Fim de uma era. Jerónimo de Sousa abandona a liderança do Partido Comunista e sai também do Parlamento

6 nov 2022, 11:23

Após 18 anos como secretário-geral, Jerónimo de Sousa anunciou, este domingo, a sua substituição no cargo e também a saída da Assembleia da República. “Saio como entrei”, disse, “de consciência tranquila”. Era o único deputado da actual legislatura a ter também feito parte da Assembleia Constituinte de 1975

Jerónimo de Sousa oficializou, este domingo, a sua saída enquanto secretário-geral do PCP e deputado do partido na Assembleia da República. O anúncio foi feito numa conferência de imprensa depois de uma reunião do Comité Central.

“Gostaria aqui de reafirmar de viva voz que, como seguimento de uma avaliação própria resultante de uma reflexão sobre as minhas condições de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que tenho vindo a assumir como secretário-geral do PCP, coloquei a minha substituição nestas funções”, começou por dizer o ainda secretário-geral.

Jerónimo de Sousa, que também confirmou o nome de Paulo Raimundo como sucessor, disse que irá continuar como “membro do Comité Central”, mas que irá deixar a bancada parlamentar. Jerónimo de Sousa é o deputado mais antigo do Parlamento, sendo o único que atualmente em funções que fez também parte da Assembleia Constituinte de 1975.

O líder histórico afirmou que os poucos lugares que o partido tem no Parlamento não lhe permitem ter um representante limitado por questões de saúde. “Não, não vou continuar como deputado. Naturalmente, há aqui uma alteração qualitativa das minhas capacidades. Tendo em conta a dimensão da nossa bancada… Não se compadece com ausências momentâneas”, reconheceu.

E quem o poderá substituir? É uma possibilidade "real e objetiva” que seja Duarte Alves o substituto, afirmou.

Jerónimo de Sousa rejeitou, porém, que a sua saúde tenha sido antecipada pela maioria absoluta do Partido Socialista e voltou a destacar que a decisão foi “tomada por iniciativa própria” devido ao seu estado de saúde, tendo mencionado a cirurgia a que foi sujeito e as “sequelas, que não se compadecem com o calendário de um secretário-geral”.

Jerónimo de Sousa fez uma intervenção cirúrgica devido a uma estenose da carótida em janeiro deste ano, a meio da campanha eleitoral, tendo, na altura, sido substituído por João Oliveira e João Ferreira.

“É evidente que mantive-me com todas as forças que tinha”, disse, mas reconheceu que “a situação exige uma outra solução”.

Jerónimo de Sousa aproveitou ainda para olhar para o seu percurso. “Olhando para trás, confesso que vivi, participei num processo longo, 18 anos, para além do desconto da minha militância, procurei sempre, mas sempre, fazer o melhor que fazia. Não perguntava pelo cartão do partido a quem quer que fosse. Tive sempre esta posição de pensar no que era o melhor para o meu povo”, afirmou.

“Saio como entrei”, disse, “de consciência tranquila”.

O secretário-geral cessante tinha mandato até 2024 e vai ser substituído por Paulo Raimundo, um dos poucos dirigentes que faz parte dos órgãos mais restritos do partido - a Comissão Política e o Secretariado.

Paulo Raimundo e Jerónimo de Sousa, a 28 de abril de 2015 (Manuel de Almeida/LUSA)

Paulo Raimundo, uma “substituição normal e natural”

Jerónimo de Sousa afirmou que o nome de Paulo Raimundo para o seu lugar foi uma sugestão “normal e natural" e que obteve "uma enorme afinidade e coesão na direção do partido”.

"Em relação à solução quero dizer que houve uma ampla convergência, não quero dizer unanimidade porque o rigor dos números nesta matéria é importante, mas uma ampla convergência em relação à solução", afirmou Jerónimo de Sousa. 

“É um camarada de uma geração mais jovem, com um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública com a ligação, contacto e identificação com os trabalhos e as massas populares, com o trabalho do partido, as suas organizações e militantes”, destacou.

O ainda secretário-geral comunista reconheceu que Paulo Raimundo é um nome desconhecido na esfera pública, mas usou o seu próprio percurso como exemplo.

“Paulo Raimundo pode ser desconhecido do grande público, mas queria referir o meu exemplo, quando fui indicado pelo meu partido para secretário-geral havia setores que se interrogavam se eu comia, se eu dançava, qual era o meu nome”, disse Jerónimo de Sousa, recordando um episódio dessa data, quando nem sequer sabiam o seu nome. “O tal Germano”, brincou.

"Quem propõe é um elemento dos organismos executivos. A proposta começou a ser trabalhada no Secretariado, acompanhamento da Comissão Política, pronunciamento da Comissão Política, do Secretariado, reunião conjunta e a proposta do camarada Paulo Raimundo".

“É com confiança que encaramos o futuro, o futuro do partido e da nossa luta”, disse, sem anunciar uma despedida. “Não me vou embora, disse ‘até amanhã’ no Comité Central”.

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