Na entrevista exclusiva à CNN Portugal, Rendeiro referiu 20 vezes "Maria" e "Mulher"
João Rendeiro queria deixar uma mensagem à sua mulher no final da entrevista exclusiva à CNN Portugal. Acabou por não o fazer: "Não consigo", rematou. E desabou em lágrimas.
Maria de Jesus Rendeiro, mulher de João Rendeiro, está ela própria sob pressão da justiça: é suspeita de crimes relacionados com a venda e falsificação de oito das 124 obras de arte que integravam a coleção de Rendeiro, e que o Estado arrestou para pagar as dívidas do BPP. A sua mulher está em prisão domiciliária pelos crimes de descaminho e desobediência.
Maria de Jesus Rendeiro foi detida a 3 de novembro e colocada em prisão domiciliária com pulseira eletrónica e vigilância policial, por ser a fiel depositária dos quadros arrestados ao ex-banqueiro, tendo o tribunal considerado que esta sabia das falsificações e da venda das obras.
Maria de Jesus e João Rendeiro estão casados há 49 anos.
"É a única pessoa para mim no mundo que é verdadeiramente especial"
Esta é a primeira vez que o antigo presidente do Banco Privado Português (BPP) dá a cara depois de ter fugido para parte incerta de Portugal. A sua mulher ficou em Lisboa. Nesta entrevista, Rendeiro assume-se como o total responsável por tudo o que estiver relacionado com a coleção de arte, o que o implica na alegada venda e falsificação de parte destas obras de arte arrestadas pelo Estado há 11 anos. Iliba, assim, a sua mulher. Na prática, assume também a responsabilidade pela detenção da mesma.
"Sou eu o responsável total sobre qualquer matéria relacionada com o alegado descaminho. (...) Claro que me sinto responsável que a Justiça, não me podendo apanhar a mim, apanhou a Maria."
João Rendeiro afirmou que deveria ser ele próprio o fiel depositário dos quadros e que isso se tratou de um "lapso do advogado" que não seguiu as instruções que lhe foram dadas.
"Essa alteração foi feita num processo e não foi feita noutro processo", explicou. Por isso, Maria de Jesus Rendeiro está indiciada por branqueamento de capitais e descaminho.
"Eu quero que esse advogado venha esclarecer e ajudar a Maria nesse aspecto"
O antigo presidente do BPP classificou como uma "injustiça do tamanho do mundo" o facto de a juíza Tânia Loureiro Gomes ter alegado o risco de perigo de fuga para manter Maria de Jesus Rendeiro confinada em casa com vigilância eletrónica, na Quinta Patino, em Alcabideche, Cascais.
Ainda assim, nem o amor de 49 anos o vai fazer mudar de ideias e regressar a Portugal: "Se a ideia, ao atacar a Maria, é fazer-me regressar a Portugal, não terá qualquer êxito”.
O ex-banqueiro, condenado no final de setembro a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por burla qualificada, está em parte incerta após ter fugido à justiça.
O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, aconteceu em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa.
O BPP originou vários processos judiciais, envolvendo burla qualificada, falsificação de documentos e falsidade informática, bem como processos relacionados com multas aplicadas pelas autoridades de supervisão bancária.