é de arena medieval. As insinuações, as calúnias, as mesquinhices, as inconsistências naturais em alguns dos (muitos) processos de decisão, tudo isto é usado para atacar ferozmente quem está no poder. Este quadro ocorre à escala nacional e à escala local. O bom senso já era!

Atenção: Que jamais se desculpem “esquemas” e premeditações enviesadas. Mas que a sensatez também resista para sempre.

Na verdade, infelizmente, o bom senso de que todos nós beneficiamos nas nossas vidas privadas e profissionais evaporou-se da política. É com ligeireza que os políticos justos pagam pelos pecadores. Não há maior injustiça. 

E até os que estão no poder têm contribuído, e de que maneira, para a atual decadência do ambiente político em Portugal. De tão intrincada e enleada, a nossa legislação é assustadoramente ambígua e maleável. E, pior do que tudo, é cada vez mais castradora. O adjetivo é duro, mas é o adequado. Os alçapões jurídicos e as armas de arremesso são virtualmente infinitas. É fácil “perseguir” no atual contexto político em Portugal. Muito fácil. E os responsáveis são todos aqueles que contribuíram para um quadro jurídico que abomina o bom senso.

Uma coisa é certa. Errar é humano. Mais cedo ou mais tarde, quem age, erra. É tão certo como dois mais dois resultar em quatro. Nas nossas vidas pessoais, é normal contar com o “equilíbrio” de quem nos rodeia em relação à maior parte dos lapsos cometidos. Que atire a primeira pedra quem ainda não contou com o discernimento de um agente policial para evitar uma multazinha. Que se auto-penitencie, e severamente, quem nunca falhou um prazo na vida. Uma vez mais: errar é humano. Errar é humano, menos na política. Tudo por causa da tal ausência de bom senso que alicerça a “perseguição”, quase até à morte, que é hoje natural na atual arena política medieval em Portugal.

O que nos vai ainda surpreendendo é ver quem aparentemente aceita estar sujeito a um ambiente em que fugir para salvar a vida é a normalidade.

A formulação é simples:

1. Errar é humano;

2. Dois mais dois, quatro;

3. Quem decide, erra;

4. No ambiente político, não há bom senso;

4.1. O erro paga-se sempre, e de forma bem cara, na maior parte das vezes.

Com um quadro destes, a racionalidade só pode afastar os que têm alternativas. Sobram alguns.

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