Jerónimo voltou e falou sobre maquilhagens, portas e janelas: denominador comum para tudo isso - a direita

26 jan 2022, 23:12
Jerónimo de Sousa com João Oliveira em Évora (Nuno Veiga/Lusa)

Longe das multidões de outros tempos, a CDU não enche a rua mas enche o Teatro Garcia de Resende, em Évora. Jerónimo de Sousa regressou à campanha

Victor tem uma camisola laranja mas por baixo o coração é vermelho: tem 16 anos e, depois de muitos anos a ser levado a comícios pelos pais e pelo irmão mais velho, há dois anos inscreveu-se na Juventude Comunista: “Eu sei que a maior parte dos jovens está afastado da política e não se interessam mas eu acho que é muito importante. É o nosso futuro que está em jogo”. 

São quase 17:30, as luzes da Praça do Giraldo, em Évora, vão acender-se daí a pouco e à medida que o sol se esconde por trás dos telhados a temperatura vai ficando cada vez mais baixa. Junto ao repuxo começa a juntar-se um grupo de comunistas, de autocolante ao peito e bandeira na mão. Um deles é Victor, que veio acompanhado de duas amigas, Luana e Joana, ambas com 17 anos e que, como ele, ainda não podem votar mas já têm muitas convicções: “Preocupa-nos o ambiente, as propinas universitárias, os salários que vamos ter quando começarmos a trabalhar”, diz Joana. Empréstimos bancários para ir para a universidade? “Nem pensar”, respondem estes estudantes do liceu.

Os flyers anunciavam uma “grande arruada”. Mas afinal é uma pequena arruada. João Oliveira assume o seu papel na frente do desfile, há tambores a marcar o ritmo e um grupo de militantes esforça-se por se fazer ouvir enquanto avança em direção ao Teatro Garcia de Resende. As lojas anunciam saldos, algumas pessoas espreitam para ver que barulho é aquele mas ninguém junta a sua àquelas vozes e estamos muito longe das multidões que noutros tempos o PCP juntava no Alentejo.

No largo do teatro aguarda-os serenamente um senhor de cabelo branco, casaco escuro e cachecol ao pescoço. Não fossem os seguranças e quase nem dávamos por ele. O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, de 74 anos, voltou esta terça-feira à campanha eleitoral após uma intervenção cirúrgica mas está claramente a ser poupado pela organização. Uma militante aproxima-se: “As melhoras, camarada”. E Jerónimo aproveita a deixa para se juntar ao desfile já nos metros finais.

No Garcia de Resende a lotação está esgotada. Depois do mandatário distrital Rui Dinis, sobe ao palco João Oliveira, deputado da CDU por Évora que nestas eleições luta por manter o seu lugar entre os três deputados do distrito. Recorda todo o trabalho realizado na região nos últimos anos e tem confiança que a população reconheça esse esforço. “Um deputado da CDU conta mais que dois do PS”, afiança. E aproveita para lançar críticas aos socialistas: “O PS fixou como objetivo não travar a direita mas impedir a eleição do deputado da CDU. Façam eles esses jogos, entretenham-se com esses despiques, nós só queremos resolver os problemas das pessoas”.

E, como nos grandes espetáculos, o cabeça de cartaz é o último a apresentar-se. “Caminhamos para o final da campanha eleitoral” e Jerónimo de Sousa pede “mais força à CDU” para lutar por melhores salários, para aumentar as reformas e pensões, “por um SNS que não pode ser saqueado por políticas de destruição”, para superar as acentuadas assimetrias regionais, dar resposta às necessidades das populações e defender os direitos de quem trabalha, combatendo “a reverência que PS e PSD têm em relação aos grandes grupos económicos”.

“Mais cedo que tarde voltaram as velhas e gastas teorias da bipolarização”, mas o líder da CDU recorda que “o que vamos eleger são 230 deputados” e “o que conta para definir políticas é a correlação de forças na Assembleia da República”. E alerta: “Esta campanha tem mostrado uma direita que tem escondido as suas verdadeiras intenções, uma direita maquilhada”, mas “não se deixem enganar”, “a direita com novas ou velhas roupagens sempre contribuiu para agravar os problemas dos trabalhadores”, “esta é a mesma direita de sempre, a direita que quer encurtar o SNS, a direita das privatizações e da destruição dos serviços públicos”, a direita que “se quer vingar” de Abril e que conta com a extrema-direita para fazer cumprir o seu programa, mesmo que não o diga abertamente.

Mas esta campanha também mostrou, diz Jerónimo de Sousa, “um PS ansioso para ter as mãos livres, preparado para deixar para trás o caminho da recuperação de direitos que as circunstâncias políticas e a pressão do PCP e do PEV impuseram nos últimos anos”, “um PS que durante vários dias ainda se recusou a dizer que estava ou não disponível para a convergência com os partidos da esquerda e agora diz que está disponível para negociar com quase todos”.

O que Costa está a preparar, diz o secretário-geral do PCP, é um Governo com a porta aberta para a direita. E declara: “Na CDU não queremos que a direita entre nem pela porta nem pela janela”, por isso, “quanto mais força tiver a CDU, menos força terá a direita”. O público aplaude de pé mas não há direito a encore. O espetáculo prossegue amanhã, quando a CDU vai estar entre Barreiro, Lisboa e Seixal.

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