Mãe de Jéssica diz que escondeu rapto da filha e não alertou a polícia porque estava sob ameaça para pagar 800 euros

23 jun 2022, 10:57
O momento em que a mãe da menina sai em silêncio após declarações da PJ

Criança de três anos morreu em Setúbal vítima de agressões, depois de ter sido sequestrada durante cinco dias por um casal que viveria de esquemas de agiotagem e queria que a mãe da menina pagasse dívida de 800 euros

A mãe da criança de três anos que morreu na segunda-feira, depois de ter sido sequestrada, disse à Polícia Judiciária que não alertou as autoridades para o rapto da filha porque estava sob ameaça do casal que a levara. A história da ama foi então inventada: a mulher agora suspeita de vários crimes nunca foi a ama da criança, nem tinha Jéssica à sua guarda.

A CNN Portugal apurou que a mulher diz ter sido pressionada a contar uma história fictícia aos familiares e vizinhos sobre o paradeiro de Jéssica, afirmando que a criança estava à guarda de uma ama quando, na realidade, tinha sido levada para a forçar a pagar uma dívida de cerca de 800 euros. 

Só na noite de quarta-feira, depois de interrogar os suspeitos do rapto - um casal e filha deles-, bem como a mãe e o padrasto de Jéssica, a PJ conseguiu esclarecer os contornos dos crimes, quando a mãe da criança revelou, por nada ter a perder, que tinha sido ameaçada para nada contar às autoridades, temendo que a filha sofresse represálias pela dívida que não conseguia pagar.

A criança de três anos acabaria por morrer horas depois de os alegados sequestradores a terem levado à mãe, já em debilitado estado de saúde e depois de ter sido vítima de agressões ao longo de vários dias. A mãe disse inicialmente às autoridades que Jéssica tinha estado com a falsa ama durante cinco dias e que esta lhe contara que a filha caíra de uma cadeira, justificando assim os vários hematomas em todo o corpo. 

Na génese do crime estará então uma divida de cerca de 800 euros, que a mãe de Jéssica não conseguiu pagar e que levaram o casal de suspeitos a reter a criança.

A Polícia Judiciária revelou em comunicado, divulgado na manhã desta quinta-feira, que identificou e deteve um homem de 58 anos e duas mulheres, de 52 e 27 anos, "por sobre eles recaírem fortes indícios da prática dos crimes de homicídio qualificado, ofensas à integridade física grave, rapto e extorsão" na sequência da morte da menina de três anos, ocorrida no passado dia 20 de junho. "Os detidos serão presentes a primeiro interrogatório judicial para aplicação das medidas de coação tidas por adequadas", informa ainda a declaração. 

As duas mulheres, sabe a CNN Portugal, ficaram detidas no estabelecimento prisional de Tires. O homem passou a noite na prisão junto à sede da Polícia Judiciária em Lisboa. Os três serão levados esta quinta-feira ao tribunal de Setúbal.

Mãe e padrasto saem em liberdade

A mãe de Jéssica e o padrasto da criança saíram em liberdade depois de terem sido interrogados pela Polícia Judiciária, já na madrugada desta quinta-feira. A mulher terá dito à família e vizinhos que a menina estava numa colónia de férias, para justificar a ausência de Jéssica, agindo sob coação do casal que lhe raptou a filha. A criança foi devolvida à mãe na manhã de segunda-feira, ainda que esta só tenha pedido auxílio para a criança ao início da tarde.

Devido a esta demora em prestar ajuda a uma criança que estaria visivelmente debilitada e com sinais de agressões, as autoridades poderão extrair deste processo, em que a mãe de Jéssica é vítima, uma certidão para apurarem se existiu negligência da mulher que não levou imediatamente a filha a um hospital. Além de Jéssica, a mulher tem mais filhos, mas só a mais nova viveria com ela e com o padrasto, que colaborou com as autoridades. Tanto o padrasto como a avó da menina garantiram que a mãe não tinha qualquer responsabilidade nos maus tratos infligidos a Jéssica.

Já a falsa ama foi localizada quando estava já em fuga, tendo sido intercetada pela Polícia Judiciária na região de Leiria. Não se sabe se estaria a preparar-se para fugir do país. Acabou por seguir com a PJ para Setúbal algemada, não por estar naquela altura sob detenção mas devido a receios que pudesse atentar contra a própria vida.

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