Processo deu entrada num tribunal de Tóquio, onde à porta estavam dezenas de pessoas que apoiavam os queixosos
Seis jovens japoneses moveram um processo contra a operadora responsável pelo reator nuclear de Fukushima. Os queixosos dizem ter desenvolvido cancro na tiróide como consequência do desastre nuclear ocorrido em 2011.
As vítimas, que à altura do desastre tinham entre 6 e 16 anos, afirmam que os cancros foram causados pela exposição à radioatividade, causada pelo derretimento de três dos seis reatores nucleares, que ficaram destruídos na sequência de um forte tsunami.
O representante legal dos queixosos diz que todos foram submetidos a cirurgia para retirarem partes da tiróide, e agora procuram uma compensação na ordem dos 5,4 milhões de dólares (cerca de 4,8 milhões de euros) junto da Tokyo Electric Power Company (Tepco), que coordenava as operações da central à altura. De resto, quatro das pessoas tiveram mesmo de remover a totalidade da tiróide, pelo que necessitam de tomar suplementos hormonais para o resto da vida.
Este é o primeiro processo judicial movido na sequência do desastre em Fukushima. Esta quinta-feira, dezenas de apoiantes dos queixosos juntaram-se no Tribunal Distrital de Tóquio, onde foram entregues os processos.
"Quando me disseram que tinha cancro, foi-me dito claramente que não havia ligação. Lembro-me como me senti na altura", revela uma mulher na casa dos 20 anos, que falou depois de ter sido dada entrada ao processo.
A empresa japonesa confirmou que foi movido um processo judicial, ao qual vai responder quando conhecer melhor os detalhes da queixa: "Expressamos novamente as nossas desculpas por termos causado quaisquer problemas ou preocupações na sociedade, incluindo aos residentes de Fukushima".
A tragédia de Fukushima foi o pior desastre nuclear desde 1986, em Chernobyl. Ainda assim, e apesar de haver um debate sobre as consequências a longo prazo, não foi tão devastador para a população local como aconteceu na Ucrânia, uma vez que a quantidade de iodo radioativo que foi libertada foi consideravelmente menor.
De acordo com um painel de especialistas das Nações Unidas, que realizou um estudo em 2021, o desastre no Japão não causou, pelo menos de forma direta, quaisquer problemas de saúde à população, o que vem corroborar uma ideia já deixada pela Organização Mundial de Saúde, que, em 2013, não observou um aumento nas taxas de cancro verificadas na região.
A contrapor esses estudos, o governo japonês admitiu, em 2018, que um trabalhador morreu na sequência de exposição à radiação, sendo que, na altura, o executivo concordou que a família devia ser indemnizada.
Agora, os seis queixosos que procuram uma indemnização junto da Tepco, alegam que foi a radiação o fator responsável pelos cancros na tiróide, até porque em nenhum dos casos há histórico clínico daquela patologia.
“Alguns dos queixosos tiveram dificuldades em avançar para o ensino superior ou em encontrar trabalho, tendo mesmo desistido dos sonhos que tinham”, afirmou Kenichi Ido, o advogado das vítimas, citado pela agência AFP.
O desastre de Fukushima provocou cerca de 18.500 mortos ou desaparecidos, muitos na sequência do tsunami. Foi pedido a dezenas de milhares de pessoas que deixassem as suas residências, e a cidade tornou-se um fantasma.
Ao longo dos últimos anos, e procurando precaver casos como os que levaram a esta queixa, as autoridades de Fukushima têm realizado testes à tiróide de milhares de pessoas com 18 ou menos anos à altura do desastre. De acordo com a AFP, em junho de 2021 havia 266 casos suspeitos de cancros na tiróide em crianças, sendo certo que o Comité Científico para os Efeitos da Radiação Atómica das Nações Unidas encontraram uma relação entre a radiação e o aparecimento de cancros da tiróide em menores.