Criança de três anos morreu em Setúbal vítima de agressões, depois de ter sido sequestrada durante cinco dias por um casal que viveria de esquemas de agiotagem e queria que a mãe da menina pagasse dívida de 800 euros
A mãe da criança de três anos que morreu na segunda-feira, depois de ter sido sequestrada, disse à Polícia Judiciária que não alertou as autoridades para o rapto da filha porque estava sob ameaça do casal que a levara. A história da ama foi então inventada: a mulher agora suspeita de vários crimes nunca foi a ama da criança, nem tinha Jéssica à sua guarda.
A CNN Portugal apurou que a mulher diz ter sido pressionada a contar uma história fictícia aos familiares e vizinhos sobre o paradeiro de Jéssica, afirmando que a criança estava à guarda de uma ama quando, na realidade, tinha sido levada para a forçar a pagar uma dívida de cerca de 800 euros.
Só na noite de quarta-feira, depois de interrogar os suspeitos do rapto - um casal e filha deles-, bem como a mãe e o padrasto de Jéssica, a PJ conseguiu esclarecer os contornos dos crimes, quando a mãe da criança revelou, por nada ter a perder, que tinha sido ameaçada para nada contar às autoridades, temendo que a filha sofresse represálias pela dívida que não conseguia pagar.
A criança de três anos acabaria por morrer horas depois de os alegados sequestradores a terem levado à mãe, já em debilitado estado de saúde e depois de ter sido vítima de agressões ao longo de vários dias. A mãe disse inicialmente às autoridades que Jéssica tinha estado com a falsa ama durante cinco dias e que esta lhe contara que a filha caíra de uma cadeira, justificando assim os vários hematomas em todo o corpo.
Na génese do crime estará então uma divida de cerca de 800 euros, que a mãe de Jéssica não conseguiu pagar e que levaram o casal de suspeitos a reter a criança.
A Polícia Judiciária revelou em comunicado, divulgado na manhã desta quinta-feira, que identificou e deteve um homem de 58 anos e duas mulheres, de 52 e 27 anos, "por sobre eles recaírem fortes indícios da prática dos crimes de homicídio qualificado, ofensas à integridade física grave, rapto e extorsão" na sequência da morte da menina de três anos, ocorrida no passado dia 20 de junho. "Os detidos serão presentes a primeiro interrogatório judicial para aplicação das medidas de coação tidas por adequadas", informa ainda a declaração.
As duas mulheres, sabe a CNN Portugal, ficaram detidas no estabelecimento prisional de Tires. O homem passou a noite na prisão junto à sede da Polícia Judiciária em Lisboa. Os três serão levados esta quinta-feira ao tribunal de Setúbal.
Mãe e padrasto saem em liberdade
A mãe de Jéssica e o padrasto da criança saíram em liberdade depois de terem sido interrogados pela Polícia Judiciária, já na madrugada desta quinta-feira. A mulher terá dito à família e vizinhos que a menina estava numa colónia de férias, para justificar a ausência de Jéssica, agindo sob coação do casal que lhe raptou a filha. A criança foi devolvida à mãe na manhã de segunda-feira, ainda que esta só tenha pedido auxílio para a criança ao início da tarde.
Devido a esta demora em prestar ajuda a uma criança que estaria visivelmente debilitada e com sinais de agressões, as autoridades poderão extrair deste processo, em que a mãe de Jéssica é vítima, uma certidão para apurarem se existiu negligência da mulher que não levou imediatamente a filha a um hospital. Além de Jéssica, a mulher tem mais filhos, mas só a mais nova viveria com ela e com o padrasto, que colaborou com as autoridades. Tanto o padrasto como a avó da menina garantiram que a mãe não tinha qualquer responsabilidade nos maus tratos infligidos a Jéssica.
Já a falsa ama foi localizada quando estava já em fuga, tendo sido intercetada pela Polícia Judiciária na região de Leiria. Não se sabe se estaria a preparar-se para fugir do país. Acabou por seguir com a PJ para Setúbal algemada, não por estar naquela altura sob detenção mas devido a receios que pudesse atentar contra a própria vida.